terça-feira, 30 de junho de 2009

Conceito angolano

Quando há um casamento, o noivo é obrigado a dar o lambamento, uma espécie de dote, à família da noiva. Acredita-se que o não cumprimento desse compromisso causa a morte dos filhos do casal.

Pina Bausch



Morreu a coreógrafa Pina Bausch

terça-feira, 23 de junho de 2009

Rotunda da Bolacha

Passeei-te na minha mão
Entreti-te com cócegas em dedais
Absorvi-te em pepitas de chocolate
Residentes na “Rotunda da Bolacha”
A tua expressão aprisionada morria na minha sonolenta paixão…
Não te ingeri
Passeei-te em entretenimento e absorção
Indigestão de saudade profunda
Saudade da digestão presente na minha ausência.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Périplo


Das montanhas do Iémen aos desertos da Líbia, dos cemitérios do Cairo aos rios da Mesopotâmia, dos "souks" de Alepo aos palácios de Petra, o livro "Périplo" vai até onde acaba a oliveira na margem sul do Mediterrâneo.
A série documental que Miguel Portas fez em 2003-4 com o realizador Camilo Azevedo tinha as duas margens do Mediterrâneo e vem em DVD no fim do livro. Mas o que agora está em 350 páginas de texto e fotografias é outra coisa, antes e além das filmagens. Algo entre o ensaio histórico e a viagem, um périplo no tempo e nestes espaços sem paralelo em Portugal. O Norte ficará para um futuro volume.
Camilo Azevedo fez a maior parte das fotografias em viagens de pesquisa, antes de filmar. Miguel Portas escreveu o texto depois da série, muitas vezes recorrendo a viagens posteriores. Há lugares que estão no livro e não estão na série, como Jerusalém. Texto e fotografia são dois discursos paralelos, que frequentemente confluem.
Neste mundo maioritariamente islâmico, mas também judeu e cristão, o ateu Miguel Portas demora-se nas religiões, e defende ao longo do livro a necessidade de dialogar com elas. Não o fazer é ignorar a maioria, e isso foi o que a esquerda fez, erradamente, quando pactuou com as ditaduras nacionalistas árabes. E os pobres voltaram-se para o islamismo político.
Miguel Portas diz que gostava de ter lançado "Périplo" semanas antes da campanha oficial para as europeias, mas o livro ficou pronto apenas dias antes. As duas primeiras apresentações, em Lisboa e Mértola, acabaram por aparecer no portal do Bloco de Esquerda, confundindo-se com a campanha. "Mas ainda não era campanha oficial", justifica Portas. "O lançamento em Coimbra, já em plena campanha, não o anunciei." De resto, diz, "é uma questão de pura formalidade", porque a pré-campanha já vem de Outubro. "As pessoas têm várias dimensões e nunca dissociei as partidárias e as não-partidárias, desde que cumpra a lei."
Portas diz ainda que "O Sul do Mediterrâneo andou devagar milhares de anos. De repente, levou com colonialismo, ditaduras, globalização - e refugiou-se nas mesquitas. A esquerda tem culpa." reconhece ainda Miguel.

sábado, 20 de junho de 2009

A sms mais bonita do meu dia de anos:

"Hoje não te posso dar um abraço, nem escrever coisas bonitas consigo...transcrevo:"Deus criou o mundo porque gosta de histórias." E eu gosto muito de ti. Carinho."

"Aquele Querido Mês de Agosto" chegou a França


Vale a pena falar de novo deste filme!!!

O filme de Miguel Gomes é a estreia da semana nos principais jornais franceses: o "Le Monde" chama-lhe "um monstro delicado, que faz o espectador feliz".
"Aquele Querido Mês de Agosto", o filme de Verão que Miguel Gomes fez numa "aldeia / perdida na beira", concelho de Arganil, teve hoje finalmente estreia comercial num país onde já tinha dado sinais de poder ser muito bem recebido depois da passagem pela Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes, em Maio do ano passado.
Confirma-se: está a ser muito bem recebido. É a estreia da semana em todas as publicações especializadas, a começar pelos "Cahiers du Cinéma", que dedicam a "Aquele Querido Mês de Agosto" um longo texto em que o Cyril Neyrat inscreve o filme na tradição do "melhor do cinema português" que sempre "negligenciou a velha divisão entre os géneros e amou demasiado a realidade".
No "Le Monde", Jacques Mandelbaum chama-lhe "um monstro delicado, que faz o espectador feliz" ("Há qualquer coisa de mágico na maneira como o cineasta convence o espectador a partir com ele à procura do seu tema") e "faz soprar o vento louco da liberdade sobre a planície do cinema": "A infiltração permanente dos registos, a combustão lenta dos grandes motivos que atravessam o díptico, a mistura carnavalesca dos humores e dos sentimentos, o desejo de reencontrar a crença na ressurreição estivalç de uma cultura popular perdida fazem de ‘Aquele Querido Mês de Agosto' um filme discretamente revolucionário, uma obra incandescente e bucólica, moderna e romântica". O "Libération" faz uma chamada de capa e diz que este filme não se parece com nada, a não ser "com o caos doce de um baile de 15 de Agosto". Ainda há mais: a revista "Les Inrockuptibles" nota que "Aquele Querido Mês de Agosto" demonstra um "virtuosismo discreto", o "L'Humanité" acrescenta que é um "filme raro".
Depois destas onze cidades francesas - Paris, Caen, Grenoble, Lyon, Tours, Nantes, Angoulême, Bordéus, Marselha, Nancy e St. Ouen l'Aumône -, o filme de Miguel Gomes terá outras estreias internacionais já confirmadas em Espanha, no Brasil, na Argentina, no Paraguai e no Chile.

Boa!

terça-feira, 16 de junho de 2009

Para a minha gata Luka!





Suzanne Nadine Vega (Santa Monica, Califórnia, 11 de Julho de 1959) é uma cantora estadunidense. Tornou-se conhecida mundialmente com a canção "Luka", presente no álbum Solitude Standing de 1987.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Tenho saudades (Parte II)

E mesmo assim, continuo com saudades tuas. Não faz sentido algum ter saudades tuas. Mas como odeio esta expressão eu tenho saudades tuas mesmo que não encontre um sentido para tal. Até porque ouvir-te dizer nada de jeito é bom. Sabe bem. É bom rir sinceramente. Rir com uma sincera gargalhada porque se está feliz de ouvir nada de jeito. Porque se está feliz somente porque se está a escutar. Sem muitas exigencias pelas palavras. Apenas escutar. Hoje em dia as pessoas escutam-se muito poucas umas às outras. Todas querem falar ao mesmo tempo. Por vezes não dizem nada. Apenas têm necessidade de falar e ver a pessoa ao lado acenar com a cabeça como se estivesse a partilhar daquilo que ela diz. Partilhar. Penso que reside aqui o enigma. As pessoas querem partilhar mas são egoistas para escutar. Até porque acenar com a cabeça não quer dizer que estejam a ouvir. Esboçam apenas movimentos mas o pensamento está já a divagar para outro lugar. Já estão à espera de contar algo na primeira pessoa. “Eu isto, eu aquilo, eu sei, eu gosto mais…” e não mais se lembram do que ouviram sem escutar. E depois espantam-se quando ouvem “Não te lembras do que te disse?” Eu própria me espanto montes de vezes. Eu própria não escuto com muita atenção. Eu própria prefiro falar do que escutar. Por vezes não digo nada mas prefiro falar que escutar. Porque escutar dá muito mais trabalho que falar. Escutar exige paciencia e atençao. Eu na maioria das vezes começo logo a falar para não ter que aturar a conversa dos outros. E quando aturo aceno mesmo que esteja a ouvir ou não. Comporto-me como todas as outras pessoas. Sei que tenho de aprender a escutar. Não a tudo e a todos até porque dois ouvidos não são mil mas tenho de aprender a escutar algumas pessoas. Para evitar ouvir aquela pergunta estúpida “não ouviste nada do que eu te disse pois não?” Estúpida porque quando se faz esta pergunta já se sabe que se vai ouvir um Não. E eu respondo muitas vezes não mesmo quando a conversa não me aborrece. É porque para além de assumir que escuto mal, ainda sou despistada. Despistada não é a palavra correcta. Digamos que, como a minha mãe diz, sou cabeça no ar. Desde pequena que me dizem que sou cabeça no ar. Mas cabeça no ar sempre fez sentido para mim. Pior se fosse cabeça na terra, cabeça na água, cabeça num outro sitio qualquer que não tivesse ar. E por ser cabeça no ar, escuto pior ainda. Qualquer palavra dita pela outra pessoa me leva para outros lugares que não o real. Digamos que gosto de viajar com as palavras. Eu não faço por mal. Mas nunca sei dizer que não a um convite de uma palavra. Só faço por mal quando aceno com a cabeça mesmo sem saber o que estão a dizer. Aceno sempre de cabeça no ar.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Festas de Lisboa


AS FESTAS DE LISBOA
ESTÃO DE VOLTA…


Marchas e arraiais populares, desfiles, concertos, espectáculos, exposições, oficinas e ateliers, workshops, festivais, artesanato, mostras de cinema, teatro, fado, dentro e fora de portas, na rua e à boleia de transportes públicos, entre tantas outras iniciativas, preenchem a cidade de Lisboa até 15 de Julho. Em 2009, as Festas de Lisboa ocupam a cidade com cor e alegria, em acções mais tradicionais e com novos formatos, numa aposta na diversidade de públicos e de conteúdos. É o regressa também a sardinha à cidade. A já tradicional imagem das Festas de Lisboa está mais vaidosa, trajando agora sete novos fatos, com desenho exclusivo de sete artistas plásticos de diferentes sensibilidades e percursos artísticos, convidados especificamente para desenharem a sua própria sardinha, no contexto das Festas de Lisboa. Do convite dirigido aos artistas plásticos Bela Silva, Henrique Cayatte, João Maio Pinto, Luís Henriques, Nuno Saraiva e Pedro Proença, resultaram as sete belíssimas ilustrações que acompanham os materiais de comunicação e divulgação das Festas de Lisboa 2009, trabalhados uma vez mais, com a mestria que já conhecemos, pelo atelier Silva! Mas este ano existe um conjunto alargado de instituições e parceiros que quiseram fazer das Festas de Lisboa uma acção mais ampla, mais abrangente, mais dinâmica. Sob o desígnio UMA PROGRAMAÇÃO COM A CIDADE DENTRO, juntaram-se às Festas de Lisboa 2009 treze parceiros. Este contributo de tantas instituições culturais da cidade de Lisboa dá origem ao eixo OUTRAS CENAS. E OUTRAS CENAS são Festas de Lisboa com a parceria da Casa da América Latina, a Cassefaz Teatro, o CCB – Centro Cultural de Belém, a Culturgest, o Instituto Franco-Português, a Metropolitana, o MUDE – Museu do Design e da Moda, o Museu do Oriente, a MusicBox Lisboa, a OPART – Organismo de Produção Artística, e.p.e., o Teatro da Garagem e o Teatro Nacional D. Maria II. Juntaram-se também a este eixo alguns dos equipamentos geridos pela EGEAC – os teatros São Luiz e Maria Matos e os museus do Fado e da Marioneta.


quarta-feira, 10 de junho de 2009

Prémio Camões


Arménio Vieira


Nascido na Cidade da Praia em 1941, colaborou desde o início dos anos 60 em revistas e suplementos literários e publicou em 1981 a compilação Poemas, reeditada em 1998. Em 1990, publica a ficção O Eleito do Sol (editada em Portugal pela Vega), cujo protagonista é um antigo escriba egípcio, tema desde logo sugestivamente afastado das indagações mais identitárias de boa parte da ficção cabo-verdiana anterior. Seguiu-se-lhe No Inferno, em 1999, com edição portuguesa da Caminho, um romance que confirmou a originalidade e a dimensão experimental da sua obra. Recentemente, regressou à poesia, com MITOgrafias (2006), um livro percorrido por referências a vários poetas ocidentais, de Camões a Rimbaud. Saindo pouco de Cabo Verde, onde reside, Arménio Vieira não é ainda um autor particularmente conhecido no exterior, como o não foi João Vário (1937-2007), possivelmente o poeta cabo-verdiano da sua geração com quem revela mais afinidades. Pode ser que este prémio sirva não apenas para projectar a obra de Arménio Vieira, mas também para despertar o interesse por outros autores cabo-verdianos.

Barroco Tropical-Novo livro de Agualusa


José Eduardo Agualusa acha-se muito bem onde está, a escrever sobre o absurdo. Nascido no Huambo há 48 anos, publica romances, contos e crónicas há 20. Vive em Luanda e em Lisboa, com idas ao Rio de Janeiro. As suas edições têm crescido sistematicamente em Portugal, está a crescer no Brasil, e desde 2007 - quando ganhou o prémio do diário britânico "The Independent" para melhor romance estrangeiro - as traduções europeias explodiram. Esta popularidade permitiu-lhe recentemente negociar bem com a Dom Quixote/Leya, quando a Quetzal lhe fez uma proposta. Agualusa não se queixa da vida. Mas em Angola é polémico volta e meia. Antes das eleições de 2008 atacaram-no por ter dito que Agostinho Neto - primeiro presidente de Angola - era um "poeta medíocre". Chegaram a pedir que fosse processado por ultraje à moral. Recebeu ameaças. E teve medo, diz nesta entrevista feita ao princípio da semana no seu apartamento de Lisboa, que é onde tem a biblioteca. No seu novo livro, "Barroco Tropical" - talvez o primeiro que retrata a loucura de Luanda pós-guerra - há uma Presidente em vez de um Presidente. O protagonista escreve. Tem uma amante cantora, a mulher está a separar-se dele e ainda lhe aparece uma modelo que o vê como Salvador. Essa mulher sabe coisas sobre o poder e é morta. A partir daqui, é um cortejo de personagens, dos céus ao submundo.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

terça-feira, 2 de junho de 2009

Tenho saudades (Parte 1)

Tenho saudades de ti! Saudades de ver-te sem ter que ouvir-te. Saudades de ouvir-te mesmo quando não dizes nada de jeito. Por vezes tu não dizes nada de jeito. Mas eu gosto de ouvir-te mesmo assim. Mesmo assim, sem dizeres nada que faça sentido. Porque afinal não sei mais o que faz sentido. Fará sentido dizeres algo com jeito se eu gosto de ouvir-te a dizer nada de jeito? Penso que não. Que não fará sentido algum. Até porque a minha avó agora com estas coisas da idade e das doenças diz por vezes coisas sem jeito. Alguns riem, outros ficam preocupados e há ainda alguns que tentam que ela repita palavras que digam algo de jeito. Eu prefiro escuta-la em silencio. Porque não sei o que é dizer algo de jeito. As pessoas esforçam-se por ouvir algo de jeito vindo da boca de outra pessoa. Porque as pessoas sentem-se bem a ouvir algo que faça sentido. Porque se não fizer sentido é maluquice. Mas sentido é uma palavra que me causa alguma confusão. Confusão , receio e medo. Odeio aquelas frases semi feitas, semi fabricadas, que são ditas de uma forma tão certa que parecem trazer a verdade com elas e que te subjugam à verdadeira incerteza e insegurança que sentes. “Mas o que estás para aí a dizer? Isso não faz sentido nenhum.” Ai! Como odeio ouvir isto. Sentido? Qual sentido? Sentido proibído? Obrigatório? Sentidos. Eu conheço pelos menos cinco. Olfacto, tacto, visão, paladar e audição. Cinco sentidos e nenhum deles proibído ou obrigatório. Sentir é o verbo que o exprime. E eu gosto de sentir o que quero e bem me apetece. Por isso não fazer sentido causa-me comichão. Não fazer sentido retira todo o siginficado do verdadeiro sentido da palavra “Sentido”.