sexta-feira, 6 de março de 2020

Parasitas


Bong Joon Ho é o realizador da crítica e sátira social aliadas à comédia cruel e à violência que permitem uma abordagem direta sobre a influência da sociedade nos indivíduos. Em Parasita, filme vencedor da Palma de Ouro em Cannes e do Oscar, o cineasta reafirma esses elementos  e mostra uma grande maturidade ao dirigir um filme extenso com ritmo relativamente lento— por  ser de índice reflexivo na forma como constrói o drama central. Duas famílias são o foco deste enredo: Os Kim, família pobre que mal possui dinheiro para comer e os Park, família muito rica que contrata o jovem Ki-woo como tutor de inglês da filha mais velha. é evidente a diferença entre as classes sociais presentes que expõem a dicotomia abismal existente entre a Coreia do Sul pobre e periférica e a Coreia do Sul rica e abastada. Este abismo social, embora seja compreendido como uma critica social e política, é muito mais uma verdadeira exposição reflexiva sobre como a origem social marca o futuro das pessoas. E perante as adversidades de uma vida nem todo o oportunismo é necessariamente maldoso e nem toda a piedade é necessariamente bondosa. 
A historia alimenta-se de uma serie de crimes cometidos pela família pobre numa tentativa de ganhar dinheiro fácil e garantir a ascençäo social e a salvação financeira. O contraste entre as duas classes sociais é visto no tamanho das casas e nas cores e fotografia escolhidas: quando vemos os Kim em seu ambiente familiar, temos ambientes mais escuros, semi-nocturnos, sempre com planos que indicam locais apertados, onde estes indivíduos se comportam como qualquer praga de insetos ou parasitas. Quando vemos os Park, vemos um ambiente mais convidativo com bastante iluminação e em diferentes tonalidades. Os indivíduos são pequenos para espaços tão amplos que os engolem na sua dimensão. Eles próprios, embrenhados na sua riqueza e património, mostram uma ingénua ignorância por tudo o que os rodeia. E a invasão do seu próprio mundo é um perfeito e rápido plano de parasitação. O realizador serve-se de diálogos engenhosos e naturais e apoia-se em atuações excecionais de todo o elenco para conseguir erguer uma jornada cativante de escalada social. 
E por fim, há um choque frontal com todo o drama. Numa questão de segundos, o realizador faz com que a escalada social seja um inferno em queda livre, e nós, estamos mal preparados para uma serie de modificações e movimentações de todas as personagens. E a falta de preparação é propositada. De repente chocam-se núcleos pela disputa de poder e emergem sentimentos de vingança- os que nada têm revoltam-se com a esmola conseguida e os que têm tudo revoltam-se com a esmola dada e pouco apreciada. O final é frio e impiedoso. Sem compaixão. O sonho continua a mover o dia a dia de todas as classes sociais mesmo que o destino esteja já e profundamente marcado pelo lugar em que nascemos. E ao fim ao cabo somos todos parasitas: uns com mais e outros com menos.

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