sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A Vida de Pi


A Vida de Pi adapta o best-seller do canadiano Yann Martel sobre um moço indiano que, na sequência de um naufrágio, dá por si forçado a sobreviver sozinho num salva-vidas no meio do oceano com o tal tigre de Bengala. Para Lee, é a oportunidade de usar a seu favor as tecnologias digitais modernas para contar uma narrativa sobre a própria essência do humano, sobre alguém que procura o seu lugar no mundo, em forma de fábula sobre as fábulas. Se quisermos, é uma meta-ficção sobre as histórias que contamos para fazer sentido do nosso mundo e das nossas experiências, sobre o modo como redefinimos dia-a-dia o que vivemos em termos de uma narrativa, revelada pacientemente e aos poucos por Lee.
Mas, para lá chegarmos, atravessamos uma série de obstáculos mais ou menos convencionais da história de um jovem em processo de se tornar adulto, encenados com a elegância contida que reconhecemos a Lee mas também sem um entusiasmo ou uma entrega que marquem a diferença. O cineasta filma com a placidez serena de um mestre contador de histórias que nos quer fazer acreditar na história que conta - mas deixa-nos sempre na dúvida se ele próprio acredita como quer que nós acreditemos. Resulta daqui um filme simpático, ocasionalmente inspirado, que utiliza com inteligência quer o 3D quer os efeitos visuais colocando-os ao serviço da história, mas mais anónimo do que entusiasmante.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Lincoln


Lincoln não é um grande filme sobre um grande personagem. É um filme comum e humilde, centrado nos últimos quatro meses de vida do 16º presidente dos Estados Unidos, que entrou para a história, entre outros motivos, por ter sido o articulador da emenda constitucional que acabou com a escravidão naquele país e, de tabela, pôs fim à Guerra Civil que matou mais de 750 mil americanos – para se ter uma ideia, o número de baixas somadas em todas as guerras enfrentadas pelo país contra inimigos externos não chega nem perto disso.
A produção fez uma ambientação elogiável tanto do momento político quanto da América do século 19 – a direção de arte é impecável. Com uma vitória esmagadora nas eleições de 1864, Lincoln estava no auge de sua popularidade quando resolveu mexer num vespeiro: propor uma emenda à Constituição que poria fim à escravidão. Spielberg concentra o filme nos bastidores deste embate político que mudou a história americana e revela o lado idealista do presidente, mas também o pragmatismo que o levou a comprar votos de oposicionistas oferecendo-lhes empregos públicos de prestígio.
Neste ponto o filme tem o mérito de humanizar a figura de Lincoln, exibindo uma realidade pouco comum em filmes que tratam de grandes nomes da história. Vemos isso nas atitudes do presidente e no jogo de interesses dentro da câmara. Paralelamente, conhecemos um pouco do dia a dia do homem Lincoln, sua relação com a mulher (Sally Field) e com os filhos, o mais velho interpretado por Joseph Gordon-Levitt.
O Spielberg que conhecemos – para o bem ou para o mal - está bem diferente neste filme. Há excessos de personagens e muito blablablá político em salas escuras imersas em fumaça de charutos. Isso a certa altura cansa o espectador. Mas o diretor fugiu do sentimentalismo exacerbado e evitou seus excessos de close-up. Contudo, Lincoln tem conversa em demasia, é conciso demais para abarcar o grande número de personagens e situações e termina por não levar à tela a grandiosidade do momento retratado. As boas interpretações – entre as quais merecem ser destacadas também as de Tommy Lee Jones e de James Spader – mantêm a força do filme.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Argo


Ainda que, como nos ensina a Internet, com amplas liberdades criativas, "Argo" baseia-se num episódio verídico sucedido durante a crise dos reféns americanos em Teerão, em 79/80: o resgate de seis funcionários da Embaixada americana, que por acaso não se encontravam no edifício quando ele foi ocupado e encontraram refúgio na residência do embaixador canadiano. Missão espinhosa, num país em convulsão e tomado de ódio pelo “grande Satã”, e missão a requerer criatividade especial: os especialistas em “extracção” da CIA congeminaram uma mise en scène inacreditável, que implicava fazer esses seis americanos passarem por uma equipa canadiana de cinema, no Irão em missão de reconhecimento de locations para uma produção de ficção científica - Argo, aonde o filme de Affleck vai buscar o seu próprio título. No filme, vemos o protagonista, Affleck ele mesmo, a ter a ideia para toda a operação, durante uma exibição televisiva de... Fuga do Planeta dos Macacos.Que mal pensado! Argo, que tem George Clooney entre os seus produtores, não é totalmente inocente do ponto de vista político. Mas bom. O Ben Affleck-cineasta não é um génio mas não tem sido (desde a estreia com Gone Baby Gone, em 2007) um cineasta indiferente. O que desaponta em Argo, até pela multiplicidade de sinais políticos disseminados, é a sua condição de ilustração, simples e competente, do argumento. Havia matéria-prima para outra perversidade, pelo menos outra complexidade. E a que parece a ideia-base, sublinhada por aqueles planos finais sobre super-heróis de brinquedo, fica um pouco perdida debaixo do rol de peripécias a que é preciso dar vazão: fazer uma correlação entre o espectáculo hollywoodiano e o “espectáculo” das intervenções externas americanas - como se sem o primeiro o segundo fosse impossível, algo que parece totalmente verdadeiro no caso em apreço. Mas o filme articula mal a sua “homenagem” à série Z (ainda que ela dê, na dupla John Goodman/Alan Arkin, a melhor parelha do filme), muito irrisória e bastante divertida, e a reconstituição em “suspense” do resgate propriamente dito, feita com eficácia, mas puxada ao limite (aquela perseguição na pista do aeroporto...), e desprovida de qualquer cinismo, quer na maneira de olhar para os americanos quer na maneira de olhar para os iranianos. Fica uma peça de entretenimento “missionário”, bem executada, adultamente conduzida, mas em progressivo abaixamento das expectativas.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Anna Karenina


Esta adaptação da imortal Anna Karenina de Tolstoi pelo dramaturgo Tom Stoppard e pelo realizador Joe Wright sublinha as questões sociais da obra de modo engenhoso e espectacular. Anna, a esposa fiel de São Petersburgo, vê a sua paixão pelo garboso oficial Vronsky espartilhada pelas convenções sociais da Rússia imperial em que se move, dando o mote para os dilemas de um grupo de personagens apanhadas no limbo entre o dever e o desejo. Para esse efeito, Stoppard e Wright conceberam um dispositivo cenográfico ambientado num teatro do século XIX, cenário único e polivalente que se transforma de repartição em restaurante, de rua moscovita em palácio rural. A metáfora não é original - a sociedade como teatro onde cada um tem um papel a cumprir, com os escassos exteriores representando a liberdade que os homens (legisladores, maridos, pais) ainda vão conseguindo impor - mas é eficazmente traduzida em cinema, sobretudo através da fluidez coreográfica com que tudo decorre. Já sabíamos do gosto de Wright por panorâmicas vistosas, a natureza de estúdio do projecto permite-lhe levar esse gosto a um limite, com a câmara a ser tão virtuosa como as danças estilizadas que pontuam o filme. Se, no entanto, o dispositivo não trai o espírito nem a multi-dimensionalidade de Tolstoi, corre o risco de tombar no decorativismo e introduz um distanciamento que exige uma entrega total do actor para injectar a humanidade que a cenografia por si só não consegue. E é aí que Anna Karenina se perde - não porque os actores sejam maus, mas porque Keira Knightley e Aaron Taylor-Johnson são erros de casting, sem conseguir emprestar a Anna e Vronsky a experiência nem a gravidade que os papéis exigem, e o Karenin melancólico de Jude Law ou o Levin na mouche de Domhnall Gleeson não chegam para compensar. É, então, pena que seja ao deslumbrante decorativismo da produção visual que Anna Karenina se resuma, sem que as portas intrigantes que abre sejam inteiramente exploradas.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Impossível


O filme passa-se no período do Natal, em dezembro de 2004, na Tailândia, quando, no dia 26 de dezembro, um tsunami atingiu aquela área, vitimando muitas pessoas que, não só ali moravam ou trabalhavam, como também os turistas que, aos montes, ocupavam os muitos resorts de luxo que ali estavam situados. Sem dúvida alguma, tratou-se de uma tragédia a nível mundial e que comoveu a todos. “Impossível” baseia-se na história real de uma das famílias que estavam presentes neste local naquele momento.
Maria (Naomi Watts) e Henry Bennett (Ewan McGregor) saíram do Japão, onde residiam, para passar as férias de final de ano num resort tailandês com os três filhos Lucas (Tom Holland), Thomas (Samuel Joslin) e Simon (Oaklee Pendergast). Lá, eles dividiram momentos de alegria e emoção, mas também foram surpreendidos – e confrontados – pelo tsunami que assolou aquela localidade. Quando as ondas surgiram, Maria a ler, Henry brincava com os dois filhos mais novos na piscina, enquanto Lucas tinha ido buscar a bola vermelha que era o objecto de brincadeira de todos eles. Separados pela tragédia, cada um terá que encontrar uma maneira para sobreviver.
A partir deste instante, “O Impossível” divide-se em duas linhas narrativas que acompanham os núcleos desta família após eles se separarem por ocasião da tragédia que testemunharam e foram vítimas. Aqui, o que importa ao roteiro escrito por Sergio G. Sánchez (com base na história de Maria Belon) é mostrar que o espírito humano não conhece limites na busca por um ente querido, mesmo que estejamos diante de um dos nossos momentos de maior dor.
O ponto mais positivo de “Impossível” é o facto do diretor Juan Antonio Bayona apelar para a emoção, especialmente a que emana da actuação do jovem Tom Holland. Este menino é um exemplo de que uma tragédia pode ocasionar algo de bom. Por meio do contacto pessoal com sua mãe (numa actuação também bastante expressiva de Naomi Watts), um novo horizonte se abre em sua mente. Ver isto nascer faz de “Impossível” um filme catástrofe bem diferente do que estamos acostumados a ver no cinema, principalmente pelo facto da bondade – em suas diferentes formas e manifestações – ser o valor central desta história.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

GLOBOS DE OURO


Lista completa dos vencedores da edição deste ano dos Globos de Ouro, prémios atribuídos pela associação dos jornalistas estrangeiros representados em Hollywood.
CINEMA
Melhor Filme (drama) - 'Argo'
Melhor Atriz (drama) - Jessica Chastain, em '00.30 Hora Negra'
Melhor Ator (drama) - Daniel Day Lewis, em 'Lincoln'
Melhor Filme (comédia ou musical) - 'Les Miserables'
Melhor Atriz (comédia ou musical) - Jennifer Lawrence, em 'Guia para um Final Feliz'
Melhor Ator (comédia ou musical) - Hugh Jackman, em 'Les Miserables'
Melhor Atriz Secundária - Anne Hathaway, em 'Les Miserables'
Melhor Ator Secundário - Christoph Waltz, em 'Django Libertado'
Melhor Realizador - Ben Affleck, em 'Argo'
Melhor Filme de Animação - 'Brave'
Melhor Filme em Língua Estrangeira - 'Amor'
Melhor Argumento - Quentin Tarantino, em 'Django Libertado'
Melhor Banda Sonora - Mychael Danna, em 'A Vida de Pi'
Melhor Canção - 'Skyfall' (interpretada por Adele)
TELEVISÃO
Melhor Série (drama) - 'Segurança Nacional'
Melhor Atriz numa Série (drama) - Claire Danes, em 'Segurança Nacional'
Melhor Ator numa Série (drama) - Damian Lewis, em 'Segurança Nacional'
Melhor Série (comédia ou musical) - 'Girls'
Melhor Atriz numa Série (comédia ou musical) - Lena Dunham, em 'Girls'
Melhor Ator numa Série (comédia ou musical) - Don Cheadle, em 'House of Lies'
Melhor Minissérie ou Telefilme - 'Game Change'
Melhor Atriz numa Minissérie ou Telefilme - Julianne Moore, em 'Game Change'
Melhor Ator numa Minissérie ou Telefilme - Kevin Costner, em 'Hatfields & McCoys'
Melhor Atriz Secundária - Maggie Smith, em 'Downtown Abbey'
Melhor Ator Secundário - Ed Harris, em 'Game Change'

domingo, 13 de janeiro de 2013

Django


Esse é o mais recente projeto de Tarantino, um filme que considero o mais agradável de se acompanhar da sua filmografia, porém instável em alguns momentos. O filme tem ótimas cenas de ação e um bom desempenho das personagens, boas atuações e sangue para todo o lado.  Jamie Foxx está bem Django, Christoph Waltz surpreende novamente, desta vez interpretando Dr. Schultz e o ator Leonardo DiCaprio entrega-se bem ao seu vilão cruel, numa atuação bem equilibrada e elogiada.
No filme, o escravo liberto Django acompanha um caçador de recompensas alemão, Dr. Schultz, do Texas ao Mississippi e vai atrás da sua esposa Broomhilda, escrava do cruel e sádico fazendeiro Calvin Candie. Mais uma vez o diretor extrapola e traz para a narrativa elementos diversos. Até mesmo a Grécia Antiga é citada em determinado momento. A mitologia nórdica, por exemplo, é referenciada quando Dr. Schultz conta o mito de Brunhilda,  a heroína que inspira o nome da  esposa de Django e que é presa por seu pai e é resgatada do fogo por seu amado Siegfried.  E tal qual o herói nórdico, Django enfrenta tudo e todos para resgatar a sua amada.

Alguns aspectos técnicos destacam-se no filme. A fotografia, por exemplo, passeia por vários estilos do gênero Western. Às vezes a paisagem é retratada em toda a sua grandeza, em outros momentos o foco é muito mais intimista. Os cortes e o som têm suas transições muito bem executadas, trazendo emoção e exibindo detalhes e suscitando emoções pertinentes a cada cena. Mas Tarantino exagera em alguns momentos. E claro, há muito sangue espirrando, cabeças e membros cortados e explodidos.
Mas o melhor do filme são os diálogos. Frases de efeito, mas bem construídas e encaixadas numa cadência quase rítmica. O Dr. Schultz, de Christoph Waltz, é eficiente nas armas, mas destaca-se também em suas frases e diálogos que os livram de enrascadas e criam um embate muito bom entre ele e Calvin Candie, de DiCaprio. Até mesmo o caricato Stephen, de Samuel L. Jackson, tem seus  momentos.

Porém é possível detectar alguns pontos negativos. No meio do filme, que aliás é bem longo (2 horas e 45 minutos de duração) há uma quebra de ritmo. É sabido que houve vários problemas na produção e pós-produção do filme, inclusive sobre a duração da obra. Mas não é nada que estrague ou comprometa a obra.
Resumindo, Django Livre não é, a meu ver, o melhor filme de Tarantino como muitos afirmam,  mas é um dos mais prazerosos de assistir. Tem falhas em alguns cortes, falta de sincronia em alguns momentos e às vezes se torna excessivo, mas nada que estrague a diversão.


sábado, 12 de janeiro de 2013

Paperboy


Paperboy não está a fingir ser da década de 1970, apesar de a retratar, nem a usar um olhar irónico do pós-modernismo: é a real thing, um filme gloriosa e estrondosamente retro, onde tudo, da fotografia saturada em tom de humidade sulista aos figurinos na medida exacta de mau gosto, nos coloca no centro da tensão sufocante e latente dos conflitos raciais e sociais de uma América onde a cor da pele ainda era questão central. O crime nominal e a perversão da justiça daí resultante são meros pretextos para Daniels se comprazer na exploração das contradições evidentes de uma América tão puritana quanto hipócrita, numa radiografia psíquica de um Sul de anedota. É que Daniels parece estar a provocar pela provocação, como um menino que se diverte a pôr os adultos a dizer asneiras - ou, no caso, Nicole Kidman a urinar para cima das queimaduras de alforreca de Zac Efron ou a masturbar-se frente a um John Cusack que quase se vem só a olhar para ela (e a actriz, deve dizer-se, submete-se a tais humilhações com a entrega e a dignidade suficiente para sair do filme não só intacta como engrandecida).  Este é  um daqueles filmes que transcendem as classificações de “bom” e “mau” para se tornar em “o que raio é exactamente isto”. É um grande filme? Não. É um grande filme trash como há muito tempo não víamos. Provavelmente, desde os anos 1970.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Domino

Esta é a vida de Domino Harvey (1969-2005), a história real de uma mulher rica que abandona tudo para se tornar uma caçadora de recompensas.Dirigido pelo regular cineasta Tony Scott ('Top Gun' e 'Chamas daVingança'), 'Domino' é um filme interessante  que acaba por cair em algum superficialismo. 
A protagonista Keira Knightley dá vivacidade à protagonista, e consegue entreter o público com uma óptima personificação de Domino, assim como o resto do elenco, que se esforça ao máximo.
O filme começa com a protagonista presa e a ser interrogada. Depois são flashbacks, que mostram como a filha do conhecido actor Laurence Harvey foi ali parar. Ela recusou uma carreira como modelo da agência Ford para se tornar uma caçadora de recompensas.
'Domino' é um filme bem produzido, com um elenco de luxo, mas que acaba por cair na superficialidade e enredo pouco original de um guião muito 'holliwoodesco'. E isto é um crime, quando a história é baseada numa história real.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

A pesca de salmão no iémen


Devido a um desejo extravagante de um Xeque, de um Dr. Alfred Jones (Ewan McGregor), um perito em pescas, e  de Harriet Chetwode-Talbot (Emily Blunt), uma consultora, o projecto de importar Salmão para o Iémen torna-se real.  O choque de personalidades inicial dá origem a situações bastante engraçadas e a evolução de ambas as personagens (Fred e Harriet) e da sua relação envolve o espectador de forma natural e quase intimista. É claro que a química entre as duas personagens não vive apenas do argumento e para isso, tanto Ewan McGregor como Emily Blunt contribuem grandemente estando ao melhor nível das suas carreiras, conseguindo evitar um certo caricaturismo em que facilmente poderiam ter caído. No elenco é ainda de realçar o desempenho de Kristin Scott Thomas que é delirante como Assessora de Comunicação do Primeiro Ministro criando os momentos mais hilariantes do filme. No entanto, como acontece em muitos filmes, a primeira metade do filme revela-se melhor do que a sua conclusão. A personagem do Xeque, que ganha relevância à medida que o projecto avança, é demasiado virtuosa , o reaparecimento do antigo noivo de Harriet parece algo forçado e o fim um pouco atabalhoado, especialmente quando comparado com o ritmo relaxado que rege quase todo o filme. No balanço total, “A Pesca do Salmão no Iémen” é um filme que vale a pena ver, especialmente para os apreciadores de comédias dramáticas britâncias.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Amour



A vida tal como ela é pode assustar bastante. Haneke faz em Amor uma inversão de cenários
 em direção a uma realidade quotidiana. Mas, no fundo, o que Amor faz é enfrentar um dos mais
 subtis tabus do cinema: a velhice.
Confirma-se, os velhos, por si só, não são um tabu do cinema: os avós são personagens de dramas
 e comédias, figuras queridas ou abandonadas, geralmente sensatas, por vezes dementes. Mas a velhice
 e, sobretudo, a decadência que lhe está associada evita-se demasiadas vezes.
 Evita-se sobretudo centrar um tema neste assunto perigosamente banal.
 Por um lado, pelo simples motivo que o assunto é chato. 
Não impele a ação, as personagens não correm nem fazem amor, apenas ficam, passam os dias...
 Mas, pior do que isso, o assunto é sensível e demasiado universal para nos querermos confrontar com ele. 
A brutalidade e crueldade de Amor em nada fica atrás ao dos jovens psicopatas de Funny Games 
ou ao pai de Laço Branco. Dir-se-ia que Amor consegue ainda transcendê-los, 
porque há uma identificação imediata: a velhice não é um ficção, quase todos lá chegam.
 É , portanto, um filme corajoso. Enfrenta um dos mais subtis tabus do cinema e, 
ao mesmo tempo, aborda um ambiente desesperadamente monótono. 
Ganha à partida uma medalha de mérito, a da coragem que se associa, 
seguramente, ao prémio para o filme mais deprimente do ano. 
Amor é perversamente realista, como uma profecia que se e entranha. 
Vai muito além da sala de cinema.
Aparentemente, há uma rutura com a filmografia de Michael Haneke, 
até porque Isabele Huppert, a sua atriz de eleição, faz aqui apenas um pequeno papel 
(quase tão pequeno como o de Rita Blanco). 
Os protagonistas são dois atores notáveis, com interpretações fabulosas, 
que atingem um pico de carreira na casa dos 80: Emmanuele Riva e Jean-Louis Trintignant
 (há mais de dez anos que não entrava num filme importante).
 Mas, vistas bem as coisas, mantêm-se requintes sádicos a que Haneke nos habituou. 
Isto elevado ao ponto mais extremo em que a morte se torna um alívio. 
Do espectador, Haneke não tem piedade. Mostra-nos tudo, pormenorizadamente, 
deixando-nos num estado de permanente comoção, nunca descurando a empatia com as personagens, que é imensa e brutal.
Até certo ponto, há mesmo uma luta de Anne contra a tristeza que a circunda. 
Já não quer ouvir Schubert, prefere as Bagatelas (a música erudita, mais uma vez, marca forte presença). 
As circunstâncias, contudo, não lhe dão qualquer escapatória.
 E tudo é triste e terrível, mesmo a história, que,  no leito, Georges conta para acalmar a mulher. 
Porque, claro, Amor é também um filme sobre o amor profundo e inquebrável, que redunda em sofrimento.
 Oferece-nos um espelho demasiado translúcido, ninguém quer ver a realidade tão nítida. 
Mas a culpa não é do cinema. É da vida. Ou, como dizia Manuel da Fonseca: "Isto de estar vivo um dia acaba mal".

Tintin


Enorme decepção, se admitirmos que até havia alguma expectativa. É verdade que os precedentes não eram famosos, e que todas as adaptações cinematográficas dos grandes clássicos da BD europeia, de Astérix a Lucky Luke, passando por Corto Maltese ou pelo próprio Tintin, redundaram ou em desastres absolutos ou em filmes anódinos e esquecíveis. Também é verdade - e daqui vinha “alguma expectativa” - que nunca uma destas adaptações tivera o privilégio de contar com um cineasta do calibre de Spielberg nem com o “topo de gama” da tecnologia do “entertainment” cinematográfico.
Esse acaba por ser um problema, certamente: vê-se mais o “topo de gama” do que Tintin ou Spielberg, ambos desaparecidos debaixo do “state of the art” digital. Há uma vaga parecença, narrativa e morfológica, com a criação de Hergé, mas depois tudo se passa como se ser Tintin ou ser outra coisa qualquer fosse dar ao mesmo. Falamos do “espírito”, claro: será Tintin compatível com o grande espectáculo “blockbuster” de “luz e magia industriais”? 
Transformadas em mostruário digital, há demasiadas coisas que não funcionam nesta adaptação. A galeria de secundários, por exemplo, uma das maiores riquezas da BD original, perde-se completamente, e é em especial bastante penoso aquilo em que se transformam Dupont e Dupond. Que é como quem diz: o filme não tem espaço, nem tempo, nem maneira de dar vida ao detalhe, ao pormenor, coisa em que Hergé era mestre. Fazer Tintin “em grande” implica deixar de fora tudo o que é “pequeno”, e com isso deita-se fora metade da graça. 

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Hanna


A história do filme é sobre uma menina de 16 anos (Saoirse Ronan), que vive numa floresta da Finlândia, onde é treinada pelo seu pai (Eric Bana) para ser nada mais que uma máquina mortífera. Em busca de vingança, Hanna entra numa missão, a pedido do pai, e acaba descobrindo a verdade sobre a sua origem.
“Hanna” não superou as expectativas do público e da crítica, mas contou com uma direcção rígida, uma estética visual moderna e com uma poderosa interpretação de Saoirse Ronan. O enredo do filme até tem uma proposta intrigante, mas não consegue surpreender nem conquistar a atenção do espectador. “Hanna” é um filme de poucas palavras e grandes imagens. O destaque do filme é mesmo a direcção de Joe Wright. 
O filme tem um visual tipicamente europeu e imprime uma sensação frenética e desequilibrada que o roteiro nem sempre consegue transmitir. Joe Wright acertou em cheio ao abusar de seqüências absurdas e pouco realistas para manter os espectadores intrigados. Não posso esquecer a banda sonora (Chemical Brothers) de “Hanna”, que muito ajuda ao desenrolar de toda a acção. 
Outro destaque de "Hanna" é a poderosa actuação de Saoirse Ronan, uma das principais actrizes desta nova geração do cinema. Para finalizar, o elenco de “Hanna” também conta com as presenças de Cate Blanchett, Eric Bana e Olivia Williams. Cate Blanchett é aqui uma vilã excepcional.