quarta-feira, 19 de junho de 2019

The White Crow

Ralph Fiennes escolheu a história verdadeira do bailarino russo Rudolf Nureyev para o seu mais recente filme realizado. Poderia ter sido uma ótima parceria entre o cinema russo, inglês e francês se os russos não abandonassem o projeto antes do fim (por razões políticas, claro). Dirigido então por uma equipa inteiramente inglesa, o filme é um trabalho cinematográfico baseado na biografia de Nureyev escrita por Julie Kavanagh. 
As imagens são lindas e o filme desdobra-se diante dos nossos olhos como uma dança que vai e volta, como um espetáculo de dança protagonizado pelo próprio Nureyev. Mas o cinema tem os seus limites quando as filmagens são cíclicas e cheias de analepses que variam em três tempos: passado profundo, passado recente e presente. Perdemo-nos rapidamente numa mistura de tempos apresentados e o filme sofre de uma certa desordem mesmo na forma como foi filmado. Contudo, a ideia de misturar a juventude do protagonista com o seu presente, não foi de todo uma aposta falhada, já que é interessante o efeito espelho que essa proposta nos oferece.
O filme brinda-nos com planos maravilhosos, cores magníficas e um cenário bastante competente. À parte de  Ralph Fiennes (que também brilha como ator) e Adele Exarchopoulos, todo elenco é praticamente desconhecido. Portanto a imersão no enredo torna-se ainda mais intensa. O papel principal do dançarino russo é dado a Oleg Ivenko, um também bailarino que será um desconhecido no mundo do cinema. A sua performance é incrível tanto como bailarino como ator expressivo e emocional. Além do mais, as semelhanças com Nureyev são perturbadoras.
Assistimos à vida alienada de um personagem igualmente sofrido, que deambula entre bissexualidade, oportunismo e sacrifício, num período de guerra fria que o levará a pedir exílio à França. A probabilidade de se sair da sala de cinema com vontade de ver um ballet é enorme. Portanto, fica aqui provado o sucesso de Ralph Fiennes ao querer transmitir a paixão animal que o protagonista sentia pelos palcos.

terça-feira, 18 de junho de 2019

Revolutionary Road

Revolutionary Road é um filme sobre a degradação do 'American Dream' dos anos 50 e que vive das belas interpretações de Kate Winslett e Leonardo di Caprio. O filme é deles. As suas presenças são a base de tudo, não fosse Sam Mendes o realizador, exímio como diretor de atores que explora (como sempre) o seu cinema com o tal toque de encenação teatral. 
O olhar crítico sobre a época em questão é de uma inteligência evidente, embora haja a necessidade da fidelidade ao romance original de Richard Yates. Contudo, Sam Mendes não vai mais longe. É só e apenas isto: um filme competente e muito bem ilustrado pelo brilhantismo dos actores. 

sábado, 15 de junho de 2019

Elisa y Marcela

Elisa y Marcela é um filme baseado numa história real ocorrida em Espanha no ano de 1901: duas mulheres mantêm uma relação amorosa numa época em que pessoas com relacionamentos homossexuais eram perseguidas e acusadas de prática de crime. O filme é a preto e branco, numa espécie de documentário sério e real, mas cabe ali muita imaginação para preencher episódios que não se sabem e se perderam com o tempo. Isabel Coixet é a responsável pela direção e roteiro deste filme original da Netflix. 
Dado que as duas protagonistas vivem um romance escondido e proibido para a época, uma delas decide assumir a identidade de um primo falecido, vestir-se como  um homem e viver socialmente como um homem, para assim poderem casar. E surpreendentemente conseguem-no fazer já que um padre de uma pequena paróquia de Espanha acredita nesta mentira.  Na privacidade da sua casa as duas mulheres divertem-se de maneira sensual, como um verdadeiro casal. O sexo lésbico surge de forma natural, simples e vulgar. Contudo os efeitos, sobreposições e expressividade (teatral) são um tanto ou quanto exagerados, quiça para romper com a ideia de 'leveza' do sexo entre duas mulheres. 
Sendo a união de Elisa e Marcela o primeiro casamento gay da Espanha, falta ao filme algo mais para dignificar tal acontecimento histórico. A visão social e as dificuldades de aceitação deste matrimónio são partes do roteiro pouco exploradas. E esse 'pouco' é sempre (e majestosamente) visível num contexto de cinema mudo- é certo que as imagens falam por si mas para se denunciar preconceitos e mudar mentalidades é preciso mais. Porque a intenção do filme é clara: mostrar que após tantas décadas passadas os casais homossexuais ainda têm de lutar pelos seus direitos, e a necessidade de instrução social para respeitar e aceitar diferenças ainda tem um longo caminho a percorrer.  Porque o preconceito existe. Ainda. 
Há detalhes da história que se perdem por se dar demasiada importância ao amor entre ambas. Tudo o que é comum a cada uma delas, independentemente de formarem um casal, foi posto de lado. Quem é Elisa sem Marcela? E Marcela sem Elisa? O desiquilíbrio narrativo é evidente. Porem, Elisa y Marcela é um filme bonito em relação ao que se propõe a apresentar.  



domingo, 9 de junho de 2019

Le musée de l'Inquisition à Carcassonne

Aceda aqui ao site. 

(É um museu interessante, dado a temática do mesmo, mas exageradamente caro para o pouco que apresenta. Os objetos expostos estão espaçados em demasia e os manequins existentes, numa tentativa de recriar o ambiente da época, parecem tirados de uma loja de roupa da baixa da cidade e vestidos com trapos em saldo. Para a abordagem ser verdadeiramente interessante, o museu merece uma renovação, tanto no edifício em si como nos objetos expostos . A evitar, dado que a visita é tudo menos pedagógica).

sábado, 1 de junho de 2019

La vie d'une autre

Juliette Binoche é a protagonista de "La Vie d'une Autre", que inexplicavelmente acorda de um dia para o outro sem se lembrar dos últimos quinze anos da vida dela. Inexplicavelmente para ela e para nós, o público, que ficamos sem nunca perceber o porquê de tal lapso de memória. E mesmo sem se saber tal razão, somos encaminhados e embalados por ali dentro, já que é este lapso de memória o ponto fulcral do enredo. Resumindo, Marie, a personagem,  acorda e ao ver-se ao espelho encontra uma mulher de 40 anos e não de 25. Ao sair do quarto depara-se com um filho que não conhece, uma casa de luxo que não conhece, um cargo de diretora empresarial que nunca sequer sonhou e um marido que conhece de um romance de umas férias de verão.
Há uma busca incessante pelo humor para descrever o drama inerente à aflição da personagem. Creio que o objetivo é criar toda a dinâmica de uma história romântica mas o resultado final deambula entre o ridículo e o bem intencionado. Somente.  Até porque o motivo da falha de memória nunca é revelado. E tão pouco existe o desvendar dessa falha de memória de Marie para os seus mais próximos. O filme explora única e exclusivamente a adaptação de Marie às novidades em que vai tropeçando diariamente para daí tirar o máximo de humor possível como se só isso bastasse. Só que não. 
"La Vie d'une Autre" vagueia entre o romance, a comédia e o drama, perdendo-se por ali fora nas suas próprias temáticas sub-exploradas. Vale-lhe uma atriz como Juliette Binoche e um ator como Mathieu Kassovitz que exploram muito bem as suas inquietações e salvam o filme de males maiores.