quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Mother

 Laço Materno é um filme dedicado a afirmar que a personagem Akiko é a pior mãe do mundo. Negligente com o filho Shuhei, agressiva com a família que se afasta por não suportar mais o seu vicio em jogos e vadiagens, ela tem poucos momentos para vingar em lucidez. O seu papel é sempre o da irresponsabilidade maternal, o da negação perante uma sociedade que trabalha, tem direitos e deveres, o da marginalidade e o da insensibilidade. E Shuhei é o menino que resolve, que sobrevive sozinho, que é adulto sem poder ser criança. No entanto, o foco do filme não é Shuhei, mas sim a sua mãe. Se o foco estivesse na evolução de Shuhei, estaria tudo muito bem. Mas não. O foco é sempre a mãe, camuflada em perfeita vilã. E aqui o filme estrangula-se a si próprio. Porque a personagem é e será sempre massacrada em espiral como a principal malvada mas não apresenta resolução nem explicação para tal. Nem uma simples oportunidade para a própria vilã respirar. E o laço que tanto se quer explorar acaba por matar o núcleo destas personagens que vivem sempre num beco sem saída. E a nós, espetadores, é-nos apresentado um núcleo de personagens forte e interessante para depois se esfumar em leituras circulares, supérfluas e preguiçosas.


terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Diecisiete

 

Dezessete é um esplêndido filme espanhol que nos oferece uma historia sofrida e cuidadosamente dramática, repleta de mensagens honestas e inspiradores e com atuações brilhantes. O filme acompanha a vida de Hector, um adolescente de quinze anos que está num centro de detenção e reintegração juvenil por ter cometido diversos crimes, incluindo invasão e roubo. Hector é vitima da sua própria vida: criado longe dos pais e subestimado pelo irmão mais velho, Ama desesperadamente a sua avó, que se encontra em estado terminal- todos os pequenos delitos que comete é para manter o bem estar dela sem nunca pensar nas consequências. Solitário e introspetivo, tem como únicos amigos um livro de Código Penal (que sabe de cor) e um cão (com quem interage no centro de detenção). Entretanto, quando o cão 'desaparece' do centro, Hector decide fugir, resgatar o seu amigo e voltar para junto da sua avó. Inesperadamente, o seu irmão ajuda-o nessas missões às quais se propõe, e através daqui reinicia-se uma aproximação entre ambos e o reencontro com o amor que os bafejou na infância. A interação humano-animal é uma constante no filme e os caës com os quais Hector se cruza marcarão sempre os seus passos e evolução enquanto pessoa. Dificilmente ficaremos indiferentes a este filme se formos amantes de animais. Biel Montoro (Hector) e Nacho Sánchez (Ismael) são excelentes atores e o roteiro é tão criativo quanto engenhoso. Em nenhum momento o filme nos cansa ou exagera: o enredo e as atuações equilibram muito bem as emoções e toda a carga dramática. Dezessete é uma jornada de três dias em que ambas as personagens aprendem, evoluem e amam. E naturalmente perdoam a vida pelo azedume do passado que lhes dificulta o presente. O filme não é drama cliché, é um relato sólido da vida que suspira eternamente por felicidade mesmo quando tudo é adversidade.

domingo, 27 de dezembro de 2020

Viver Duas Vezes

 Viver Duas Vezes é um filme espanhol dramático com algumas nuances de comédia para aligeirar o peso da temática em questão. A temática é portanto a doença de Alzheimer que começa a afetar a vida de um professor universitário de Matemática e o seu pequeno núcleo familiar. À medida que a doença se torna uma dura realidade, este professor decide ir atrás do seu primeiro grande amor, com receio de esquecer tudo o que viveu. Para tal, contará com a ajuda da sua filha, genro e neta. A naturalidade é a chave deste filme: os atores atuam de forma simples e genuína e exploram as suas personagens com carisma, tentando fazer da imperfeição o motor para a normalidade das suas vidas. Destaque para a relação entre duas personagens: o avô e a neta- entre 'arranhadelas' e confusões próprias da diferença de geração, o amor puro e fiel mantêm-os unidos, sem necessitar dos melodramas comuns do cinema.  Mas o que realmente importa aqui é a abordagem ao Alzheimer. Estamos perante um filme bonito, engraçado, dramático, real e muito pouco prepotente. 

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Desenhos animados em dia de Natal:

 

(A continuação das aventuras de Po, agora o Dragão Guerreiro, e os cinco furiosos, contém as mesmas características que fizeram do original um sucesso: piadas irreverentes em torno de um panda lutador de  Kung Fu, sequências de lutas emparelhadas com a banda sonora do filme, e efeitos visuais 3D nas cenas de ação (uma dádiva do Kung Fu Panda 2 dada pelo avanço tecnológico da computação gráfica).

(Filme que nos apresenta uma comunidade de Yeti (mais conhecidos por Pé-Grande) que habita no topo de uma grande montanha, acima das nuvens. Certo dia um dos membros desta comunidade, tropeça num piloto acabado de se despenhar de um avião. E é quando vê o seu pé que percebe que está perante o Pé-Pequeno, que até aquele momento era apenas um mito. Decide então ir em busca de todos os pés pequenos do mundo para provar que tal facto não é mito mas sim realidade. E começa assim uma grande aventura entre Yeti e Humanos. A ideia do filme é bastante simples e resulta: inverter os maus da fita, ou seja, os Yeti não säo assim tão assustadores e os humanos conseguem-no ser bastante. Os momentos musicais säo exagerados e extensos mas e entretenimento familiar é garantido).


quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

The King

The King é uma adaptação de várias peças de Shakespeare que contam a história do rei Henrique V de Inglaterra que herda o reino após a morte de seu pai, o rei Henrique IV,  durante a Guerra dos Cem Anos entre ingleses e franceses. A fotografia e direção de arte são duas peças fundamentais neste filme que pretende ser um épico de guerra, embora várias vezes tombe para o drama histórico. A história é rica em detalhes e foca-se integralmente na relação hostil de Henrique V e seu pai e na sua inexperiência como futuro rei. O maior erro deste filme, a meu ver, é a infidelidade para com a verdade histórica em detrimento de acontecimentos fantásticos, talvez por seguir muito a linha de peças teatrais. Destacam-se dois atores com atuações magníficas: Sean Harris e  Robert Pattinson. Para os amantes de épicos de guerra, The King é uma narrativa confortável mas peca pelo excesso de violência, por subestimar factos históricos e por uma  cenografia escura e amorfa.