quarta-feira, 11 de novembro de 2020

A Plataforma

 A Plataforma, de Galder Gaztelu-Urrutia, é a imagem perfeita do caos em que vivemos.

A poposta é muito simples: uma prisão vertical em mecanismo rotativo em que a única fonte de alimento é uma plataforma repleta de comida que parte todos os dias do topo até à base.  A condição humana é posta à prova: os que se encontram nos níveis superiores da prisão alimentam-se como reis, embebidos pela gula. As sobras vão descendo à medida que a plataforma desce também, e quanto mais abaixo nos encontramos, menos comemos. Ninguém sabe quantos pisos existem, nem quantas pessoas ali estão, mas percebe-se que se houver um racionamento de comida, todas as pessoas consumiriam o necessário para poderem sobreviver. Mas esta é a utopia residente na película. No início conhecemos Goreng (Iván Massagué), um prisioneiro que acaba de chegar, por vontade própria. Conhecemos ainda Trimagasi (Zorion Eguileor), o seu experiente companheiro de cela, impaciente por liberdade.

É através de Goreng que conhecemos o cenário assustador de todo este mecanismo prisional e testemunhamos a desumanização ali presente.  O pròprio Goreng, prisioneiro por vontade própria, sofre uma mudança de mentalidade que aos poucos e poucos testa o limite da sua humanidade. Impedido de agir em grupo para restaurar alguma dignidade aquele espaço, decide agir sozinho e ser obviamente vitima da sua insanidade.

Graficamente, nâo é filme que se veja de ânimo leve. Mas creio que o estômago quer-se leve ou mesmo vazio. A violência gráfica é uma constante e a fotografia uma mais valia.

A Plataforma pode muito bem ser o retrato da nossa sociedade altruísta, individualista e egoísta. Como sobreviver e prosperar no meio de tanta violência? O fim pode ser surpreendente mal amado. Mas estamos perante uma verdadeira distopia e o desconforto é o objetivo a alcançar para o espetador. 

Direção de fotografia primorosa e um desempenho fenomenal do elenco. É notável a qualidade técnica duma produção tão modesta.

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