quinta-feira, 30 de abril de 2009

Curta portuguesa em Cannes


"Arena", curta-metragem de João Salaviza, foi seleccionada para a competição do Festival de Cannes, que decorre entre 13 e 24 de Maio. O filme, uma ficção de 17 minutos, centra-se em Mauro, um rapaz que vive em prisão domiciliária. "Mais do que captar as transformações de um lugar, interessa-me a tensão dos momentos em que nada se altera", explica o realizador, de 24 anos, no texto de apresentação do filme, integrado no festival IndieLisboa. "Ao filmar o Mauro em prisão domiciliária confrontei-me com a condição de um homem que não tem para onde ir. "Segui esta ideia, desde o guião até à montagem", escreve.

"Arena" junta-se assim aos outros quatro filmes portugueses já seleccionados para Cannes: "Morrer Como Um Homem" de João Pedro Rodrigues (secção Un Certain Regard), "Ne Change Rien" de Pedro Costa, "Canção de Amor e Saúde" de João Nicolau (ambos na Quinzena dos Realizadores), "Territórios" de Mónica Baptista (Semana da Crítica).

domingo, 26 de abril de 2009

Sameiro em Fotos (Domingo de Páscoa)

E a passar na estrada, um click para a torre da Igreja. A torre que marca o tempo da aldeia.
Tempo ainda para um segundo click. Toca o sino da torre. Ouve-se o tempo da aldeia.


A tia vive na Santa. Santa mesa a da minha tia...


Visita pascal. Doce mesa. Doce Páscoa.



Chiu (Silêncio) A hora de refeição é sagrada.



sexta-feira, 24 de abril de 2009

Realidades angolanas

(Eu, Cuca em Cabo Verde. Ela, a Cuca angolana!)

( O banco de escola dela. Hoje em dia, bebe Mimosa)

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Gabriel Abrantes



Tem 24 anos, pinta, faz filmes, toca piano e canta. É um nome emergente. Acaba de vencer o prémio EDP.
No princípio deste mês, Gabriel Abrantes organizou, em jeito de turismo cultural, uma visita guiada a três exposições (que realizou) em três espaços de Lisboa. No dia 24, vai dar um concerto no Maxime, no âmbito do Festival IndieLisboa 09, onde apresentará também um dos seus filmes. E foi um dos nomeados para o Prémio EDP Novos Artistas. Com tantas actividades e aparições, exige-se a pergunta: "Quem é Gabriel Abrantes?". Ora, Gabriel Abrantes tem 24 anos e é, "tout court", um artista. Feita a apresentação, importa agora contar a história, tecer o contexto. Nasceu nos EUA, filho de mãe angolana e pai zairense e veio para Portugal há dois anos para fazer um filme em Trás-os-Montes. Entretanto, frequentou na cidade de Les Fresnoy (França) um mestrado de arte contemporânea e cinema e estudou na Ecole National des Beau-Arts, em Paris. Em 2007 realizou a sua primeira exposição individual em Portugal, na Galeria 111, antes de mostrar, na edição de 2008 do Festival Indie, duas curtas-metragens: "Olympia I" e "Olympia II". A entrada no contexto português acontecia assim sob duas linguagens e formas de apresentação: a pintura e objectos numa galeria, o filme numa sala de cinema. Gabriel Abrantes saltava de categorias ou plataformas com um à-vontade, dir-se-ia, contemporâneo.

Foi, porém, com "Visionary Iraq", exposição realizada com Benjamin Crotty, em Setembro na Galeria 111 do Porto, que atraiu definitivamente as atenções do meio artístico nacional. Com um vídeo, dividido em três projecções, e respectivos cenários (enquanto instalações ou esculturas), Gabriel Abrantes afirmava a narrativa e a actualidade (política, social) como formas privilegiadas do seu trabalho. O filme contava a aventura de dois irmãos adoptivos (um português e uma angolana) que decidem alistar-se no exército para libertar o Iraque e interrogava a função e o contexto do objecto artístico com uma desconcertante economia de ideias e meios.

Em "Too Many Daddies, Mommies and Babies", a obra (instalação + filme) com que concorreu ao Prémio organizado pela Fundação EDP e que pode ser vista no Museu da Electricidade, em Belém, reencontramos uma ficção com temas actuais: a história de um casal homossexual que desiste de salvar o planeta do aquecimento global para ter um filho.

Para lá de todas as metáforas, Gabriel Abrantes não descobre intenções políticas nos seus trabalhos. "O meu interesse é estrutural. Não tenho uma mensagem directa. Procuro antes outras relações. Por exemplo, lido com uma narrativa sobre um acontecimento actual, que vivemos ainda que de forma distanciada, e ao mesmo tempo dou a ver uma representação desse acontecimento. Um pouco como 'Le Radeau de la Méduse' de Gericault. É isso que me interessa e não qualquer tipo de propaganda derivada de uma agenda política. Crio situações, algumas políticas, mas de forma ambígua".

"Too Many Daddies, Mommies and Babies" traz entretanto uma novidade em relação aos filmes anteriores: a presença de actores profissionais como Ana Moreira (revelada em "Os Mutantes", de Teresa Villaverde) Filipe Vargas, Alexandre David e Ágata Pinho.

Artigo de José Marmeleira


quarta-feira, 22 de abril de 2009

Max e Companhia



Sugestão: Coma uns rissóis de algas e uns croquetes de soja, enfie-se numa sala de cinema do El Corte Inglês e assista a esta animação. Bzzzz.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Mayra Andrade



Dia Internacional das Lojas de Discos


Ontem comemorou-se, em todo o mundo, o dia internacional das lojas de discos independentes. Lojas que são muito mais do que comércio. Lojas que são verdadeiras comunidades. Como a Flur, em Lisboa, onde vão estar concentradas as celebrações oficiais.

Quase todos os países têm algumas. O espaço físico até pode ser diminuto, mas aquilo que difundem é amplo. Entra-se nelas e existe um ambiente especial, respira-se música, cultura, ideias. Entre quem está do outro lado balcão e clientes pressentem-se afinidades, comunica-se e partilha-se a paixão pela música.

A Rough Trade, em Londres, a Other Music, em Nova Iorque, a Flur e a Louie Louie em Lisboa ou a Matéria Prima, em Lisboa e Porto são alguns exemplos. Foi delas o dia de ontem.

São lojas onde se vende maioritariamente discos, mas é algo mais do que isso. Sim, é comércio. Mas é também uma forma de mostrar que são verdadeiras comunidades, numa altura em que o negócio da música está em profunda transformação, com as vendas físicas - CDs e vinil - em quebra. Mas não existiu nenhum programa nostálgico na data. Muito pelo contrário. Claro que este tipo de lojas estão a sofrer com a diminuição generalizada na vendas de CDs, com os preços agressivos das grandes superfícies comerciais e com o facto de existir uma geração que está a crescer com o debate em torno do acesso gratuito à música, mas o dia serviu essencialmente para reafirmar o papel deste tipo de entrepostos no descobrir, encorajar e distribuir música nova e estimulante.

A ideia é americana, surgiu há dois anos, e disseminou-se por todo o mundo. Hoje serão milhares a assinalar a data com concertos, sessões de autógrafos ou sessões DJ. Em muitas delas serão postas à venda edições limitadas de compilações ou singles de nomes como os Smiths, Tom Waits, Sonic Youth ou Beck.

Em Portugal, destacou-se a acção da Flur (www.flur.pt) - ao Cais da Pedra, em frente a Santa Apolónia, em Lisboa - associada oficialmente ao evento e que preparou uma verdadeira maratona de expedientes, entre as 13h e as 21h, contando com a participação de amigos, cúmplices, clientes, DJs, músicos, jornalistas ou comunicadores.

Alguns estiveram ao balcão (Isilda Sanches, Filho Único, Bandidos Desesperados), outros fizeram sessões DJ (Tiago Miranda, Nuno Lopes, Kamala, Rui Vargas, Rui Pregal da Cunha, Rodrigo Amado, D.I.S.C.O Texas) e outros tocaram ao vivo (B Fachada, Samuel Úria, Macacos do Chinês, Peter Walker, Aquaparque).

Tudo isto no contexto de outras actividades, como uma visita guiada de Joaquim Paulo (que publicou na Taschen uma selecção de capas de discos de jazz) sobre a exposição de 50 discos da sua colecção ou o leilão de um exemplar original do disco "Independança" dos GNR, com capa autografada por Rui Reininho.


Artigo de Vítor Belanciano

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Quando o tempo é despreocupado...

Hoje recordei-me de um momento passado em Cabo Verde. Este momento:


"Foi uma conversa agradável com o pai da Georgy em fim de tarde graciosa. Era uma daquelas tardes despreocupadas. Estar despreocupado é estar feliz. O sol brincava vivamente com as nuvens. Parecia uma espécie de compromisso. Todos os dias o sol brincava com as nuvens. O sol e as nuvens. E todos os dias tinham tempo.
A tarde estendia-se tranquila em cima de um dia preguiçoso. Fez-me lembrar o tempo da minha aldeia. Nas aldeias o tempo também se estende. Nas aldeias há sempre tempo. Em Lisboa nunca se tem tempo. Em Lisboa há que correr atrás do tempo e nunca se chega a fazer tudo o que se quer. Na minha aldeia tenho tempo para tudo e ainda me sobram instantes. Tempo para acordar tarde, para comer laranja de pijama à varanda enquanto o fumo das chaminés se dissipa no ar, para conversar com a mãe sobre o que vamos comer ao almoço e ao jantar, para dizer ao pai que a avó tem-me visitado à noite enquanto durmo, para dar bons dias e boas tardes a todos, para tomar café antes da cabra do Zé terminar de rapar a erva junto ao ribeiro, para caminhar com a tia antes da novena começar, para conversar com a avó, sentadas na soleira da porta enquanto o sol se esconde atrás do casario…
Ali sentada junto do pai da Georgy percebi que o tempo crescia como na minha aldeia. E na minha infância o tempo crescia ainda mais. Ainda consigo sentir o sabor das longas tardes de domingo. O sino tocava, as crianças brincavam depois da missa no coreto do adro, os jovens namoravam em mil e uma voltas pelas ruas, as mães paravam em cada canto e distribuíam fofoquices gratuitamente, os pais discutiam os golos do João Pinto e o passe do Rui Costa ao balcão dos cafés, os velhos aqueciam ao sol e o sino tocava. Eu não brincava no coreto. Raramente ia à missa. E o meu pai também não discutia futebol. Raramente ia aos cafés. A avó Graça aquecia ao sol. A avó Alzira também. Eu brincava com os primos à porta da casa delas.
E ali sentada com o pai recostei-me a ouvi-lo. Sorri. O tempo era despreocupado. Sentia-me feliz. "


E a conversa agradável fica para um outro dia.

sábado, 18 de abril de 2009

Fui ver... e gostei!


Once and for all we’re gonna tell you who we are so shut up and listen!

De uma vez por todas vamos dizer-vos quem somos por isso calem-se e ouçam!
Um espectáculo de Ontroerend Goed, Kopergietery e Richard Jordan Productions Ltd.


Quando era mais novo, Alexander Devriendt participou em vários espectáculos de e para adolescentes, mas sempre se divertiu mais fora de cena. Aqui procurou o inverso. Em Once and for all…, sensação do último Festival de Edimburgo, a energia pura dos intérpretes, visível em palco, não é tratada como força destruidora, mas como prazer de ultrapassar e explorar os limites, sem que ninguém venha dizer como ou porquê.

[…] puro magnetismo animal, um choque suado de adrenalina que capta a energia inquieta de ser adolescente e o abandono absurdo e temerário de estar permanentemente à beira da prancha de mergulho mais alta. […] É um extraordinário objecto teatral, astutamente coreo­grafado para parecer completamente não-coreografado e loucamente manipulador. Mas da melhor maneira possível. É um espectáculo sem reservas.


Lyn Gardner
The Guardian, 27 de Outubro de 2008

Mais um dos meus sítios em Lisboa


Um café moderno num simples mas requintado espaço, que inclui um pátio interior bem convidativo. Tem um ambiente descontraído e serve refeições ligeiras e saudáveis. O "chocolate royale" (ao qual também pode ser adicionado uma colher de gelado) já é lendário entre os clientes habituais.
Apresento-vos o Royale Café.
O Royale Café situa-se no Chiado, entre o Largo do Carmo e o Teatro da Trindade.

www.royalecafe.com

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Se há coisas que não me chateiam...a chuva é uma delas.











Guarda-chuva

Guarda-chuva...
A saia de um corpete que se abre sempre que chove
Gosta de dançar à chuva enquanto resguarda cabeças que lhe vêem as pernas
Só não gosta do vento que o faz rodopiar bruscamente em todos os sentidos e lhe desarruma as pregas.
Dança à chuva quem aguarda
Guarda-a nas pregas cosidas ao corpete
Guarda-a por alguns instantes e só depois a deixa de novo escorrer
A chuva que molha sempre a correr.

Respingar

Caminho.
Os chuviscos banham-me a cara descoberta, colada a um capuz que me cobre a cabeça.
Está a chuviscar! Digo para mim mesma de cara molhada.
Se morasse com a minha mãe não chuviscaria. Ela diria: "Está a respingar."
E os respingos de chuva cairiam no guarda-chuva que a minha mãe me dava.

terça-feira, 14 de abril de 2009

"Eclipse" de Lura


"Eclipse" é o trabalho de uma mulher que anda à procura do país que só conheceu aos 21 anos.

"Eu acho que se quiser definir o que faço, sou sobretudo uma intérprete. O importante é eu gostar da história e da melodia. Mas digamos que neste disco arrisquei mais um pouco".

Quando Lura disse isto, já estava finalmente descansada em frente a um prato de picanha. Tinha passado a manhã a correr porque na noite anterior apresentara "Eclipse", novo disco, na Fábrica do Braço de Prata, em Lisboa, e tinha-se deitado mais tarde que o previsto. Chegou meia-hora atrasada à conta do trânsito (não conseguia estacionar o carro). Depois teve de posar para as fotos. Quando parecia que o caminho para a entrevista estava desimpedido, deu-se uma sucessão de telefonemas para o consulado angolano em Lisboa. Estava com problemas na obtenção do visto e na segunda-feira seguinte voava para Luanda para dar dois concertos. (Correu tudo bem e entrou no voo a horas.)

Em Portugal não temos noção disso, mas Lura está habituada a esta velocidade. A sua agenda está mais que carregada e de 2005 a 2006 fez "cerca de 200 concertos" e nos EUA chegou a dar dois por dia. "Às 15 horas dava um concerto para alunos de música das universidades. É uma forma boa de promoção musical: damos um concerto e eles aprendem e analisam o showbizz. Depois, à noite, há o concerto normal". Há fases em que dá seis concertos numa semana.

É esta a bitola pela qual "Eclipse" vai medir-se. Se Lura, hoje, tem o estatuto de futura diva, "Eclipse" tem a obrigação de fazer esse futuro tornar-se presente. Se "hoje em dia" a sua vida obedece "às regras dos mercados dos EUA, da Itália, da Alemanha, da Tasmânia", onde é requisitada, "Eclipse" tem como missão alargar o mapa, conquistar novos territórios. Estabelecê-la definitivamente como uma espécie de rainha. Podemos pensar que a dimensão da tarefa obrigou a grandes planos, mas ela atira de forma desassombrada: "Não tinha uma linha definida para este disco. Aliás, nunca tenho. Vou seguindo um bocado o meu estado de espírito, o que sinto."

Isto sai-lhe depois de uma pausa para dar mais uma garfada na picanha e para pensar, mas sai-lhe de forma espontânea. É mulher de conversa fácil, sem rodeios nem pose de estrela. Ouve as perguntas com atenção, pondera, mas em momento algum parece medir em excesso as palavras. Pode ser uma estrela, mas parece uma rapariga normal. Como é que ela chegou aqui?

Ir à fonte

A vida de Lura mudou em 2005, quando o disco desse ano, "Di Korpu Ku Alma", explodiu. Era um disco que impressionava pela frescura, pela força. Olhava para as raízes sem recusar a sua época, tinha tradição, mas era pop, com tremenda energia e revelava uma voz irresistível. Podia ter sido um acaso, uma coisa de uma só vez, mas no ano seguinte veio "M'bem Di Fora", e o sucesso continuou. Mas nada fazia prever isto, especialmente para quem ouviu os seus dois primeiros discos , "Lura", de 1996, e "In Love", de 2003. Ambos estão bastante longe do que faz hoje e que define de forma simples: "Divulgar os ritmos de Cabo-Verde". Na realidade, nem ela imaginava vir a ter o sucesso que tem hoje.

Nasceu em Lisboa, filha de pai nascido na ilha de Santiago, e de mãe nascida na ilha de Santa Antão, "uma ilha com montanhas enormes, a mais montanhosa de Cabo Verde". É onde se faz "o famoso grogue de Cabo Verde" e apesar de não ser uma zona famosa pela sua música, tem, diz, "muita mazurca e muita morna". A primeira vez que foi a Cabo-Verde tinha já 21 anos. "Antes não havia hipóteses de ir, por questões monetárias. Os voos são caros e o sonho da minha mãe era levar-nos a todos ao mesmo tempo. Tivemos de esperar", conta, sem qualquer espécie de tristeza.

O pai de Lura "trabalhava na construção civil" e a mãe "era empregada doméstica". Viviam em Algés e ela começou a contribuir para o orçamento familiar muito cedo. "Desde os 14 anos comecei a trabalhar nas férias. Depois, a partir dos 16 anos, comecei a trabalhar na música, a fazer coros". Fez, entre outros, coros para Bonga, e fez parte do elenco do programa Sábado à Noite, apresentado por João Baião. A música, aos 16 anos, tinha-se tornado opção óbvia: quando estava a crescer havia sempre música em casa, a música que os pais ouviam: "Bana, Cesária, os Cabo Verde Show, que são um dos mais emblemáticos grupos cabo-verdianos de zouk comercial. Os meus pais ouviam tudo em cassetes", recorda, com visível prazer. Mais tarde, em adolescente, tornou-se "fã de zouk e de música americana. Era fã de Whitney Houston".

Tinha 20 anos quando lançou o disco homónimo (radicalmente diferente do que faz hoje). "Na altura do meu primeiro disco não conhecia compositores nenhuns, por isso compunha eu, por pura intuição". Diz isto com absoluta leveza. "Não sabia nada de composição". Não parece muito orgulhosa desse disco.

Tem vindo, como aliás admite, "a compor cada vez menos" de disco para disco. (Curiosamente, quanto menos compõe mais sucesso tem.) "Já pensei: 'Um dia destes vou gravar um disco só de canções minhas', mas depois penso que ia ficar um disco todo muito igual e desisto da ideia". Há uma razão para isto: quando se decidiu "a divulgar os ritmos de Cabo-Verde", preferiu ir directamente à fonte e "buscar os compositores cabo-verdianos". Vai "duas ou três vezes por ano" a Cabo-Verde e uma vez lá fala "com os compositores", vai "a barzinhos ouvi-los cantar", procura "música antiga e nova". E não tem peias em chegar à beira de compositores que não conhece e dizer: "Gostava de ouvir a tua música" ou "Gostava de cantar aquela tua música". Isto, diz, é a única forma de poder fazer o que faz: com liberdade.

"Já que não nasci em Cabo-Verde, tenho a liberdade de fazer a música de todas as ilhas, de explorar os diferentes ritmos". Gosta dos ritmos, claro, mas há mais que isso na sua demanda pela música cabo-verdiana: "Também gosto das histórias, ou gosto sobretudo das histórias. Porque são uma forma de viver uma vida cabo-verdiana que não pude viver. Já que não vivi lá, interpreto as histórias".

Se quer viver uma "cabo-verdianidade" (ou uma "cabo-verdade") através das canções, "Eclipse" é o disco indicado, porque dispara em todas as direcções. Tem uma dezena de compositores creditados (entre eles o grande Mário Lúcyo, e apenas uma canção de Lura), e usa os mais díspares géneros de música cabo-verdiana.

Além disso, estas são canções que têm histórias por trás. Tome-se, por exemplo, "Tabanka", cujo original pertence ao grande Orlando Pantera (já falecido). Não é apenas nome de canção, mas sim de "um ritual que se faz entre Maio e Junho" e que vem "do tempo da escravatura". É uma espécie de Carnaval em que "um velho sai à rua vestido de presidente, outro de membro do Governo, etc", como se os escravos assumissem posições que lhes estavam vedadas. "É uma sátira. A música do Pantera reproduz a música que se fazia: batucada". É talvez a faixa mais estranha de um disco menos imediato do que estaríamos à espera e em que Lura vai ao funk e ao tango, numa faixa, "Canta um tango", que mistura o género argentino com electrónica.

É para isto que as canções servem: para chegar mais perto das raízes.


Entrevista de João Bonifácio

The day after Easter

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Fim de semana pascual


Todas as festividades cristãs religiosas se misturam indiscutivelmente com as tradições pagãs. Tradições estas rejeitadas e denegridas pela própria Igreja (Instituição) durante tantos anos.
A Páscoa ( do hebraico Pessach, que significa passagem), é o evento religioso cristão que celebra a Ressurreição de Jesus Cristo depois da sua morte por crucificação. Os eventos da Páscoa teriam ocorrido durante o Pessah, data em que os judeus comemoram a libertação e fuga de seu povo escravizado no Egipto. A palavra Páscoa advém deste nome hebraico e da festa judaica à qual a Páscoa cristã está intimamente ligada, não só pelo sentido simbólico de “passagem”, comum às celebrações pagãs (passagem do inverno para a primavera) e judaicas (da escravatura no Egipto para a liberdade na Terra prometida).
Símbolos ligados à Páscoa, como os ovos de chocolate, ovos coloridos e o coelhinho da Páscoa são resquícios culturais da festividade da Primavera em honra de Eostre (deusa pagã germânica, relacionada com a estação primaveril e celebrada todos os anos no mês germânico Eostremonat) que, depois, foram assimilados às celebrações cristãs do Pessach, depois da cristianização dos pagãos germânicos. Contudo, já os persas, romanos, judeus e armênios tinham o hábito de oferecer e receber ovos coloridos por esta época.
Eostre tinha alguns rituais de caráter sexual, uma vez que era também deusa da fertilidade.
Um ritual importante ocorria no equinócio da Primavera, onde os participantes pintavam e decoravam ovos (símbolo da fertilidade) e os escondiam e enterravam em tocas nos campos. Este ritual foi adaptado pela Igreja Católica no principio do 1º milênio depois de Cristo, fundindo-a com outra festa popular da altura chamada de Páscoa. Mesmo assim, o ritual da decoração dos ovos de Páscoa mantém-se um pouco por todo o mundo nesta festa, quando ocorre o equinócio da Primavera. Portanto, o hábito de dar ovos tem origem numa tradição pagã.
A tradição de homenagear a Primavera continuou durante a Idade Média entre os povos pagãos da Europa. Eles celebravam Ostera, a deusa da Primavera, representada por uma mulher que segurava um ovo numa mão e observava um coelho, símbolo de fertilidade que pulava aos seus pés.
Os cristãos apropriaram-se da imagem do ovo para festejar a Páscoa, que celebra a ressurreição de Jesus - o Concílio de Nicéia, realizado em 325, estabeleceu o culto à data. Na época, pintavam os ovos (geralmente de galinha, gansa ou codorna) com imagens de figuras religiosas, como o próprio Jesus e sua mãe, Maria.
Foram necessários mais 800 anos para que, no século XVIII, em França, tivessem a ideia de fazer os ovos com chocolate.
Eu pessoalmente, prefiro uma Páscoa recheada de elementos pagãos e rodeada pela recolha do folar, tradicional e típico das aldeias do Interior e Norte de Portugal. Portanto, vou de fim de semana ao encontro do meu mundo serrano.
Feliz Páscoa para todos. Até terça...

Sobressalto

Sacode-me um sobressalto. Salto.
Sonho agitado.
Depois surge um grupo de crianças a correr.
Mas logo surge uma banana mordida. Uma banana verde mordida.
Alguém me afaga a nuca. Salto sobre o muro.
Sobre-salto. Sobressalto.
Mas afinal o que sonhavas?
-Com peixe. Peixe com nome francês de pêssego. Pêche!
-Atum?
-Não sei.
-Sardinha?
-Não sei, acho que maior.
-Baleia?
-Não sei. Deixa.
-Elefante?
-Não!Mas o tempo tem memória de elefante.
-Deves estar doente.
-Seja como for, uma banana não significa nada. Banana e peixe. Nada. Não diz nada. É uma imagem estranha apenas.
-Sabes o que significa o sonho?
-Não. No fim o peixe morre. Pela boca morre o peixe. Só isso.
-Então para a próxima não acordes. Deixa-te dormir. Como se estivesses debaixo de água. Em compassos regulares.
A noite parecia feita de um trópico qualquer.
Acho que tudo é retardado quando o medo se manifesta.
E depois, vai-se a criatividade.
Penso que será este o sigificado.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

“Aquele Querido Mês de Agosto” considerado o melhor filme em Buenos Aires


Aquele Querido Mês de Agosto foi considerado o melhor filme no Festival Internacional de Cinema Independente de Buenos Aires. Este prémio junta-se a uma lista de distinções que inclui, entre outros, o Prémio para Melhor Filme e o prémio FIPRESCI do Festival de Valdivia no Chile, Prémio da Crítica no Festival de São Paulo, Brasil, e, mais recentemente, os prémios Lady Harimaguada de Prata e o Prémio José Rivero atribuído ao Melhor Novo Realizador no Festival de Cinema de Las Palmas e o Prémio Especial do Júri e o Prémio Especial do Som no Festival de Cinema de Guadalajara.
O filme está seleccionado para o Festival de Cinema de São Francisco (23 Abril-7 Maio), Festival de Cinema de Los Angeles (18-28 Junho), e os festivais de Auckland (10-27 Julho) e de Wellington (18 Julho-3 Agosto), Nova Zelândia.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Gulbenkian Jardim

Pássaros que discutem por entre ramadas que caiem zangadas, chateadas com o barulho.
Sarrabulho?!?! Ouve-se em grito. Acho que sarrabulho é o som do aflito.
Pombas que nos olham de lado passam por entre as pernas como se fossem gatos.
Debicam ratos? Por vezes acho que debicam ratos e espalham fezes.
A senhora que lê, com as pernas na horizontal levantadas.
Leituras encantadas? Pela expressão facial acho que lê romance policial.
Dois jovens deitados. Ele trinca-lhe o braço destemido. É atrevido.
Ela ignora-o com o olhar. É envergonhada. Acho que está apaixonada.
O homem que a cada frase escrita muda de lugar.
Gosta de se coçar. Coça-se com a caneta. Acho que é um escritor da treta.
Eu, como letras e vomito-as depois. Tudo o resto é jardim. Folhas, patos, água e coisas assim.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Rugrats


Rugrats é uma série de desenhos animados produzida pela Klasky Csupo para a Nickelodeon. A série durou de 1991 até 1994, tendo retornado em 1996 e indo até 2004. O programa mostra como os bebés e crianças pré-escolares interpretam o mundo e os eventos ao seu redor. Os bebés da série, Tommy Pickles, Chuckie Finster e os gêmeos Phil e Lil são capazes de comunicarem entre si numa linguagem que os adultos não compreendem. Eles ocasionalmente falam com erros ortográficos ou simplesmente confudem as palavras. Apesar dos adultos não os entenderem, eles são capazes de compreender o que os seus pais falam. Angelica Pickles, de três anos, é capaz de se comunicar normalmente com os bebés e com os adultos, habilidade que ela usa para tirar vantagem de ambas as partes.

Angélica e o Chuckie são fenomenais.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Festa do Cinema Italiano


A segunda edição da Festa do Cinema Italiano começou ontem em Lisboa e promete mais de 20 filmes, grande parte em estreia nacional, e conta com a presença dos realizadores.

O festival decorrerá até ao dia 9 de Abril no cinema King, mas com eventos paralelos na Cinemateca Portuguesa, cabaret Maxime, Fábrica do Braço de Prata e lojas FNAC. À segunda edição, a Festa alarga-se ao Porto com sessões no sábado e domingo, no Teatro do Campo Alegre. A Festa abriu com um concerto dos Chibanga Groove Quartet no Intermezzo Cocktail Bar, em Lisboa, mas as exibições de cinema arrancam apenas hoje. A abrir passará "O passado é uma terra desconhecida", de Daniele Vicari e protagonizado por Elio Germano, um dos actores mais requisitados actualmente no cinema italiano que marcará presença em Lisboa. No dia seguinte, Elio Germano apresentará a comédia "Tutta la vita davanti", de Paolo Virzì, também no cinema King. A festa encerrará com a antestreia nacional de "Almoço de 15 de Agosto", filme que o realizador Gianni di Gregorio apresentará a 9 de Abril no cinema King. Premiado em 2008 no festival de Veneza e produzido por Mateo Garrone (realizador de "Gomorra"), o filme estreará nos cinemas portugueses a 16 de Abril. Além do cinema, a Festa do Cinema Italiano incluirá uma actuação da cantora siciliana Patrizia Laquidara, no dia 6 no Cabaret Maxime.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

P.S do dia:


This is the movie Vita!!!

Hummmmmmmmmmmmm

Louis Garrel

ONDJAKI




Quantas Madrugadas tem a noite

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"tristezas, avilo, isso e muito mais... o passado, minhas lembranças mesmo, minhas solidões. a vida, muadiê, a vida é um antigamente só, e nós ficamos lá, cada vez mais pra frente vamos, e empurrados mas, quem, nós mesmo?, nós somos nosso próprio esquecimento – borracha do futuro a apagar o passado nas ardósias do presente."

AdolfoDido

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"Sabes o que é não sentir o coração e sentir o coração, tud’uma batida só, sangue leve no peito e lágrimas limpas a escorrer? Faz de conta foste na pesca, rede e tudo, e em vez do peixe grande meteste a rede na água e te veio uma nuvem? Se é impossível? Eu sei lá, avilo, eu sei lá... Desde candengue que ando então a ver as nuvens dançar nas peles do mar, e me pergunto: assim calminho, liso tipo carapinha com desfrise, o mar não tem as nuvens dele também? De onde eu venho é muito longe, por isso, juro mesmo, nasci de novo. Vou te confessar: espanto é só aquilo que ainda nunca tenhamos vivido com a nossa pele!"

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Martim Moniz


"A zona designada por Martim Moniz, consiste numa vasta área situada bem no centro de Lisboa e junto a uma das suas mais emblemáticas zonas históricas, que é a Mouraria. Não se trata de um "Largo" no sentido correcto do termo, pois não fora assim planeado originalmente. É antes mais um dos diversos e infelizes resultados de uma política urbanística tipica do Estado Novo. Com a ideia de "colorir" de modernidade e progresso um país mergulhado num atraso geral quando comparado com outros países da Europa, destruía-se o que era antigo sem qualquer respeito pelo património histórico.
No regime então vigente, as zonas antigas, salvo um ou outro monumento isolado, eram vistas como espaços palusíveis de serem sacrificados em nome do progresso, o que queria dizer demolidas. Quando se escolhia uma zona concreta, avançava-se com o martelo sem dó nem piedade, silenciando de todas as formas possíveis todos aqueles que se manifestassem contra. Eram os tempos da Censura, em que os meios de comunicação se limitavam a elogiar e fundamentar, como porta-vozes da "situação", as medidas tomadas ou, meramente, a constatar os factos consumados. Por vezes, evocavam-se os locais desaparecidos com referências saudosas a tempos passados e a gentes a eles associadas, muito ao bom jeito lusitano, mas nada de críticas às decisões tomadas no presente, que seguiam, imparáveis, o seu curso.
Foi, exactamente, o que aconteceu na vasta área do que se conhece por Martim Moniz. Originalmente, esta zona consistia na denominada "Baixa Mouraria", em relação com a "Alta Mouraria" que é a que hoje realmente existe. Era uma zona de ruas onde, apesar da grande quantidade de edifícios de traça pombalina, vivia uma comunidade económico-social modesta. Era, para além disto, um dos lugares onde se concentrava muito da cultura popular lisboeta. Foi a pretexto do clima de alguma "licenciosidade", com alguma prostituição e "rufias" à mistura, que o governo presidido por Salazar, decidiu escolher esta zona para levar avante mais um dos seus projectos urbanísticos de "modernização e progresso" das cidades portuguesas. Seria um pouco inexacto não referir aqui que, já desde o início do século XX, a Baixa Mouraria vinha sendo, gradualmente, alvo de demolições. Só que estas eram quase esporádicas, pontuais e centradas em locais muito bem definidos e inseridas num vulgar plano de melhoramento de certos recantos urbanos, onde podiam haver razões de ordem higiénica. Acontece que foi só a partir dos anos quarenta, mais concretamente por volta de 1945, que se pôs em prática o plano urbanístico que levaria a uma gradual mas vasta demolição, que terminaria no "largo" que hoje se pode observar no centro de Lisboa. Muito correctamente, têm havido muitas vozes a descrever este local como o "Buraco do Martim Moniz".
As principais demolições, que deram a dimensão final a este espaço, estavam concluídas por volta de 1962. No lugar onde antes existia muito da zona baixa da Mouraria, onde casas e edifícios modestos conviviam com alguns outros assinaláveis, existia então um vasto terreiro, com zonas de terra batida que enlameavam facilmente com a chuva, muito utilizado como parque de estacionamento livre. Uma "terra-de-ninguém", onde surgia isolada a Capela de Nossa Senhora da Saúde, que foi o único edifício poupado ao devastador plano de demolição. Entre as "vítimas" mais lembradas deste verdadeiro "bota-abaixo" estavam o Palácio dos Marqueses de Alegrete em 1946, a imponente Igreja do Socorro em 1949 , o Teatro Apolo em 1957 e, por fim, o Arco do Marquês de Alegrete em 1961, que era também a última porta sobrevivente da antiga muralha."
Texto escrito por SN em Domingo, Setembro 14, 2008
Ontem numa passagem pelo Martim Moniz entristeci com os pedaços de História que demolidos se escondem entre pisadas, negócios e conversas de uma multidão de pessoas e étnias que ocupam um verdadeiro "buraco" numa "terra-de-ninguém".