sexta-feira, 31 de março de 2023

A Cúmplice do Mal: Monique Olivier

 

Mini-série baseada na história de Michel Fourniret, um serial killer francês que confessou ter assassinado e abusado sexualmente de 12 vítimas na região fronteiriça entre a Bélgica e a França, de 1987 até 2003. Monique Olivier é a esposa e cúmplice de Michel, que teve um papel ativo nos raptos, abusos e assassínios das vitimas. A série é muito bem editada e direcionada e acompanha cronologicamente todos os acontecimentos que levaram à prisão deste casal, desde a fuga de uma das vitimas até ao relacionamento dos dois intervenientes no desaparecimento de mulheres e crianças durante longos anos. Existem entrevistas reais, nomeadamente a detetives e policiais que trabalharam no caso. Há leituras de cartas escritas entre Monique e Michel. E há reconstituições de crimes. Um ponto em comum a tudo isto: o casal apresenta uma frieza e ausência de sentimentos doentios. Quase que sentimos inicialmente alguma empatia por Monique ao julgarmos que porventura esta mulher foi forçada num clima de terror e medo a fazer parte desta tragédia. Os primeiros testemunhos da mesma assim o demonstram. Sò que à medida que a mini-série avança somos surpreendidos pela crueldade de Monique que demora a desvendar as suas próprias intenções. Monique é tão ou mais perversa que o seu marido e fica comprovada a ajuda e participação da mesma em todos os atos de sequestro, abuso e assassinato. Para quem gosta de séries policiais, aqui està uma ótima oportunidade para estudar a mente de assassinos reais que cometeram crimes atrozes.

domingo, 26 de março de 2023

Tár


A protagonista desta história é a maestrina Lydia Tár (Cate Blanchett), da Orquestra Filarmônica de Berlim e uma das artistas mais conceituadas no mundo da musica clássica: ela é a primeira mulher a dirigir uma Filarmónica. A narrativa decorre quando Lydia, com uma carreira profissional consolidada, se prepara para lançar um livro de memórias e gravar uma grande sinfonia.  Contudo, o sucesso tem altos e baixos, e Lydia, de caráter controverso, controlador, egocêntrico e narcisista, é alvo de uma investigação após o suicídio de uma ex-aluna. Cate Blanchett é incrivelmente realista a interpretar Tàr, a ponto de grande parte do público pensar que este personagem era real, que esta história era real. Não é. É ficção. E é uma história fictícia excecional ao explorar o lado mais complexo da glória, do sucesso, da genialidade e do poder.

sexta-feira, 24 de março de 2023

Vulcão Whakaari: Resgate na Nova Zelândia

 Com direção de Rory Kennedy, este documentário exclusivo Netflix é uma autêntica narrativa sobre a erupção do vulcão Whakaari, que em 2019 matou 22 pessoas na Nova Zelândia. A erupção colocou a vida de diversas pessoas em risco, entre turistas a guias turísticos. As filmagens säo detalhadas e há relatos reais dos sobreviventes desta tragédia. O documentário é sincero e honesto: o objetivo é celebrar a vida dos sobreviventes, agradecer a quem participou nos resgates e refletir sobre os limites de um turismo que se deseja seguro e responsável.


terça-feira, 21 de março de 2023

Les Choses qu’on dit, les choses qu’on fait

 

Realizado por Emmanuel Mouret, este é um filme bem escrito, bem dirigido e bem interpretado. Porque existe talento espalhado um pouco por todo o lado e a todos os níveis. Os diálogos säo interessantes e expiram inteligência. Contudo, é tanta a inteligência que todos os personagens parecem ser teólogos do amor. E por isso mesmo perdemos o fio à meada, cinefilamente falando. É demais o artificio literário utilizado. É excessivamente filosófico, este filme. E em certos momentos é entediante, antiquado e sem fim. 

sábado, 18 de março de 2023

Um homem chamado Otto

 

Um Homem Chamado Otto é uma adaptação do filme sueco En man som heter Ove e traz- nos Tom Hanks no principal papel.  A historia é sólida e bem construída e as personagens facilmente cativam o espetador. Estamos assim perante uma comédia dramàtica que explora a solidão durante o luto e todas as possibilidades de continuar vivendo após um período de dor. Tom Hanks encarrega-se de credibilizar o enredo, com uma atuação incontestável e natural- algo a que há muito nos habituou. Apesar de algum sentimentalismo americano cliché, este remake de filmes europeus é capaz de ser dos mais cativantes e dos mais sinceros a ver.


 

sexta-feira, 17 de março de 2023

A Voz das Mulheres

 

 Baseado no romance de Miriam Toews,  "A Voz das Mulheres" conta com um elenco poderoso: Rooney Mara, Claire Foy e Jessie Buckley, sendo realizado pela grande cineasta Sarah Polley. Estamos perante um filme totalmente feminista, que celebra a mulher e que retrata a luta das mesmas pela conquista da liberdade, do respeito e independência, num contexto social e religioso bastante complexo. Embora o assunto e o elenco sejam suficientes para cativar o público, o filme perde-se nos seus discursos filosóficos sociais-comunitários demasiado extensos e densos. Contudo a mensagem de luta por igualdade de género é clara, importante e transparente.


quarta-feira, 15 de março de 2023

Tudo em todo o lado ao mesmo tempo

 Nesta edição dos Óscares 2023 não podemos criticar Hollywood por atribuir prémios sempre às mesmas fórmulas cinéfilas, e subestimando a diversidade, a criatividade e a diferença- esquecendo géneros como o terror, comédia, ação ou ficção científica. Nesta edição, "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo", que arrecadou sete Óscares, contraria a história de todos os premiados de Hollywood até então.  O filme é um misto de ação, ficção científica e comédia, que nos apresenta uma narrativa excêntrica e extravagante, puro entretenimento e elevada qualidade técnica. O elenco é exemplar e o seu expoente máximo dá pelo nome de Michelle Yeoh. Há muito que Michelle Yeoh merecia ser premiada. Faz-se então justiça. Ao seu lado, Yeoh tem a companhia de outros tantos atores sublimes,  como Jamie Lee Curtis ou James Hong. O filme tem conquistado meio mundo por se aventurar a explorar o absurdo e o abstrato com a liberdade de caricaturar o insano de todas as questões humanas sobre o existencialismo.

sábado, 11 de março de 2023

The Whale

 

The Whale é o filme que traz de volta Brendan Fraser aos grandes ecrãs, de quem muitos se lembram certamente, sobretudo nos anos 90. A sua nova personagem não podia ser mais desafiante: um homem gay que sofre de obesidade mórbida. E Fraser agarrou-se ao personagem com unhas e dentes e a sua interpretação é surpreendente. Além do mais, Fraser està acompanhado de ótimos atores que também honram as suas interpretações. O filme, esse, é de um guião simples, expectável, óbvio e pouco impressionante. O cenário é limitado e repetitivo, mas por opção. A narrativa passa-se sempre dentro de quatro paredes para demonstrar a ideia de abandono total à vida e a entrega (também total) à tristeza e à desistência. O espetador sentir-se-à invadido -de forma exagerada, por uma variedade de emoções que nos obrigam a ficar comovidos. Eu senti-me obrigada a ficar comovida por um desencadear de assuntos clichés que não embelezam  o filme. Todas as réstias de esperança para continuarmos fieis até ao fim residem em Brendan Fraser e na sua espetacular interpretação.

quarta-feira, 8 de março de 2023

A Mulher Rei

 

Filme feminista de 2022, A Mulher Rei é baseado nos feitos das mulheres guerreiras Agojie, exército africano que protegeu o Reino de Daomé no início século XIX. Gina Prince-Bythewood, a realizadora, està verdadeiramente empenhada em dar protagonismo às mulheres e relatar feitos históricos feministas (talvez) pouco valorizados até então. As batalhas e lutas corpo a corpo säo o cenário escolhido para tal intuito.  A virilidade feminina, a rudeza, as cicatrizes, o espírito de combate e de compromisso säo realçados mas a fórmula do filme é comum a tantos outros de historia/ação: há um 'Hollywoodismo' do realismo fantástico e sensacional bem vincado.  Contudo, Viola Davis, no papel principal, atribui alguma dignidade ao filme. Ela e uma panóplia de outros atores, nomeadamente, os atores negros do filme, com representações respeitáveis. Por fim, ficamos boquiabertos (pela negativa), quando ouvimos o nosso português de Camões ser tão mal falado e tão maltratado- ou os atores faltaram às aulas de português ou este filme diz-nos muito da maneira errada como os americanos recriam África, numa narrativa vazia que só enche o espetador pelas imagens.