sábado, 28 de março de 2020

'Dona Maria II em casa'





Uma excelente iniciativa do teatro Nacional Dona Maria II ao transmitir peças de teatro online e gratuitas, no site e nas redes sociais desta casa de artes.

terça-feira, 24 de março de 2020

Bienvenue à Marly-Gomont


Filme baseado na infância do rapper francês Kamini, que pode muito bem ser definido como uma comédia dramática sobre as dificuldades do seu pai, – um zairense formado em Medicina em França – médico de uma aldeia da Picardia nos anos 70.
Kamini, a irmã e a mãe vivem bastante bem em Kinshasa, no Zaire (atual Congo), mas sonham com a Europa e viver em Paris. Quando Seyolo, o pai de Kamini,  termina o curso de medicina, faz de tudo para obter a nacionalidade francesa e evitar voltar ao seu país onde reina uma política de corrupção e instabilidade. Assim, aceita a oferta de trabalhar numa aldeia perdida no norte de França e recusa uma vida de luxo no seu país trabalhando como medico pessoal do ditador Mobutu. 
Contudo, depressa o sonho europeu se torna em pesadelo, pois chegados à pequena aldeia, vão enfrentar uma serie de dificuldades. Os habitantes, que nunca viram um negro, mostram-se resistentes e pouco afáveis, não o procurando quando têm problemas de saúde e preferindo ir a outro medico numa outra localidade. São assim explorados temas como a interioridade, o racismo, e a ambição de quem é estrangeiro e chega a um outro país para 'tentar a sua sorte'.
Não estamos perante uma grande obra do cinema, é verdade. As situações cómicas são demasiado repetitivas e tendem a tombar numa caricatura exagerada das personagens. Perde-se uma grande oportunidade de criar um filme de reflexão sobre a interioridade e a aceitação de estrangeiros num novo país e sociedade.
De destacar a prestação de Aïssa Maïga e Marc Zinga. O filme é basicamente deles.


quarta-feira, 11 de março de 2020

1917

 Duas horas para contar a missão de dois oficiais britânicos em campo inimigo, durante a primeira guerra mundial, encarregados de entregar uma carta na linha de frente que salvará milhares de vidas. 1917 é isto. Apoiado numa narrativa simples e de linguagem básica, este filme de guerra é quase excecional no que toca à forma com as cenas de ação foram filmadas. Há uma transição constante de imagens entre o que o espetador vê e o que as próprias personagens veem. E as personagens são meros adereços que o realizador utiliza a seu belo prazer, como se de um jogo de vídeo se tratasse, para completarem com sucesso a missão à qual se propõe. E estes aspetos desumanizam as personagens e conferem-lhes um vazio sentimental somente reajustado pela ação maquinal das mesmas. Mendes, o realizador, cria assim um filme sobre a primeira guerra mundial que não prestigia os heróis, não desprestigia os inimigos, não é fiel à memoria dos intervenientes e não cria qualquer empatia com os mesmo. Contudo, se o roteiro fica aquém do esperado, todas as técnicas de direção, fotografia e imagem são bastante harmoniosas. A capacidade da direção de fotografia de Roger Deakins é algo quase inacreditável: o espetáculo visual de luzes, sombras e cores é  hipnotizante. É nesse ponto, inclusive, que também se destaca com mais intensidade a música de Thomas Newman.
1917 é um filme de guerra que desconstrói o próprio conflito ao alienar-se dele para se focar na vontade de viver ao celebrar a obsessividade do sucesso da missão.

terça-feira, 10 de março de 2020

The Mountain Between Us

 The Mountain Between Us é uma adaptação do romance de Charles Martin. É uma história de sobrevivência após um acidente de avião: um cirurgião (Idris Elba) e uma jornalista (Kate Winslet) ficam retidos numa região montanhosa por alguns dias. Entre as superações das dificuldades de cada dia, nasce uma ténue historia de amor- do desespero ao conforto, da necessidade à entreajuda e do medo à coragem, estes dois seres humanos limitam-se a sobreviver numa realidade onde as duas vidas passadas de ambos sâo meras recordações. Contudo e apesar do filme ser fiel a toda uma paisagem onde o drama possa ser bem compreendido- amplitude fotográfica da imensidão da natureza face a dois sobreviventes frágeis e bem pequenos para tanta grandeza natural,- o roteiro é uma praga de clichés de filmes que falam de sobrevivência. 
A desgraça é sempre exagerada e as soluções encontradas para continuarem vivos vão perdendo intensidade à medida que roçam a repetibilidade e o déjà-vue. A historia de amor acaba por ser a ultima oportunidade do próprio filme para se salvar a si mesmo. Oportunidade fracassada, diga-se. Os dois atores salvam o que podem com as suas consistentes representações. Mas não chega. O roteiro faz deste romance algo maquinal e desengonçado. Longe de ser um filme perfeito no género de 'historias de sobrevivência e superação', requer muita boa vontade do espetador para justificar o esforço em vê-lo.


domingo, 8 de março de 2020

Meu amigo Totoro

 Hayao Miyazaki realizou um dos seus filmes mais conhecidos- Meu Amigo Totoro- em 1988, e desde então o melhor amigo da protagonista- uma figura mágica e imaginária- é a mascote do famoso Studio Ghibli.
No enredo, Mei é uma menina solitária que vive com a irmã mais nova e o pai, professor universitário, que trabalha muito e passa a maior parte do tempo fora de casa. A mãe està hospitalizada e ela visita-a de vez em quando. O resto do tempo é dividido entre a escola e o seu mundo imaginário- nele ela cria uma relação de amizade com um espírito da floresta chamado Totoro. Aos poucos e poucos, ela deixa a irmã mais nova partilhar deste seu mundo imaginário e integra-a na convivência com esta criatura mágica.
O filme é uma fábula sobre a solidão das crianças perante a incompreensão dos adultos e sobre os medos infantis para encarar a realidade. Totoro é a representação da felicidade, inocência e desejos infantis. A amizade entre Totoro e as irmãs é das historias mais bonitas contadas em cinema de animação.  Miyazaki é brilhante ao orientar a história no sentido natural do ciclo da vida quando surgem momentos de confronto entre tristeza e sofrimento. Miyazaki conta-nos de forma simples, didática e bonita o amadurecimento das crianças que rapidamente se tornam jovens adolescentes.  
Os cenários são bucólicos, um verdadeiro hino à natureza. E a visão infantil tão bem trabalhada torna este filme um dos melhores de Miyazaki: um clássico e uma obra-prima em técnica, qualidade e sensibilidade em grau elevado.

sexta-feira, 6 de março de 2020

Parasitas


Bong Joon Ho é o realizador da crítica e sátira social aliadas à comédia cruel e à violência que permitem uma abordagem direta sobre a influência da sociedade nos indivíduos. Em Parasita, filme vencedor da Palma de Ouro em Cannes e do Oscar, o cineasta reafirma esses elementos  e mostra uma grande maturidade ao dirigir um filme extenso com ritmo relativamente lento— por  ser de índice reflexivo na forma como constrói o drama central. Duas famílias são o foco deste enredo: Os Kim, família pobre que mal possui dinheiro para comer e os Park, família muito rica que contrata o jovem Ki-woo como tutor de inglês da filha mais velha. é evidente a diferença entre as classes sociais presentes que expõem a dicotomia abismal existente entre a Coreia do Sul pobre e periférica e a Coreia do Sul rica e abastada. Este abismo social, embora seja compreendido como uma critica social e política, é muito mais uma verdadeira exposição reflexiva sobre como a origem social marca o futuro das pessoas. E perante as adversidades de uma vida nem todo o oportunismo é necessariamente maldoso e nem toda a piedade é necessariamente bondosa. 
A historia alimenta-se de uma serie de crimes cometidos pela família pobre numa tentativa de ganhar dinheiro fácil e garantir a ascençäo social e a salvação financeira. O contraste entre as duas classes sociais é visto no tamanho das casas e nas cores e fotografia escolhidas: quando vemos os Kim em seu ambiente familiar, temos ambientes mais escuros, semi-nocturnos, sempre com planos que indicam locais apertados, onde estes indivíduos se comportam como qualquer praga de insetos ou parasitas. Quando vemos os Park, vemos um ambiente mais convidativo com bastante iluminação e em diferentes tonalidades. Os indivíduos são pequenos para espaços tão amplos que os engolem na sua dimensão. Eles próprios, embrenhados na sua riqueza e património, mostram uma ingénua ignorância por tudo o que os rodeia. E a invasão do seu próprio mundo é um perfeito e rápido plano de parasitação. O realizador serve-se de diálogos engenhosos e naturais e apoia-se em atuações excecionais de todo o elenco para conseguir erguer uma jornada cativante de escalada social. 
E por fim, há um choque frontal com todo o drama. Numa questão de segundos, o realizador faz com que a escalada social seja um inferno em queda livre, e nós, estamos mal preparados para uma serie de modificações e movimentações de todas as personagens. E a falta de preparação é propositada. De repente chocam-se núcleos pela disputa de poder e emergem sentimentos de vingança- os que nada têm revoltam-se com a esmola conseguida e os que têm tudo revoltam-se com a esmola dada e pouco apreciada. O final é frio e impiedoso. Sem compaixão. O sonho continua a mover o dia a dia de todas as classes sociais mesmo que o destino esteja já e profundamente marcado pelo lugar em que nascemos. E ao fim ao cabo somos todos parasitas: uns com mais e outros com menos.

quinta-feira, 5 de março de 2020

Frozen II O Reino do Gelo

 Em “Frozen II: O Reino do Gelo” Elsa está mais sossegada, tendo aceite os seus poderes, dos quais o primeiro filme não explica a origem, e tenta pouco a pouco conviver com o seu lado misterioso. Contudo, e apesar da aparente tranquilidade e felicidade de que dispõe, algo continua por resolver dentro de si. Faltam as respostas ausentes no primeiro filme. Faltam explicações que esta continuação da história se encarregará de dar. E ao partir numa jornada infinita para dar resposta à origem dos seus poderes cria-se uma segunda parte muito mais épica e perfeita que a primeira.
Os realizadores Jennifer Lee e Chris Buck voltam a trabalhar a quatro mãos, depois de terem recebido o Óscar por “Frozen”: seguem fieis à personalidade das suas duas protagonistas embora haja agora um maior equilíbrio, digamos que, as protagonistas são versões melhoradas do que conhecemos em Frozen. 
Mantêm-se os diálogos divertidos e as músicas memoráveis, e mantém-se também numa versão muito mais melhorada todo o  trabalho de animação: “A Rainha do Gelo”, de Hans Christian Andersen, é realmente um bonito espetáculo visual, obra dos estúdios da Disney. Os detalhes, a precisão e pormenores de todas as paisagens construidas oferecem-nos um campo visual tão ou mais belo que as imagens reais. 
“Frozen II” é uma história razoável, um upgrade do primeiro filme, exceto a parte musical que foi muito mais emblemática da primeira vez. Talvez porque as primeiras vezes são sempre mais marcantes. Mas a diversão é garantida e està nas mãos do trio do costume:o trapalhão do Kristoff, a sua rena e o enigmático Olaf.

quarta-feira, 4 de março de 2020

Love, Simon

 Resisti muito tempo a ver este filme. Achei que fosse mais um filme sobre e para adolescentes. Até que numa tarde de folga chuvosa interroguei-me, e porque não?, e decidi vê-lo. Em boa hora o fiz. Love, Simon é realmente um filme sobre adolescente e para adolescentes... mas também para todos nós.  Até porque é o primeiro filme sobre adolescentes centrado numa personagem homossexual que faz dele um pioneiro nesta temática.
A história já todos nós a vimos bastantes vezes: um jovem simpático a frequentar o secundário e rodeado pelo seu grupo de amigos. Um publico escolar estereotipado e dividido entre os desportistas, os nerds, os totòs, os miúdos das artes e os miúdos rebeldes. A diferença està no protagonismo dado a uma personagem gay. E é aqui que reside a vitória e a ‘inovação’ oferecida por esta história. Afinal de contas este serà o filme sobre adolescentes que os adolescentes gays nunca tiveram. E também o merecem.
Love, Simon é um filme leve, bem feito e com um argumento autêntico e verosímil. É impossível não sentir empatia e encontrar até semelhanças com várias personagens do elenco. Em particular, é impossível não partilhar a angústia de Simon, a personagem principal, no seu medo de não ser bem compreendido ou de passar a ser visto de uma outra forma pelos amigos e pela sua família, caso compartilhe com o mundo a sua orientação sexual. E é assim, num emaranhado de entretenimento simples mas atento à complexidade da questão, que nos é exposto este inocente descobrir da própria sexualidade- ótimo convite a reflexões sociais para todos nós. Para que não se compliquem coisas simples e se respeite a diferença nesta vida.