quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Mother

 Laço Materno é um filme dedicado a afirmar que a personagem Akiko é a pior mãe do mundo. Negligente com o filho Shuhei, agressiva com a família que se afasta por não suportar mais o seu vicio em jogos e vadiagens, ela tem poucos momentos para vingar em lucidez. O seu papel é sempre o da irresponsabilidade maternal, o da negação perante uma sociedade que trabalha, tem direitos e deveres, o da marginalidade e o da insensibilidade. E Shuhei é o menino que resolve, que sobrevive sozinho, que é adulto sem poder ser criança. No entanto, o foco do filme não é Shuhei, mas sim a sua mãe. Se o foco estivesse na evolução de Shuhei, estaria tudo muito bem. Mas não. O foco é sempre a mãe, camuflada em perfeita vilã. E aqui o filme estrangula-se a si próprio. Porque a personagem é e será sempre massacrada em espiral como a principal malvada mas não apresenta resolução nem explicação para tal. Nem uma simples oportunidade para a própria vilã respirar. E o laço que tanto se quer explorar acaba por matar o núcleo destas personagens que vivem sempre num beco sem saída. E a nós, espetadores, é-nos apresentado um núcleo de personagens forte e interessante para depois se esfumar em leituras circulares, supérfluas e preguiçosas.


terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Diecisiete

 

Dezessete é um esplêndido filme espanhol que nos oferece uma historia sofrida e cuidadosamente dramática, repleta de mensagens honestas e inspiradores e com atuações brilhantes. O filme acompanha a vida de Hector, um adolescente de quinze anos que está num centro de detenção e reintegração juvenil por ter cometido diversos crimes, incluindo invasão e roubo. Hector é vitima da sua própria vida: criado longe dos pais e subestimado pelo irmão mais velho, Ama desesperadamente a sua avó, que se encontra em estado terminal- todos os pequenos delitos que comete é para manter o bem estar dela sem nunca pensar nas consequências. Solitário e introspetivo, tem como únicos amigos um livro de Código Penal (que sabe de cor) e um cão (com quem interage no centro de detenção). Entretanto, quando o cão 'desaparece' do centro, Hector decide fugir, resgatar o seu amigo e voltar para junto da sua avó. Inesperadamente, o seu irmão ajuda-o nessas missões às quais se propõe, e através daqui reinicia-se uma aproximação entre ambos e o reencontro com o amor que os bafejou na infância. A interação humano-animal é uma constante no filme e os caës com os quais Hector se cruza marcarão sempre os seus passos e evolução enquanto pessoa. Dificilmente ficaremos indiferentes a este filme se formos amantes de animais. Biel Montoro (Hector) e Nacho Sánchez (Ismael) são excelentes atores e o roteiro é tão criativo quanto engenhoso. Em nenhum momento o filme nos cansa ou exagera: o enredo e as atuações equilibram muito bem as emoções e toda a carga dramática. Dezessete é uma jornada de três dias em que ambas as personagens aprendem, evoluem e amam. E naturalmente perdoam a vida pelo azedume do passado que lhes dificulta o presente. O filme não é drama cliché, é um relato sólido da vida que suspira eternamente por felicidade mesmo quando tudo é adversidade.

domingo, 27 de dezembro de 2020

Viver Duas Vezes

 Viver Duas Vezes é um filme espanhol dramático com algumas nuances de comédia para aligeirar o peso da temática em questão. A temática é portanto a doença de Alzheimer que começa a afetar a vida de um professor universitário de Matemática e o seu pequeno núcleo familiar. À medida que a doença se torna uma dura realidade, este professor decide ir atrás do seu primeiro grande amor, com receio de esquecer tudo o que viveu. Para tal, contará com a ajuda da sua filha, genro e neta. A naturalidade é a chave deste filme: os atores atuam de forma simples e genuína e exploram as suas personagens com carisma, tentando fazer da imperfeição o motor para a normalidade das suas vidas. Destaque para a relação entre duas personagens: o avô e a neta- entre 'arranhadelas' e confusões próprias da diferença de geração, o amor puro e fiel mantêm-os unidos, sem necessitar dos melodramas comuns do cinema.  Mas o que realmente importa aqui é a abordagem ao Alzheimer. Estamos perante um filme bonito, engraçado, dramático, real e muito pouco prepotente. 

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Desenhos animados em dia de Natal:

 

(A continuação das aventuras de Po, agora o Dragão Guerreiro, e os cinco furiosos, contém as mesmas características que fizeram do original um sucesso: piadas irreverentes em torno de um panda lutador de  Kung Fu, sequências de lutas emparelhadas com a banda sonora do filme, e efeitos visuais 3D nas cenas de ação (uma dádiva do Kung Fu Panda 2 dada pelo avanço tecnológico da computação gráfica).

(Filme que nos apresenta uma comunidade de Yeti (mais conhecidos por Pé-Grande) que habita no topo de uma grande montanha, acima das nuvens. Certo dia um dos membros desta comunidade, tropeça num piloto acabado de se despenhar de um avião. E é quando vê o seu pé que percebe que está perante o Pé-Pequeno, que até aquele momento era apenas um mito. Decide então ir em busca de todos os pés pequenos do mundo para provar que tal facto não é mito mas sim realidade. E começa assim uma grande aventura entre Yeti e Humanos. A ideia do filme é bastante simples e resulta: inverter os maus da fita, ou seja, os Yeti não säo assim tão assustadores e os humanos conseguem-no ser bastante. Os momentos musicais säo exagerados e extensos mas e entretenimento familiar é garantido).


quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

The King

The King é uma adaptação de várias peças de Shakespeare que contam a história do rei Henrique V de Inglaterra que herda o reino após a morte de seu pai, o rei Henrique IV,  durante a Guerra dos Cem Anos entre ingleses e franceses. A fotografia e direção de arte são duas peças fundamentais neste filme que pretende ser um épico de guerra, embora várias vezes tombe para o drama histórico. A história é rica em detalhes e foca-se integralmente na relação hostil de Henrique V e seu pai e na sua inexperiência como futuro rei. O maior erro deste filme, a meu ver, é a infidelidade para com a verdade histórica em detrimento de acontecimentos fantásticos, talvez por seguir muito a linha de peças teatrais. Destacam-se dois atores com atuações magníficas: Sean Harris e  Robert Pattinson. Para os amantes de épicos de guerra, The King é uma narrativa confortável mas peca pelo excesso de violência, por subestimar factos históricos e por uma  cenografia escura e amorfa. 

sábado, 14 de novembro de 2020

"Hold-up"

 Imagens impactantes, convidados/intervenientes prestigiados, entrevistas em fundo negro, música cativante ... e temos reunidos todos os ingredientes do documentário Hold-Up, que tem agitado opiniões e redes sociais desde o seu lançamento no dia 11 de novembro. É um documentário com pretensões de ser testemunho jornalístico mas para mim não deixa de ser um filme mesclado de alguma realidade e muita ficção cientifica. Construído com habilidade, verdade seja dita, Hold-Up responde ao que se propõe: convencer. Para isso, há uma construção extraordinária de testemunhos convincentes com as mais variadas teses de conspiração. 


A temática não poderia ser mais atual: a epidemia de Covid-19 e a sua gestão por parte das autoridades. Numa primeira parte, todas as críticas e duvidas sobre as ações governamentais säo plausíveis e bem discutidas. A origem do Sars-CoV-2 ainda não está explicada e a gestão governamental desta epidemia levanta muitas críticas e interrogações válidas por parte da população. No entanto, o filme critica, critica, critica e não dà alguma resposta ou resolução. Fácil é falar quando nada se tem a propor, não é?" 

Os entrevistados foram escolhidos a conta, peso e medida: ex-pesquisador do Inserm, ex-Prémio Nobel de Física ou até um ex-Ministro da Saúde. Tudo a contribuir para seriedade do que se defende, embora, convém não esquecer que todas estas personalidades säo também contraditórias e foram alvo de algumas difamações. Logo, têm algo a resolver com uma gestão política que em algum dado momento os prejudicou.  Os cientistas apresentados no filme justificam a sua presença não só pelo trabalho ate então realizado mas também pela posição que defendem: säo contra o consenso cientifico em prol de uma liberdade de expressão individual atacada e aniquilada. E apontam os seus colegas como seres mentirosos. Apontar o dedo a alguém faz de nós mais verdadeiros? Em vez de apresentarem provas concretas de uma suposta manipulação política que pretendem denunciar, os entrevistados baseiam-se em afirmações não provadas nem sequer comprovadas.  Apelam única e exclusivamente ao lado emocional do espetador e eu só posso avaliar o filme como sensacionalista. Contudo a construção deste filme, em sistema retórico com um acumular em camadas de todos os argumentos é genial, já que leva muito tempo aos críticos de dissecar toda a informação e construir uma analise fidedigna. O que permite ao filme enraizar-se e ganhar terreno junto da sociedade. Até porque existe sempre alguma verdade ali pelo meio. Uma mistura de falsidade e realidade que torna tudo mais difícil de descortinar. 

A segunda parte do filme é realmente o descarrilar pleno na ficção cientifica e tudo o que é teoria da conspiração. Uma mistura de teses antigas desenvolvidas ao longo dos tempos que culminam no que vivemos hoje. Enigmas que há muito nos fascinam e que tentamos resolver. E o espetador é encaminhado minuciosamente a acreditar em ideias cada vez mais radicais. Por fascínio, por medo e por falta de respostas. Mais uma vez, o sistema de retórica seduz e retém quem assiste. Para mim, é quase tudo um mar de noticias falsas, onde pouco ou nada se pode provar.


quarta-feira, 11 de novembro de 2020

A Plataforma

 A Plataforma, de Galder Gaztelu-Urrutia, é a imagem perfeita do caos em que vivemos.

A poposta é muito simples: uma prisão vertical em mecanismo rotativo em que a única fonte de alimento é uma plataforma repleta de comida que parte todos os dias do topo até à base.  A condição humana é posta à prova: os que se encontram nos níveis superiores da prisão alimentam-se como reis, embebidos pela gula. As sobras vão descendo à medida que a plataforma desce também, e quanto mais abaixo nos encontramos, menos comemos. Ninguém sabe quantos pisos existem, nem quantas pessoas ali estão, mas percebe-se que se houver um racionamento de comida, todas as pessoas consumiriam o necessário para poderem sobreviver. Mas esta é a utopia residente na película. No início conhecemos Goreng (Iván Massagué), um prisioneiro que acaba de chegar, por vontade própria. Conhecemos ainda Trimagasi (Zorion Eguileor), o seu experiente companheiro de cela, impaciente por liberdade.

É através de Goreng que conhecemos o cenário assustador de todo este mecanismo prisional e testemunhamos a desumanização ali presente.  O pròprio Goreng, prisioneiro por vontade própria, sofre uma mudança de mentalidade que aos poucos e poucos testa o limite da sua humanidade. Impedido de agir em grupo para restaurar alguma dignidade aquele espaço, decide agir sozinho e ser obviamente vitima da sua insanidade.

Graficamente, nâo é filme que se veja de ânimo leve. Mas creio que o estômago quer-se leve ou mesmo vazio. A violência gráfica é uma constante e a fotografia uma mais valia.

A Plataforma pode muito bem ser o retrato da nossa sociedade altruísta, individualista e egoísta. Como sobreviver e prosperar no meio de tanta violência? O fim pode ser surpreendente mal amado. Mas estamos perante uma verdadeira distopia e o desconforto é o objetivo a alcançar para o espetador. 

Direção de fotografia primorosa e um desempenho fenomenal do elenco. É notável a qualidade técnica duma produção tão modesta.

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Lorax

 

O filme Lorax é uma obra do conhecido Theodor Seuss Geisel, Dr. Seuss, autor de inúmeros contos infantis. As suas obras são conhecidas pelo uso do exagero como catarse e pelas personagens coloridas e alegres. O filme passa-se em uma cidade chamada Thneedville, onde não existem árvores de verdade, pois estas foram completamente destruídas, e consequentemente o ar que respiram é artificial e comercializado pela empresa O’hare. Tudo nesta cidade é fabricado com plásticos :  desde as árvores aos alimentos. 

Ted, um jovem rapaz apaixonado por Audrey, descobre que o desejo da sua amada é ter uma árvore de verdade. Para demonstrar todo o seu amor, Ted viola todas as regras da cidade para tentar encontrar árvores a sério. A avó é sua aliada nas mais diversas aventuras que lhe permitirão descobrir o porquê de não haver árvores na cidade e mudar o rumo dos acontecimentos ao plantar a primeira árvore real no centro da cidade.

Com um enredo simples e de fácil compreensão, o filme Lorax agrada certamente às crianças pelo seu cenário colorido e repleto de criaturas mágicas. Agradará também aos adultos pela moral da história, que demonstra a importância da natureza para os seres humanos como pertencentes ao meio ambiente. Um filme sem grandes ambições e que aposta na consciencialização e defesa da preservação da natureza. 

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

The Purge


O filme passa-se em 2022, altura em que os Estados Unidos foram "reagrupados" após vários anos em que a pobreza e a violência invadiram descontroladamente o país. Agora, anualmente, acontece a purgação: 12 horas em que qualquer cidadão do país pode cometer crimes sem ser condenado. Esta medida diminui a violência anual e ajuda na recuperação económica do país: os ricos usam este dia para chacinar as minorias (pobres, inválidos) que interferem no atraso do país. O argumento tem umas quantas falhas que tornam este cenário sempre fictício.  Nomeadamente na esfera económica: é impossível criar uma sociedade rica numa plataforma de equilíbrio e igualdade ao aniquilar a pobreza. Riqueza e pobreza justificam-se e criam-se uma à outra. No entanto, há no argumento um apelo lógico e consciente: onde se esconde a solidariedade humana quando a humanidade se perde? Repleto de inúmeros clichés dos filmes de terror, o filme desperdiça uma boa meia hora em narrações funcionais e banais, para depois cair vertiginosamente no ritmo agressivo e assustador que o espetador antevê desde o início. Previsível, todo este terror.


terça-feira, 27 de outubro de 2020

Il était une fois à Monaco


Rayane Bensetti e Anne Serra formam um bonito par romântico e completamente inofensivo (porque nada nos prende, nos aniquila e nos perturba)  nesta comédia de um qualquer 'domingo à tarde'. O filme é um perfeito e animado cartão postal da cidade do Mónaco.
O resto é só conversa. Conversa que poucos querem ouvir. Por sorte, é de rápida visualisaçäo e de esquecimento veloz.

sábado, 24 de outubro de 2020

100 Metros

 

O filme 100 Metros conta a história de Ramón (Dani Rovira), executivo numa empresa de marketing e publicidade que descobre sofrer de esclerose múltipla. A partir de então ele estabelece como meta disputar uma prova de triatlo, ao mesmo tempo em que aceita, luta, supera e se depara com todas as dificuldades provocadas pela doença. E nós, público, testemunhamos todos os desafios fracassados e superados por Ramón. Dani Roriva, o Ramón,  desempenha bem o seu papel de vitima desta doença, mas para mim é Karra Elajalde, o Manolo do filme,  que brilha como sogro insuportável, antipático e bruto. O filme é uma abordagem digna e sincera da luta de todos os doentes que sofrem de esclerose múltipla. O resultado é portanto comovente- um retrato de persistência, adaptação, mudança, aceitação e resiliência.

domingo, 18 de outubro de 2020

The Last Shaman

 

Um documentário verdadeiro ou meia verdade meia ficção? É a duvida com que fico. Um jovem americano mergulhado numa profunda depressão decide viajar até ao Peru para encontrar a cura nos xamãs e na Ayahuasca- uma preparação alucinogénia feita de plantas selvagens. O documentário acompanha-o nas suas peregrinações e jornadas, intercalando imagens dos seus dias com imagens dos seus pais, angustiados e preocupados, à espera do seu regresso. Resumindo: não nos iludamos se quisermos descobrir o Peru. Do Peru só teremos as imagens.
James Freeman, o protagonista,  conhece vários xamãs que o encaminham em transes rituais e outras receitas que o debilitam fisicamente, numa giratória constante de emagrecimento e vómitos.  É clara a necessidade do afastamento da vida e rotina ocidental, o isolamento de tudo e de todos e a descoberta de um mundo indígena que se rege pelas leis da natureza. Mas também é clara a tendência do documentário em exagerar. Tanto que muitas das vezes soa tudo a falso. Atrevo-me portanto a duvidar da veracidade do documentário. E a lamentar o uso erróneo da cultura de um
país da América latina em prol de uma busca terapêutica para um mal estar tipicamente ocidental.


sábado, 26 de setembro de 2020

Open season

 

Open season é uma animação da Sony de 2016, logo é uma produção tenrinha destes estúdios, que se lançaram há somente alguns anos nesta aventura de produzir animações. É uma produção divertida mas que peca pelo argumento pobre e repetitivo: mesmo com uma mensagem em tons ecológicos, o que é sempre de valorizar, tudo o resto é cansativo de tanto que é reincidente. São mesmo poucas as animações que nos surpreendem pela inovação ao evitarem cair naquele emaranhado de uma amizade em grupo e de todos os valores a considerar no ato de partilhar.  O sentido de humor também é formula já antes vista, imperdoável portanto, porque os diretores do filme säo pessoas com bastante currículo 'nestas andanças'. Exigia-se mais. E até mesmo o argumento ficou a cargo de profissionais vindos da Disney. Exigia-se muito mais. Mas a historia do urso domesticado por uma guarda florestal que vai aprender a viver na floresta e a lidar com a vida selvagem fará certamente as delicias de toda a criançada. Mas era preciso muito mais. 

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

My Octopus Teacher

 Esta é uma daquelas reportagens ao estilo BBC Vida Selvagem com um grande nível de produção e que nos mostra a relação de proximidade entre um polvo e o mergulhador Craig Foster. São utilizados diversos operadores de câmara, diversas lentes, drones e tudo o mais para se conseguir acompanhar os movimentos deste molusco no fundo do mar. E podemos desfrutar assim de diversas imagens cheias de cor, ritmo, volume e textura, da natureza subaquática. Há deliberadamente aqui uma mensagem ecológica que chega a sobrevalorizar os animais aquáticos em relação aos humanos e à nossa civilização egoísta e deteriorada.  No entanto, este documentário aos olhos de uma  obra cinematográfica, fica aquém do esperado: é muito pobre em diálogos, a maior parte das imagens säo em câmara lenta e a banda sonora abusa na tentativa de criar um sentimentalismo exagerado. O filme inteiro é narrado por Craig Foster, durante uma única entrevista, sentado, e que vai explicando as imagens que vão aparecendo. É como se o narrador tivesse plena necessidade de intitular tudo o que sê vê e que o publico poderia bem ver por si mesmo. Portanto, é como se fossemos pouco dotados de conhecimentos e precisássemos o tempo todo de alguém que nos simplifique as coisas. Quanto à verdadeira temática explorada- a relação de proximidade entre o mergulhador e o polvo,- o valor e amplitude afetiva entre o ser humano e o molusco é de uma tendência obsessiva. Nós não conhecemos o mergulhador no seu dia a dia, não conseguimos sequer traçar a sua personalidade, mas diante do que vemos, estamos perante alguém com um comportamento obsessivo, transmitindo uma proximidade perturbadora com o molusco, muito para além da simples admiração pela natureza e o mundo animal. Foster chega mesmo a atribuir sentimentos e atitudes humanas ao polvo, humanizando-o, tamanha é a sua paixão pelo molusco. Fiquemo-nos então com as impressionantes imagens deste documentário em todo o seu esplendor como reportagem. Porque tudo o resto, é digno de uma fábula medíocre ou um qualquer filme de autoajuda em que Foster decide evoluir como ser humano e pai depois de muito se impressionar com a rotina e a forma de estar deste molusco. A mensagem ecológica cai para segundo plano em detrimento da humanização desnecessária do polvo.

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

IO

Filme dirigido por Jonathan Helpert e que retrata o planeta Terra em completo abandono, após a poluição chegar a níveis catastróficos. Este acontecimento obriga a população existente a encontrar formas de sobreviver fora do planeta Terra- é criada a Operação Exôdo, onde são enviadas naves com habitantes da Terra para uma colônia em IO, uma das luas de Júpiter. Neste cenário, a cientista Sam Walden (Margaret Qualley) decide ficar na Terra para tentar provar que as teorias de seu pai estariam certas, e que é possível adaptarmo-nos às mudanças e sobreviver. Vivendo numa espécie de laboratório, Sam consegue produzir a sua própria comida e trabalhar nas suas pesquisas, além de interessar-se por arte, filosofia, e comunicar-se por e-mail com seu namorado Ellon, que foi enviado para IO. A rotina de Sam muda quando uma tempestade destrói toda sua pesquisa científica, e Ellon envia-lhe um e-mail onde a informa que a última nave partirá para IO em poucos dias e que não haverá retorno à Terra. Sam decide então partir, mas antes é surpreendida pela chegada de Micah (Anthony Mackie), que viaja num balão de gás hélio até ao laboratório, esperando encontrar o pai de Sam e reforçar a sua crença de que a Terra ainda pode ser um planeta habitável. IO é um filme com apenas três atores, poucos cenários e muitos efeitos especiais. O filme vive dos diálogos entre as personagens e tem muito pouco ou quase nada de ação. Mas precisava de diálogos mais profundos e mais ricos para alcançar o devido sucesso. Porque tudo nos é longínquo e ausente e nada do que façam as personagens chega a ser desafiante ou interessante. O objetivo de IO até é de grande nobreza: apelar à consciência humana sobre os danos causados pela poluição e alertar para as possíveis consequências da degradação do planeta. Esta temática não é sentida de forma explícita, mas subentende-se durante todo o enredo e permite que cada um de nós tire as suas próprias elações.  IO não faz parte das superproduções de filmes de ficção cientifica. Não vive do espetáculo visual e da pura fantasia. Io faz parte dos filmes reflexivos e intrigantes. Vive de uma história coerente que reflete a solidão e a esperança. Mas falta-lhe coerência e profundidade para não ser o que é: frágil e por vezes enfadonho.  

quinta-feira, 30 de julho de 2020

O Silenciosa da Cidade Branca

Roteiro de Daniel Calparsoro que escreve este suspense, inspirado na primeira parte da Trilogia da Cidade Branca, da Eva García- este é um popular livro espanhol, onde nos é apresentado um serial killer que aterroriza uma cidade há mais de vinte anos. O suspense do filme inicia-se logo quando dois corpos de jovens de vinte anos são encontrados nus na cripta de uma Catedral. O detetive especialista, Unai é então chamado para iniciar uma captura ao assassino, que fez um ritual que parece uma cópia do que já teria acontecido no passado. Então uma série de crimes começam a acontecer e a investigação criminal atropela-se a si própria perante tantas dúvidas e mistérios. O filme meio é quase que uma 'versão espanhola' do filme Hannibal. A fotografia, de luzes frias, esteticamente funciona bem, e consegue criar a esfera de  suspense que o filme precisa. As paisagens filmadas acompanham o ritmo de cenário de perseguição que o filme precisa. O clima é tenso e angustiante mas não se livra de alguns clichês do género e há 'aqui e ali' alguns cortes bruscos difíceis de compreender. O Silenciosa da Cidade Branca não é um filme excelente mas responde às expectativas de um suspense que faz o trabalho dele. Nem mais nem menos.  


terça-feira, 28 de julho de 2020

THE OLD GUARD

Um filme centrado na atriz Charlize Theron e num profundo impacto visual: é isto. Um filme desprovido de complexidade e originalidade em todo o guião: imortais há centenas de anos, os quatro personagens principais participam em missões ultra secretas para salvar pessoas em perigo, que futuramente mudarão o rumo do mundo. The Old Guard acaba assim por ver a sua essência reduzida a uma série de batalhas e lutas desencadeadas por quatro seres sobrenaturais, dos quais não se sabe as origens e muito pouco dos seus percursos. Tal facto, expõe o filme a uma ausência total de dinamismo e a uma maré cheia de superficialidade. Estamos perante um exemplo de cinema de ação que erra ao não aprofundar melhor o roteiro e seus argumentos, e que subestima o enredo em detrimento do espetáculo visual.  Depois, é tudo demasiado supérfluo, tudo demasiado apressado. 


domingo, 12 de abril de 2020

Milagre na Cela 7

Filme altamente promovido por tudo e todos. Decidi 'tirar' a minha tarde de domingo de Pascoa para o ver. E hoje poder avaliar. Então: O Milagre na Cela 7 é um filme turco da Netflix,  um remake de uma produção coreana com o mesmo nome. O drama (e que drama, diga-se) conta a história de Memo (Aras Bulut Iynemli), um pai solteiro com deficiência intelectual que vive numa pequena aldeia da Turquia com a filha, Ova (Nisa Sofiya Aksongur) e a avó, Fatma (Celile Toyon Uysal). Muito simpático e afável, Memo é conhecido por todos os habitantes, que sabem das suas limitações e interagem com ele e com elas. A filha, Ova, ama o pai com todas as suas forças, compreende a diferença dele perante outros pais mas sofre um bocadinho quando confrontada com comentários menos simpáticos. A vida de ambos muda quando Memo se envolve no acidente que mata a filha de um importante tenente do exército turco (Yurdaer Okur). Inundado de raiva, o tenente ordena a captura Memo e pretende executá-lo dando a ordem de pena de morte. Já sabemos que a história não é um original, mas apresenta mudanças no roteiro em relação ao original coreano. Contudo, tais mudanças não diminuem em nada o seu impacto narrativo. Filme carregado de muita sensibilidade, natural e sem exageros, conseguida por este novo roteiro turco e pela excelente fotografia. O trabalho de Iynemli também a isso permite- é uma atuação exuberante. E depois, a relaçao de Memo com a filha, preenchem o filme de grandes e bons momentos. Assim, desde o momento em que é preso, a sua historia e carácter envolvem todos os seus companheiros de cela, que aos poucos vão descobrindo a pureza, ingenuidade e inocência de Memo. Aksongur e sua interpretação humanizam todos os personagens, numa leveza que explora aspetos religiosos, fé, crença, culpa e moral social e espiritual.  A maldade é quebrada aos poucos pela bondade; a dureza acanha-se em comoção; a mágoa transforma-e em cura. E é isto. Em Milagre na Cela 7, nós choramos com todas estas sequencias. Sentimos a dor, a tristeza e a ansiedade dos personagens. Sentimos o seu alivio. As suas alegrias. E refletimos de coração cheio sobre a sensibilidade presente no lado bom do ser humano e em cada um de nós. 

terça-feira, 7 de abril de 2020

One of Us

O documentário One of Us é sobre o judaísmo ultra ortodoxo e suas comunidades que escolhem viver de forma secular.  Dirigido por Heidi Ewing e Rachel Grady, o filme  foi filmado ao longo de três anos, e acompanha o percurso de três jovens dissidentes da ortodoxia, Ari, Etty e Luzer, numa tentativa de encontrar um lugar na sociedade moderna norte-americana. O documentário é testemunho de varias tentativas de humilhação e condenação por parte dos familiares destes três jovens, numa clara ação de ostracismo de toda a comunidade chassídica, da qual eles se desvinculam.
O documentário é o relato de um longo processo caracterizado pelo luto, a perda, a solidão, conflitos identitários, extrema pobreza e as dificuldades para aprender os códigos de uma sociedade moderna.Tudo é a expressão dos problemas de ex-ortodoxos para adquirirem as ferramentas necessárias e sobreviverem fora da comunidade chassídica. Educados no gueto ortodoxo, fechados entre si e sem o mínimo contacto com outras formas de vida e estar, as comunidades chassídicas representadas em One of Us, não possuem sequer conhecimentos de geografia, matemática, história, contabilidade e física, o que, em conjunto com a falta de habito em trabalhar, complica severamente a adaptação dessas pessoas ao modo de vida pelo qual anseiam.
One of Us apresenta-nos um lado da ortodoxia quase desconhecido e o fenómeno da deserção religiosa no judaísmo (que tem crescido significativamente nos últimos anos). A crueldade de grupos fundamentalistas que 'fazem de tudo' para evitar e punir quem pretende afastar-se da comunidade é uma realidade bem patente. Este documentário é uma grande oportunidade para descobrir e aprofundar conhecimentos sobre as comunidades chassídicas.

sábado, 4 de abril de 2020

Teatro em Casa- teatro Aberto



Uma excelente iniciativa do teatro Aberto ao transmitir peças de teatro online e gratuitas, no site e nas redes sociais desta casa de artes.

sábado, 28 de março de 2020

'Dona Maria II em casa'





Uma excelente iniciativa do teatro Nacional Dona Maria II ao transmitir peças de teatro online e gratuitas, no site e nas redes sociais desta casa de artes.

terça-feira, 24 de março de 2020

Bienvenue à Marly-Gomont


Filme baseado na infância do rapper francês Kamini, que pode muito bem ser definido como uma comédia dramática sobre as dificuldades do seu pai, – um zairense formado em Medicina em França – médico de uma aldeia da Picardia nos anos 70.
Kamini, a irmã e a mãe vivem bastante bem em Kinshasa, no Zaire (atual Congo), mas sonham com a Europa e viver em Paris. Quando Seyolo, o pai de Kamini,  termina o curso de medicina, faz de tudo para obter a nacionalidade francesa e evitar voltar ao seu país onde reina uma política de corrupção e instabilidade. Assim, aceita a oferta de trabalhar numa aldeia perdida no norte de França e recusa uma vida de luxo no seu país trabalhando como medico pessoal do ditador Mobutu. 
Contudo, depressa o sonho europeu se torna em pesadelo, pois chegados à pequena aldeia, vão enfrentar uma serie de dificuldades. Os habitantes, que nunca viram um negro, mostram-se resistentes e pouco afáveis, não o procurando quando têm problemas de saúde e preferindo ir a outro medico numa outra localidade. São assim explorados temas como a interioridade, o racismo, e a ambição de quem é estrangeiro e chega a um outro país para 'tentar a sua sorte'.
Não estamos perante uma grande obra do cinema, é verdade. As situações cómicas são demasiado repetitivas e tendem a tombar numa caricatura exagerada das personagens. Perde-se uma grande oportunidade de criar um filme de reflexão sobre a interioridade e a aceitação de estrangeiros num novo país e sociedade.
De destacar a prestação de Aïssa Maïga e Marc Zinga. O filme é basicamente deles.


quarta-feira, 11 de março de 2020

1917

 Duas horas para contar a missão de dois oficiais britânicos em campo inimigo, durante a primeira guerra mundial, encarregados de entregar uma carta na linha de frente que salvará milhares de vidas. 1917 é isto. Apoiado numa narrativa simples e de linguagem básica, este filme de guerra é quase excecional no que toca à forma com as cenas de ação foram filmadas. Há uma transição constante de imagens entre o que o espetador vê e o que as próprias personagens veem. E as personagens são meros adereços que o realizador utiliza a seu belo prazer, como se de um jogo de vídeo se tratasse, para completarem com sucesso a missão à qual se propõe. E estes aspetos desumanizam as personagens e conferem-lhes um vazio sentimental somente reajustado pela ação maquinal das mesmas. Mendes, o realizador, cria assim um filme sobre a primeira guerra mundial que não prestigia os heróis, não desprestigia os inimigos, não é fiel à memoria dos intervenientes e não cria qualquer empatia com os mesmo. Contudo, se o roteiro fica aquém do esperado, todas as técnicas de direção, fotografia e imagem são bastante harmoniosas. A capacidade da direção de fotografia de Roger Deakins é algo quase inacreditável: o espetáculo visual de luzes, sombras e cores é  hipnotizante. É nesse ponto, inclusive, que também se destaca com mais intensidade a música de Thomas Newman.
1917 é um filme de guerra que desconstrói o próprio conflito ao alienar-se dele para se focar na vontade de viver ao celebrar a obsessividade do sucesso da missão.

terça-feira, 10 de março de 2020

The Mountain Between Us

 The Mountain Between Us é uma adaptação do romance de Charles Martin. É uma história de sobrevivência após um acidente de avião: um cirurgião (Idris Elba) e uma jornalista (Kate Winslet) ficam retidos numa região montanhosa por alguns dias. Entre as superações das dificuldades de cada dia, nasce uma ténue historia de amor- do desespero ao conforto, da necessidade à entreajuda e do medo à coragem, estes dois seres humanos limitam-se a sobreviver numa realidade onde as duas vidas passadas de ambos sâo meras recordações. Contudo e apesar do filme ser fiel a toda uma paisagem onde o drama possa ser bem compreendido- amplitude fotográfica da imensidão da natureza face a dois sobreviventes frágeis e bem pequenos para tanta grandeza natural,- o roteiro é uma praga de clichés de filmes que falam de sobrevivência. 
A desgraça é sempre exagerada e as soluções encontradas para continuarem vivos vão perdendo intensidade à medida que roçam a repetibilidade e o déjà-vue. A historia de amor acaba por ser a ultima oportunidade do próprio filme para se salvar a si mesmo. Oportunidade fracassada, diga-se. Os dois atores salvam o que podem com as suas consistentes representações. Mas não chega. O roteiro faz deste romance algo maquinal e desengonçado. Longe de ser um filme perfeito no género de 'historias de sobrevivência e superação', requer muita boa vontade do espetador para justificar o esforço em vê-lo.


domingo, 8 de março de 2020

Meu amigo Totoro

 Hayao Miyazaki realizou um dos seus filmes mais conhecidos- Meu Amigo Totoro- em 1988, e desde então o melhor amigo da protagonista- uma figura mágica e imaginária- é a mascote do famoso Studio Ghibli.
No enredo, Mei é uma menina solitária que vive com a irmã mais nova e o pai, professor universitário, que trabalha muito e passa a maior parte do tempo fora de casa. A mãe està hospitalizada e ela visita-a de vez em quando. O resto do tempo é dividido entre a escola e o seu mundo imaginário- nele ela cria uma relação de amizade com um espírito da floresta chamado Totoro. Aos poucos e poucos, ela deixa a irmã mais nova partilhar deste seu mundo imaginário e integra-a na convivência com esta criatura mágica.
O filme é uma fábula sobre a solidão das crianças perante a incompreensão dos adultos e sobre os medos infantis para encarar a realidade. Totoro é a representação da felicidade, inocência e desejos infantis. A amizade entre Totoro e as irmãs é das historias mais bonitas contadas em cinema de animação.  Miyazaki é brilhante ao orientar a história no sentido natural do ciclo da vida quando surgem momentos de confronto entre tristeza e sofrimento. Miyazaki conta-nos de forma simples, didática e bonita o amadurecimento das crianças que rapidamente se tornam jovens adolescentes.  
Os cenários são bucólicos, um verdadeiro hino à natureza. E a visão infantil tão bem trabalhada torna este filme um dos melhores de Miyazaki: um clássico e uma obra-prima em técnica, qualidade e sensibilidade em grau elevado.

sexta-feira, 6 de março de 2020

Parasitas


Bong Joon Ho é o realizador da crítica e sátira social aliadas à comédia cruel e à violência que permitem uma abordagem direta sobre a influência da sociedade nos indivíduos. Em Parasita, filme vencedor da Palma de Ouro em Cannes e do Oscar, o cineasta reafirma esses elementos  e mostra uma grande maturidade ao dirigir um filme extenso com ritmo relativamente lento— por  ser de índice reflexivo na forma como constrói o drama central. Duas famílias são o foco deste enredo: Os Kim, família pobre que mal possui dinheiro para comer e os Park, família muito rica que contrata o jovem Ki-woo como tutor de inglês da filha mais velha. é evidente a diferença entre as classes sociais presentes que expõem a dicotomia abismal existente entre a Coreia do Sul pobre e periférica e a Coreia do Sul rica e abastada. Este abismo social, embora seja compreendido como uma critica social e política, é muito mais uma verdadeira exposição reflexiva sobre como a origem social marca o futuro das pessoas. E perante as adversidades de uma vida nem todo o oportunismo é necessariamente maldoso e nem toda a piedade é necessariamente bondosa. 
A historia alimenta-se de uma serie de crimes cometidos pela família pobre numa tentativa de ganhar dinheiro fácil e garantir a ascençäo social e a salvação financeira. O contraste entre as duas classes sociais é visto no tamanho das casas e nas cores e fotografia escolhidas: quando vemos os Kim em seu ambiente familiar, temos ambientes mais escuros, semi-nocturnos, sempre com planos que indicam locais apertados, onde estes indivíduos se comportam como qualquer praga de insetos ou parasitas. Quando vemos os Park, vemos um ambiente mais convidativo com bastante iluminação e em diferentes tonalidades. Os indivíduos são pequenos para espaços tão amplos que os engolem na sua dimensão. Eles próprios, embrenhados na sua riqueza e património, mostram uma ingénua ignorância por tudo o que os rodeia. E a invasão do seu próprio mundo é um perfeito e rápido plano de parasitação. O realizador serve-se de diálogos engenhosos e naturais e apoia-se em atuações excecionais de todo o elenco para conseguir erguer uma jornada cativante de escalada social. 
E por fim, há um choque frontal com todo o drama. Numa questão de segundos, o realizador faz com que a escalada social seja um inferno em queda livre, e nós, estamos mal preparados para uma serie de modificações e movimentações de todas as personagens. E a falta de preparação é propositada. De repente chocam-se núcleos pela disputa de poder e emergem sentimentos de vingança- os que nada têm revoltam-se com a esmola conseguida e os que têm tudo revoltam-se com a esmola dada e pouco apreciada. O final é frio e impiedoso. Sem compaixão. O sonho continua a mover o dia a dia de todas as classes sociais mesmo que o destino esteja já e profundamente marcado pelo lugar em que nascemos. E ao fim ao cabo somos todos parasitas: uns com mais e outros com menos.

quinta-feira, 5 de março de 2020

Frozen II O Reino do Gelo

 Em “Frozen II: O Reino do Gelo” Elsa está mais sossegada, tendo aceite os seus poderes, dos quais o primeiro filme não explica a origem, e tenta pouco a pouco conviver com o seu lado misterioso. Contudo, e apesar da aparente tranquilidade e felicidade de que dispõe, algo continua por resolver dentro de si. Faltam as respostas ausentes no primeiro filme. Faltam explicações que esta continuação da história se encarregará de dar. E ao partir numa jornada infinita para dar resposta à origem dos seus poderes cria-se uma segunda parte muito mais épica e perfeita que a primeira.
Os realizadores Jennifer Lee e Chris Buck voltam a trabalhar a quatro mãos, depois de terem recebido o Óscar por “Frozen”: seguem fieis à personalidade das suas duas protagonistas embora haja agora um maior equilíbrio, digamos que, as protagonistas são versões melhoradas do que conhecemos em Frozen. 
Mantêm-se os diálogos divertidos e as músicas memoráveis, e mantém-se também numa versão muito mais melhorada todo o  trabalho de animação: “A Rainha do Gelo”, de Hans Christian Andersen, é realmente um bonito espetáculo visual, obra dos estúdios da Disney. Os detalhes, a precisão e pormenores de todas as paisagens construidas oferecem-nos um campo visual tão ou mais belo que as imagens reais. 
“Frozen II” é uma história razoável, um upgrade do primeiro filme, exceto a parte musical que foi muito mais emblemática da primeira vez. Talvez porque as primeiras vezes são sempre mais marcantes. Mas a diversão é garantida e està nas mãos do trio do costume:o trapalhão do Kristoff, a sua rena e o enigmático Olaf.

quarta-feira, 4 de março de 2020

Love, Simon

 Resisti muito tempo a ver este filme. Achei que fosse mais um filme sobre e para adolescentes. Até que numa tarde de folga chuvosa interroguei-me, e porque não?, e decidi vê-lo. Em boa hora o fiz. Love, Simon é realmente um filme sobre adolescente e para adolescentes... mas também para todos nós.  Até porque é o primeiro filme sobre adolescentes centrado numa personagem homossexual que faz dele um pioneiro nesta temática.
A história já todos nós a vimos bastantes vezes: um jovem simpático a frequentar o secundário e rodeado pelo seu grupo de amigos. Um publico escolar estereotipado e dividido entre os desportistas, os nerds, os totòs, os miúdos das artes e os miúdos rebeldes. A diferença està no protagonismo dado a uma personagem gay. E é aqui que reside a vitória e a ‘inovação’ oferecida por esta história. Afinal de contas este serà o filme sobre adolescentes que os adolescentes gays nunca tiveram. E também o merecem.
Love, Simon é um filme leve, bem feito e com um argumento autêntico e verosímil. É impossível não sentir empatia e encontrar até semelhanças com várias personagens do elenco. Em particular, é impossível não partilhar a angústia de Simon, a personagem principal, no seu medo de não ser bem compreendido ou de passar a ser visto de uma outra forma pelos amigos e pela sua família, caso compartilhe com o mundo a sua orientação sexual. E é assim, num emaranhado de entretenimento simples mas atento à complexidade da questão, que nos é exposto este inocente descobrir da própria sexualidade- ótimo convite a reflexões sociais para todos nós. Para que não se compliquem coisas simples e se respeite a diferença nesta vida.

domingo, 23 de fevereiro de 2020

Gone Girl


Gone Girl é um filme de David Fincher adaptado pela romancista Gillian Flynn do seu próprio best-seller. É uma historia um tanto ou quanto psicopática sobre um casamento de sonho que se torna um  pesadelo: é o ruir de um casamento às mãos de um caso policial após um desaparecimento inesperado. Era um casamento perfeito entre um rapaz modesto da classe média e a menina pródiga  de Nova York. Era perfeito até deixar de o ser. Era perfeito na fachada e deixa de o ser quando a fachada é insuficiente para parecer primoroso. Amy, a esposa, desaparece misteriosamente e inicia-se a caça a quem a levou. Aperta-se o cerco e o próprio marido é suspeito. E Fincher lança o espetador para um jogo de ilusão onde nada é o que parece e tudo insiste em nos ludibriar.
David Fincher e Gillian Flynn partem para uma desconstrução do mistério que construiram de forma engenhosa e literalmente cinematográfica para enganar o publico e o deixar em parte incerta. Tudo é trabalhado e planeado para oferecer ao espetador um filme coerente harmonioso e responsável. 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Klaus


Mais um filme sobre a figura do Pai Natal. Mais um no meio de tantos outros. Será too much? Será que o público precisa de mais um filme sobre o Pai Natal? Por incrível que pareça, sim. Klaus é um filme que não està a mais e ainda acrescenta algo mais.
A história é bem simples: um aprendiz de carteiro, rico e mimado, filho do presidente dos correios é enviado para uma cidade nórdica, perdida no meio do nada, para realizar o envio de seis mil cartas durante um ano. Ou isso ou perder a sua imensa herança. A cidade é longe de tudo e de todos e vive em constante conflito com dois clãs sempre em confronto. E é neste cenário gelado e esquecido que o aprendiz de carteiro vai tropeçar no velho Klaus e construir a história da dádiva de presentes que todos nós conhecemos.
Klaus é uma mistura de técnicas de animações tradicionais e modernas. Esqueçam o 3D. Os traços de desenhos à mão são uma evidência, assim como o resto que há de bom no 2D. Tudo é visualmente bem feito, desde as luzes até à textura.
Apesar da história simples e pouco surpreendente do roteiro, Klaus é delicioso. Quase mágico. Talvez porque à medida que a narrativa avança, a cidade vai ganhando novas cores, as personagens vão ganhando novos tons. E todo este desenvolvimento é consequência do relacionamento entre Klaus e o jovem carteiro. E todos os pormenores da lenda do Pai Natal vão aparecendo e encaixando-se na narrativa.
Klaus é um filme infantil que cativa claramente qualquer adulto. Merecia o Óscar, a meu ver.

domingo, 19 de janeiro de 2020

Dois Papas


 O grande Fernando Meirelles está de volta (Deus seja louvado). E vem com Deus atrás dele: resolveu praticar um pouco de catolicismo e presenteou-nos com Dois Papas.
Inspirado em factos reais, este é um filme totalmente focado em Joseph Ratzinger e Jorge Mário Bergoglio, que nos leva de volta ao começo do século após a morte do Papa João Paulo II e à ascençäo de Ratzinger e depois de Bergoglio. Elogios para mais tarde, e existem, obviamente, (não fosse eu apreciadora convicta de Fernando Meirelles), creio que o filme deveria ser designado como pura ficção. Para os menos conhecedores da verdadeira historia, criam-se aqui várias imagens e ideias erradas. Completamente erradas. Há claramente uma inspiração na realidade mas é tão ténue que não me permite aceitar este filme como 'baseado em factos reais.' Para os mais interessados, é fácil de encontrar as diferenças entre a verdade e a ficção. Basta pesquisar. Não me vou alongar aqui nesta questão. O que é certo é que são estas diferenças que tendem a destoar a historia ao trabalharem numa preferência pela figura do cardeal Bergoglio em detrimento de Ratzinger. E gostos à parte, o que foi foi e o que não foi não foi. E há muita coisa que assim não foi. Nem Bergoglio precisa ser tão favorecido nem Ratzinger tão menosprezado.
Quanto a elogios, é de louvar os diálogos e as interpretações de Anthony Hopkins e  Jonathan Pryce. Esta é a verdadeira joia do filme e tão bem lapidada por Meirelles. Vejam o filme e admirem estes dois atores a atuar no mesmo patamar da perfeição.

sábado, 18 de janeiro de 2020

Marriage Story

 Um filme sobre o divórcio. Um olhar real sobre uma família que se degrada e que precisa de se reinventar devido à presença de um filho. Uma história onde não existem vilões. Existem pessoas que erram, que perdoam, que sofrem, que tentam, que vivem...
Um filme cuidadosamente criado por Baumbach, com ritmos precisos, alinhados e um cenário montado ao pormenor. Adam Driver, o ator, é extraordinário, assim como a atriz Scarlett Johansson. Quando falta o diálogo, ficamos muito bem servidos com todas as brilhantes expressões destes dois atores, que exprimem o que uma infinidade de palavras não conseguiria.
O filme é daqueles que pode ser a realidade do nosso vizinho, primo, amigo ou de nós próprios: é comum, universal, real e concreto. É portanto dos que dão murros no estômago. Pela dura realidade. E dos que nos fazem sorrir. Porque é tão fácil identificarmos-nos, reconhecer-mos algo ou alguém. 

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

O Fotógrafo de Mauthausen


Mais um filme que trata os horrores da Segunda Guerra Mundial. E serão sempre de louvar todos os filmes sobre esta temática porque é proibido esquecer todas as atrocidades que aconteceram.
Este filme é porventura sobre uma história menos conhecida do público em geral: no campo de concentração de Mauthausen, na Áustria, um grupo de prisioneiros espanhóis foi preso. Prisioneiros estes que lutaram contra o regime ditatorial de Franco. Um desses prisioneiros, fotógrafo de profissão,  foi 'obrigado' a fotografar acontecimentos dentro daqueles muros, a maioria deles para enaltecer o poderio e a ideologia nazi. Este homem aproveitou para salvar e recuperar inúmeros negativos e mostrar ao mundo as barbaridades cometidas pelos nazis.
Esta é uma história imperdível. O campo de concentração de Mauthausen foi reconstituído ao pormenor. Puro realismo. Chegamos mesmo a sentir a angústia de todos aqueles presos sem rumo e sem esperança. A fotografia em tons acinzentados também ajuda bastante a sentir toda uma tristeza eterna e sofrida.
O fotôgrafo de Mauthausen é um belo filme de homenagem a este herói- Francesc Boix- com belíssimas interpretações e um roteiro extraordinário.

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Cécile McLorin Salvant et Sullivan Fortner


 Voz : Cécile McLorin Salvant
Piano : Sullivan Fortner
14 janvier 2020 - 20h30
Moulin du Roc
Niort 

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

The Terminal


Um clássico de Spielberg. "The Terminal" é exatamente isso. Inspirado na historia real de Merhan Nasseri e brilhantemente interpretado por Tom Hanks, o filme baseia-se na historia deste homem que viveu alguns anos retido num aeroporto.
Rapidamente nos afeiçoamos à personagem, sobretudo devido ao excelente argumento, mas muito também devido à excelente interpretação de Tom Hanks.
Usufruímos aqui dos melhores momentos cómicos criados por Spielberg até hoje, de uma surpreendente intensidade dramática, bem como de uma extraordinária interação entre os atores. Falo de Tom Hanks, obviamente, mas também de Catherine Zeta-Jones e Stanley Tucci."The Terminal" é um filme obrigatário.





sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Trolls


Trolls é um filme de animação totalmente apoiado na música e em canções comercialmente conhecidas e interpretadas por personagens coloridos e divertidos. Estes personagens são bonecos de cabelos compridos que vivem para cantar, dançar e abraçar e são vitimas dos mostrengos Berguens que vivem em constante depressão e resmunguice. Os Berguens acreditam que só existe uma forma de combater a resmunguice e a depressão: comer Trolls.
Com uma historia simples e bonita mas nem um pouco inovadora, o sucesso de Trolls reside na sua banda sonora e no seu expoente musical. “Move Your Feet”, da banda Junior Senior; “The Sound of Silence” (Simon & Garfunkel); “September”, do Earth wind and fire; Cyndi Lauper e “True Colors”; e até “Hello”, Lionel Richie. Tudo isto podemos ouvir numa perfeita e articulada simbiose com o enredo em questão. E usufruímos até de alguns momentos imprevisíveis que nos surpreendem. E embora todos nós saibamos o desfecho, de todo uma novidade, é impossível não terminar de ver este filme com um sorriso no rosto e a cantarolar êxitos musicais.

domingo, 5 de janeiro de 2020

Sausage Party

Sausage Party é um filme de animação sobre os alimentos de um supermercado na descoberta do que realmente lhes acontece quando são escolhidos pelos humanos, que eles consideram deuses. Sabe-se là o porquê. Importa realçar que não é definitivamente um filme de animação para crianças. No entanto, apesar de todo o elenco envolvido– um elenco de luxo que conta com Seth Rogen, Paul Rudd, Jonah Hill, James Franco, Edward Norton, Kristen Wiig, entre outros –o filme cansa. Ver alimentos a dizer asneiras e a terem comportamentos sexuais é divertido...mas cansa! Por ser só e apenas isto. Há umas quantas de gargalhadas asseguradas, há estereótipos e temáticas bem exploradas mas... a queda no ridículo é acentuada.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Jumanji: O Nível Seguinte

As minhas expectativas eram muito baixas, até porque, sinceramente, não sou fã do original. Só que quando saí da sala de cinema, senti que me tinha divertido. 


Jumanji: O Nível Seguinte traz o regresso da maioria do elenco do filme anterior. Voltamos a ter Dwayne Johnson, Karen Gillian, Kevin Hart e Jack Black a retomar as suas personagens do videojogo e a mostrar novamente que conseguem ser grandes parceiros quando chega a ação. 
Desta vez, o regresso a Jumanji é intencional, depois de Spencer ter sentido necessidade de voltar a ser o Dr. Bravestone. Claro que o seu grupo de amigos, ao perceber que este não seria capaz de se safar sozinho, decide ajudá-lo… Só que nem tudo corre bem. Depois de uma suposta avaria no jogo, estes nem têm a oportunidade de escolher qual personagem querem ser. E, para piorar, Bethany fica de fora e no lugar dela vão o avô de Spencer e o seu antigo companheiro de negócios, com quem estava zangado depois de terem ido à falência. Regressamos a Jumanji, mas o próprio jogo está diferente, com muito mais perigos e novas personagens.  
Neste filme temos mais ação e uma mudança de cenários; deixamos de estar apenas na selva e vamos para o deserto e para a neve, o que faz com que visualmente nunca seja monótono, até porque também temos vários momentos de ação distintos, desde perseguições de macacos e avestruzes a fugas em carros a alta velocidade. Mesmo as personagens que já tinham estado em Jumanji não sabem o que esperar e sentimos o seu receio cada vez que estão inseguros relativamente ao próximo passo. 
O elenco volta a brilhar, especialmente Dwayne Johnson e Kevin Hart, que têm de se adaptar ao facto de serem os avatares de duas personagens mais velhas, interpretadas, fora do jogo, por Danny DeVito e Danny Glover. O filme é divertido e excelente para passar um bom bocado.