sábado, 30 de maio de 2009

The House at Sugar Beach - Helene Cooper


Helene Cooper fugiu da Libéria aos 14 anos, depois do golpe de Estado em que a mãe foi violada e o tio assassinado. Nos EUA, tornou-se repórter e foi cobrir todas as guerras, excepto as de África. Foi preciso estar à beira da morte no Iraque para pensar: que estou a fazer aqui? Escreveu "A Casa da Praia do Açúcar", editado em Portugal pela Quidnovi.

Em 2003, a repórter do "Wall Street Journal" Helene Cooper foi enviada para o Iraque. Fez todo o treino militar necessário para poder ser integrada, como "embedded", numa unidade do Exército, e partiu para o Kuwait, e depois para o Iraque, num jipe Humvee igual aos dos militares. Na confusão de um ataque, o veículo sofreu um acidente: um tanque passou-lhe por cima, esmagando-o. Todos pensaram que Helene tinha morrido. Principalmente ela própria. Ouviam-se gritos: "Ela está a sangrar! Ela está a sangrar!" Mas lá conseguiram retirar o jipe de baixo do tanque. Desencarceraram a tripulante, estenderam-a na areia do deserto, chamaram um helicóptero para a evacuação. A guerra quase parou, estavam todos à volta da jornalista. E, no meio de tudo isto, Helene pensava: "Eu não devia estar a morrer aqui. Se vou morrer, devia morrer a cobrir a guerra do meu próprio país, e não esta, que não me diz nada." E, pela primeira vez em 20 anos, Helene Cooper sentiu vontade de regressar a casa.
Em Washington, disse aos seus editores que queria ir para a Libéria, de férias. Eles sugeriram-lhe que fosse antes como repórter. A guerra civil tinha rebentado no país, que estava a ser evacuado de americanos. "Vai e faz uma reportagem", disse o editor. Helene foi. Tinha uma pista: a fábrica de pneus Firestone, onde sabia que a irmã trabalhara. Telefonou primeiro para a Firestone de Nashville, nos EUA, pedindo o contacto da sucursal liberiana. Dias depois ligou-lhe de um telefone-satélite o gerente da fábrica na Libéria. Helene disse: "Estou à procura de Eunice Bull." O homem respondeu:
"A Eunice não está aqui neste momento, mas..."
Helene, que ia a conduzir, travou subitamente, encostou o carro à berma. "Não está aqui neste momento?" Então Eunice estava viva!
Partiu para a Libéria e encontrou a irmã. "Foi a coisa mais importante que fiz na vida", diz Helene Cooper. "Quando agora penso nisso... não sei o que andei a fazer durante 23 anos!"
Tinha fugido da Nigéria aos 14 anos, após o golpe de estado de 1980, e nunca mais voltara. Toda a família viera para os EUA, excepto Eunice, a irmã adoptiva, que pertencia à etnia Bassa, considerada inferior. Os Bassa pertencam ao Povo da Terra, enquanto a elite era Povo do Congo. Helene, do Congo, não sabia se Eunice, da Terra, estava viva. Não sabia nada sobre o seu país, com o qual perdera totalmente o contacto, do qual não quis saber nada.
Agora, de regresso, o que sentia era um misto de estranheza e familiaridade. Mas também, inexplicavelmente, um grande orgulho. "A guerra civil estava em convulsão. Tinham chegado as forças de manutenção de paz, mas tudo estava ainda num pandemónio. Não havia electricidade, nem água corrente, milhares de órfãos enchiam as ruas, meninos-soldados, com metralhadoras AK-47. Eu saí do avião, dirigi-me para o terminal, ainda vestida como se estivesse no Iraque, com botas teflon, blusão cheio de bolsos, mochila... uma repórter americana. E via aquelas mulheres liberianas, com as suas toilettes sofisticadas, apesar de estarem numa zona de guerra, sempre a gritar umas com as outras... nesse primeiro momento senti-me muito americana. Refugiei-me na minha identidade de repórter, para me proteger. Mas depois comecei a sentir... espera lá! isto é a minha casa! E comecei a rir-me para dentro. Estou em casa, estou em casa."
Apanhou um táxi para a cidade. Pelo caminho, foi vendo como tudo estava destruído, com preocupação. E orgulho. "Este lugar é uma merda, mas é meu. Este lugar horrível é a minha casa. Eu venho de um lugar. Também tenho uma casa. Posso dizê-lo aos meus amigos americanos. Antes, não tinha nada para mostrar. Tenho andado a fugir disto, mas é isto que tenho de enfrentar. Porque demorei tanto tempo?"
Nas ruas, as pessoas reconheciam Helene, que entretanto se tornara muito parecida com a mãe. "Helene Cooper!" diziam. E apontavam para ela, ou vinham abraçá-la. "Era ao mesmo tempo fantástico e estranho."
Até aos 14 anos, Helene viveu num palácio de 22 assoalhadas, junto ao mar - a casa da Praia do Açúcar. Pertencia a uma família rica e "nobre", descendente dos colonizadores do país, que saíram dos EUA, em 1820, após a libertação dos escravos.
O que aconteceu depois foi que todos os "Congo" foram perseguidos, expulsos dos empregos, torturados, assassinados. O presidente e os ministros foram executados. A mãe de Helene foi violada por um grupo de soldados que entrou lá em casa, enquanto as três filhas esperavam, fechadas num quarto. O tio foi executado.
A família fugiu para os EUA. Eunice, a irmã adoptiva, foi deixada para trás. Helene foi viver para o Tenessee, depois para a Carolina do Norte. Tentou adaptar-se ao novo ambiente e, para isso, precisou de esquecer a Libéria.
A Helene não lhe interessava o que se passava na Libéria, mas interessava-lhe tudo o resto. Tornou-se jornalista. "Queria viajar. Queria cobrir a política americana e cobrir guerras. Não a minha, mas as guerras dos outros. Na Libéria, tudo aconteceu tão repentinamente. Fui apanhada de surpresa. De um momento para o outro, as pessoas comportavam-se de forma estranha, e eu nem queria acreditar que aquilo estava a acontecer. Agora queria compreender como é que as coisas acontecem. Para nunca mais ser apanhada desprevenida."
Com o "Wall Street Journal", para o qual trabalhou antes de entrar no "New York Times", Helene Cooper foi enviada especial a várias guerras, em todas as regiões do mundo, excepto África. Mas sempre soube que um dia voltaria lá.
A partir daí, quis trabalhar em todas as histórias relacionadas com a luta contra o terrorismo. Acabou no Iraque, "embedded" com os invasores, no meio de uma batalha em que chegou a pensar ter morrido. Foi preciso chegar a esse ponto. Agora sim, estava pronta para a sua terra.
Na Libéria, foi capaz de entrevistar os assassinos do seu tio. Encontrou Eunice, que tinha passado pelo Inferno, e lhe perdoou. Na verdade, nunca se sentiu abandonada. "Deus quis que eu ficasse, para ser mais forte", disse ela. E ainda conseguia sentir-se orgulhosa da irmã. "Ela, que vivia na Libéria, com toda a gente a matar-se, numa guerra muito mais violenta do que a iraquiana, voltou-se para mim, cheia de admiração: 'Uau, estiveste no Iraque, um lugar tão perigoso. Que corajosa que és!'"

Por:Paulo Moura

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Don Giovanni


Sobe ao palco do São Carlos, em Lisboa, uma nova produção da ópera que marca o apogeu dramático de Mozart: "Don Giovanni". Para ver de 30 a 14 de Junho. (Eu já vi, fui à ante-estreia).

A história do sedutor sem escrúpulos é protagonizada por Nicola Ulivieri, que recebeu da crítica italiana o prémio Abbiati justamente pela sua interpretação do repertório mozartiano. Ao seu lado, vão estar figuras como a meio-soprano alemã Katharina von Bülow ou o baixo-barítono norte-americano Kevin Short.

O espectáculo conta ainda com a participação do Coro do Teatro Nacional de São Carlos e a Orquestra Sinfónica Portuguesa.

"Don Giovanni" é um drama em dois actos, com libreto de Lorenzo Da Ponte.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Ciclo Soundtracks



O Ciclo Soundtracks decorre, de hoje a sábado, no Musicbox, Cais do Sodré, em Lisboa - músicos em palco, e filmes como Shaft", "Superfly", Tacones Lejanos" ou "Homem da Câmara de Filmar" na tela. Integrado nas Festas de Lisboa, o ciclo pretende revelar a contínua inspiração que as imagens suscitam no processo criativos dos músicos, bem como celebrar as canções do cinema e a forma como elas se tornaram dele indissociáveis (certamente, no caso de Almodovar).

Esta noite, sobem ao palco os Cais Do Sodré Funk Connection, banda com residência fixa no Musicbox e verdadeira orquestra soul onde encontramos, por exemplo, os Cool Hipnoise Tiago Santos (guitarra), Francisco Rebelo (baixo) e João Cabrita (sax). Naturalmente, será a eles que caberá a recuperação do espírito blaxploitation - a banda fará a festa em palco e todo esse imaginário será ilustrado em ecrã, com o trabalho de imagem criado pela Droid ID.Sexta, o cariz da noite será totalmente diferente. Os guitarristas Nuno Rebelo, Tó Trips, Alexandre Soares e Flak apresentarão uma nova banda sonora para "O Homem da Câmara de Filmar", criada especialmente para o Ciclo Soundtracks. As primeiras quatro secções do filme terão peças de cada um dos músicos a solo, que se reunirão em quarteto para a quinta, a derradeira.O ciclo encerra sábado. Equipados a rigor e apoiados pela projecção de excertos do cinema de Almodóvar, os "Tacones Lejanos", formados propositadamente para esta actuação e onde encontramos os Rádio Macau Filipe Valentim e Alexandre Cortez, o duo Ela Não É Francesa Ele Não É Espanhol (Inês Jacques e Eduardo Raon), a actriz Carla Bolito ou Luanda Cozzeti, dos Couple Coffee, interpretarão canções que ajudaram a dar forma ao imaginário do realizador espanhol.O início dos concertos está marcado para as 23h, hoje, e 24h, sexta e sábado. A entrada custa oito euros.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Tropfest



O Tropfest é o maior festival de curtas metragens do mundo. Começou há 17 anos em Sydney, na Austrália. Teve a sua 1ª edição no ano passado em Nova York. O vencedor de 2008 foi este filme totalmente filmado com um telemóvel em Sidney e NY por Jason van Genderen
O seu orçamento foi de 40 dólares (+/- 30 euros) !

Festival de Cannes: João Salaviza ganha Palma de Ouro para «Arena»


O realizador português, João Salaviza venceu o Palma de Ouro de curtas-metragens no 62/o Festival de Cannes pelo filme «Arena» que conta a história de um rapaz que está em prisão domiciliária.
João Salaviza, 25 anos, recebeu a Palma de Ouro pela curta-metragem, «Arena« que em 17 minutos conta a história de um jovem em prisão domiciliária. Esta foi a sua primeira curta-metragem profissional e a única película portuguesa em competição.


O austríaco Michael Haneke foi o grande vencedor do Festival de Cinema de Cannes de 2009, com a Palma de Ouro para «The White Ribbon». O filme conta a história de um grupo de crianças alemãs no período anterior à I Guerra Mundial, constituindo uma reflexão sobre a geração que viria a desencadear o nazismo.

Outros galardoados em Cannes foram Charlotte Gainsbourg (Melhor Actriz, em «Antichrist»), Christoph Waltz (Melhor Actor, em «Inglorious Basterds») e o filipino Brillante Mendoza (Melhor Realizador, por «Kinatay»). O Grande Prémio do Júri foi para «Un Prophéte», realizado pelo francês Jacques Audiard.

A cadeira que mente

O metro percorre diariamente o subsolo de Lisboa. Como se de uma minhoca se tratasse. Se não fossem as cadeiras vermelhas de estofo roxo que me recordam sempre a minha primeira mochila, eu substituiria a imagem maquinal do metro pela representação de uma minhoca. Mas aquelas cadeiras que conjugam na perfeição o vermelho e o roxo fazem-me sempre lembrar da minha primeira mochila. Eu prefiro sentar-me no metro e observar uma cadeira vazia que ter que olhar para uma cadeira ocupada por um desconhecido qualquer. Uma cadeira vazia nunca chega a ser uma cadeira. É sempre a minha primeira mochila. Uma cadeira ocupada é simplesmente uma cadeira. E o desconhecido sentado é simplesmente um desconhecido.
Por vezes o que é simplesmente aquilo que é não é tão simples quanto parece. Caso contrário era simples apenas. Mas neste caso é simplesmente. E simplesmente termina com sufixo em mente. Como uma mente que mente a si própria de tantas representações que faz do que observa. Observar é simples, representar é simplesmente. Simples é o metro e as suas cadeiras. Simplesmente minhoca, simplesmente mochila.
Tem dias em que o desconhecido sentado numa cadeira do metro não é tão simples quanto parece. Como aquela pessoa que se sentou ontem á minha frente e que não me deixou ver a minha primeira mochila. Fui quase que obrigada a observar aquela pessoa sentada na cadeira do metro. Tem dias que os desconhecidos são simples mas tem outros dias em que os desconhecidos são simplesmente o que são e nos mentem com a sua presença. Aquela pessoa de ontem era simplemente tão parecida contigo que por momentos duvidei da minha própria mente. Mente tão bem quando mente a mente.
Tive uma vontade enorme de chorar. Não sei porque. Só sei que tive vontade de chorar. Uma sensação de vazio percorreu o meu corpo. Tive muita pena então das cadeiras vazias do metro. Naquele momento senti-me tão vazia quanto elas. Percebi porque as cadeiras vazias me fazem lembrar a minha primeira mochila. A mochila está sempre cheia de muitas coisas. Uma mochila vazia é quase como uma mochila sem vida. Porque afinal, deixa-se de ter vida quando não se faz aquilo que se sabe.
Apeteceu-me pegar na mochila e sair dali. Ir ao teu encontro. Mas a cadeira do metro estava ocupada. Era na verdade uma cadeira. Fiquei triste ao perceber que sempre que me apetece ver-te tu não estás. Fiquei triste e angustiada. Quando uma pessoa não está no lugar que nós queremos, existe sempre um buraco, um buraco vazio com ar de pedinte e esfomeado que pede incansavelmente para fechar. Como as cadeiras vazias que pedem para alguém se sentar. Mas tudo o que o buraco recebe são esmolas. E mendigar é repetir os mesmos actos todos os dias mesmo sabendo que nada vai mudar.
Ainda tentei olhar para alguma cadeira vazia com a esperança de sair dali de mochila às costas e ir ter contigo. Porque por vezes canso-me de ouvir o buraco que mendiga e apetece-me fazer algo para ele parar de me chatear. Mas o metro estava atolado de gente e eu não via em lado nenhum a minha primeira mochila. Ainda pensei correr até casa e pegar na mochila verde que levo sempre e de cada vez que vou ter contigo. Mas quando escutei um “Próxima estação, Avenida” percebi que não tinha saido na estação correcta. SaÍ a correr com o barulho das portas a fechar. Olhei de soslaio para a pessoa desconhecida que era tão parecida contigo. Continuava sentada. Olhar sereno e tranquilo. Simplesmente uma pessoa desconhecida que me mentia com a sua presença. A mim, apeteceu-me chorar.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Wok



O grupo de percussão Tocá Rufar estreou quarta-feira no Teatro da Trindade, em Lisboa, o espectáculo "Wok-ritmo avassalador", o mais ambicioso e exigente projecto de Rui Júnior.
Num futuro distante, dois clãs rivais lutam para sobreviver a uma realidade selvagem. Forçados pelas circunstâncias e inspirados pelo instrumento Bombo vão resistir cooperando e aliando-se para formar um clã uno.
Uma demanda arrojada que atravessa instrumentos, ritmos e danças oriundos do imaginário tradicional Português.
A maior investida da percussão tradicional Portuguesa, conduzida por um belíssimo elenco, num espectáculo bombástico, inesperado e hilariante.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Metanarrativas



Metanarrativa: Forma textual de autoconsciência que ocorre no processo narrativo e que nos textos de ficção também toma o nome de metaficção. Na prática textual, uma metanarrativa é todo o discurso que se vira para si mesmo, questionando a forma como se está a produzir uma narrativa. Uma metanarrativa assume o sentido de uma grande narrativa, uma narrativa de nível superior (“meta-“ é um prefixo de origem grega que significa “para além de”), capaz de explicar todo o conhecimento existente ou capaz de representar uma verdade absoluta sobre o universo.




Agora Luanda


Projecto de Inês Gonçalves e Kiluange Liberdade, "Agora Luanda" é composto por um livro, fotografias e filmes. Apresentado ao público no ano passado, ocupa agora, em forma de exposição, a Plataforma Revólver, em Lisboa até 20 de Junho.
Retratos da juventude de Luanda, os seus hábitos, as suas roupas, as suas músicas, as suas tradições. "Agora Luanda" é um trabalho conjunto de Inês Gonçalves e Kiluange Liberdade. Editado em livro no ano passado, mas também realizado em formato de exposição, este projecto é composto por fotografias, filmes e por textos de José Eduardo Agualusa e Delfim Sardo.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Dizem por aí:


"Storia, Storia" é um disco de canções tão perfeitas que soa a clássico absoluto"

terça-feira, 19 de maio de 2009

Almodovar em Cannes

Depois de "Navega", o "Storia, Storia"


Três anos depois do inesperado sucesso de "Navega", a cabo-verdiana Mayra Andrade regressa com um disco luxuoso, gravado entre o Brasil e Cuba, com funanás que cheiram a Bahia e jazz e mornas de mãos dadas.
Há três anos o seu disco de estreia conseguiu o surpreendente feito de atingir o galardão de ouro de vendas em Portugal, algo que, por norma, está reservado à música anglo-saxónica, a brasileiradas género-bota-o-pé-no-chão-qui-legáu ou a discos com canções a passar nos "Morangos Com Açúcar". "Navega" ainda ganhou o Prémio da Crítica Discográfica Alemã e um importantíssimo prémio da BBC na categoria Novo Artista. Ela tinha 21 anos.
"Sucesso é o que se espera", começa por dizer, em tom renitente. "É o que se deseja sempre", continua, antes de se abalançar a frases mais compridas. "Faz-se um disco com tudo o que se tem e o melhor que se pode, por isso não vou dizer que foi uma enorme surpresa. Mas também não vou dizer que esperava que fosse um sucesso com uma dimensão tão grande."
O raciocínio anterior acaba com ela a diminuir os feitos do disco anterior: "Eu comecei pelo mais difícil, que é a vida de palco e enfrentar o público. Um disco, para mim, é apenas um complemento." O palco, portanto, é a suprema experiência. Teoricamente, é uma tese arriscada. No caso dela faz sentido.
Há seis anos vimo-la na Toscânia (Itália), num festival de cultura portuguesa. Foi uma surpresa tremenda: uma garota desconhecida subia ao palco, e descalça, indomável, trazia uma voz de ouro para a frente de uma música que, sendo cabo-verdiana, não parecia limitar-se às fronteiras do seu país de origem.
Mayra nasceu em Cuba. Como o marido da mãe era diplomata passou a vida a viajar. Por essa altura tinha vivido largas temporadas em Cabo-Verde, mas também tinha passado por Angola, Alemanha e Senegal. Precoce, tinha-se estabelecido em Paris, sozinha, aos 17 anos, e já ganhava a vida graças aos concertos, acompanhada por uma data de homens mais velhos que compunham a sua banda. Paris não surgiu por acaso: ela fala francês desde os seis anos, e com 16 ganhou a medalha de ouro dos Jogos da Francofonia, no Canadá, com uma canção em francês.
Mayra Andrade gosta de dizer que faz "música ilegítima". Quando lhe pedimos para explicitar a expressão, ela usa uma imagem curiosa: "O que é um cão bastardo? É um cão que já não tem raça. A música cabo-verdiana é mestiça e eu ainda por cima sou permeável - tudo o que me encanta noutras músicas entra na minha. Andei por todo o lado, pelo que a minha música é naturalmente assim." Ela diz que a sua abordagem à música "é como ir a um buffet e ter a liberdade de provar um pouco de tudo" e acrescenta que "vir de um país não quer dizer que estejamos condenados [a ficar fechados nele]".
Ouvindo "Storia, Storia" fica-se com a certeza que ela não está condenada a ficar fechada nas fronteiras do seu país. É um disco que assenta na música cabo-verdiana, sim, mas que vagueia um pouco por todo o lado: tem o "tres" (guitarra de três cordas) tipicamente cubano, percussões brasileiras, koras africanas. Há músicos angolanos, guineenses, brasileiros, cabo-verdianos. Melodicamente, o disco deve muito ao Brasil, onde, de resto, uma boa parte do disco acabou por ser gravado (a outra parte foi em Cuba). "A música brasileira ocupa uma grande parte das minhas escutas", admite, para depois citar as inevitáveis divas da MPB como influências.
"Storia. Storia" é um disco luxuoso, com sumptuosos arranjos de cordas escritos por Jacques Morelenbaum (colaborador habitual de Caetano), suaves nuances de jazz na melancolia de um trompete, muito piano, etc., o que o coloca num campeonato bem distinto de um disco predominantemente acústico e simples como "Navega".
As canções, diga-se, não precisam de mais nada e é claro que Mayra está a apontar para o mercados das divas brasileiras e que vai ganhar a aposta. Um pequeno detalhe revela a ambição: o nome do disco, "Storia, Storia", era uma expressão antiga, cabo-verdiana, que se usava quando as pessoas se juntavam para contar histórias. "É como um desafio", explica Mayra: "Quem sabe contar melhor, que conte agora."

domingo, 17 de maio de 2009

Cannes 2009







"Un Prophete" de Jacques Audiard e "Kinatay" de Brilante Mendonza são dois filmes em competição no festival de Cannes que eu vou querer muito ver.

sábado, 16 de maio de 2009

IV Grande Desfile Máscara Ibérica


Começou ontem em Lisboa o IV Grande Desfile Máscara Ibérica. Certame pretende dar a conhecer rituais ancestrais que ainda não se perderam no tempo.
O desfile tem como objectivo reunir vários sinais da cultura ibérica etnográfica e perpetuar os rituais ancestrais que ainda permanecem vivos em várias regiões de Portugal e de Espanha.
O IV Grande Desfile Máscara Ibérica, visto, por muitos, como o maior desfile temático europeu, começou ontem e prolonga-se até domingo, 17 de Maio. Mais uma vez, Lisboa recebe esta parada, que, o ano passado, reuniu 30 mil pessoas na Baixa da cidade.
Em paralelo com o desfile decorre a "Mostra das Regiões", uma oportunidade para os participantes promoverem e divulgarem a sua oferta turístico-cultural para os milhares de turistas que vão à mostra.
A novidade desta edição é um dia dedicado inteiramente ao Rio Douro. Além do desfile e da mostra, os visitantes podem assistir a concertos e a espectáculos de fogo-de-artifício ou participar nas provas de vinhos e degustação de produtos regionais.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Cannes 2009




www.festival-cannes.com

Com a Regina e a razão do meu lado.




Tula: Pois é Bé, tinhas razão. Regina Spektor é fixe.

Bé: Niilismos à parte, adoro ter razão(1)! Foi preciso algum tempo até perceberes que eu tinha razão em relação à Regina.

(1) Razão:"A razão não é uma instância transcendente, dada de uma vez por todas, mas sim um processo que se desdobra ou realiza ao longo de um certo tempo."

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Capitão Planeta


Capitão Planeta (no original em inglês Captain Planet) é um super-herói criado no começo dos anos 90 pelo desenhista americano Ted Turner como uma forma de alerta e interação para com seus telespectadores, que em sua maioria são crianças e adolescentes.
Trata-se de um herói ecológico com poderes da natureza. Ele é uma combinação dos poderes dos cinco Protetores: Terra, Fogo, Vento, Água e Coração – intensificados. Todos os elementos e as forças da natureza estão à disposição do mesmo, ele possui um vasto conhecimento sobre o universo; emocionalmente é uma mistura das personalidades dos Cinco Protetores, uma combinação de suas Almas e de seus corações. Mas, acima de tudo é uma metáfora do trabalho em equipe e da cooperação. Se o Capitão Planeta for exposto a lixo tóxico, poluição do ar, chuva ácida e outros poluentes, seus poderes enfraquecem temporariamente e então ele precisa retornar à Terra para "recarregar" suas energias. O Capitão Planeta tem uma enorme empatia e "sente" o sofrimento dos outros seres – sem exceções. Por esta razão, procura não trazer sofrimento aos outros, o que o leva a usar a sua inteligência além da força física na luta contra os “inimigos da Terra”. Apesar de ser um super-herói do meio ambiente, ele tem consciência de que não poderá resolver os problemas ecológicos do mundo para sempre, fazendo questão de dizer que todos precisam aceitar suas responsabilidades em relação ao futuro da Terra. Por isso, sempre repete: "O poder é de vocês!". Lembrando que as pessoas têm o poder de mudar o mundo. Como a maior parte dos Super-Heróis, o Capitão Planeta só aparece vestido com uniforme. Essa não é uma roupa comum e sim os elementos da Terra que fazem parte de sua composição. Com isso, ele tem a capacidade de reorganizar sua estrutura molecular e de se transformar nos vários elementos da natureza - água, vento, fogo, gelo etc. Sua aparência reflete as diversas culturas, com cabelos verdes da cor das florestas, pele azul da cor do céu, olhos castanhos da cor da Terra, peito, luvas e botas vermelho-sangue e o globo do mundo em amarelo da cor do sol. O globo está localizado no seu peito e, às vezes, muda de cor e fica cinzento quando o Capitão Planeta perde seus poderes ou é exposto a grandes níveis de poluição.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Para Marley ver...



Talvez este seja um cenário idêntico ao que te contaram...
Mas não é tão mau como aparenta :)



A vontade em organizar existe...
(Isto dá jeito para o dia em que tenhas de me ir buscar...)

Sara Tavares


"Xinti" é o novo disco de Sara Tavares que adianta:
"Tem tanto Cabo Verde quanto o anterior: está lá tudo, mas de forma mais subtil. Sendo que o que há de Cabo Verde em mim, já é reinventado. Mesmo o meu crioulo não é puro, misturo várias variantes. Não tenho ligação à música cabo-verdiana da tradição como vivente, não cresci com ela. Tenho como ouvinte, o que é diferente.Não me sinto representante da música cabo-verdiana, prefiro considerar-me como parte de uma geração de jovens da diáspora de Cabo-Verde. Sou cabo-verdiana pela cor de pele, pela língua e pela história, mas também sou portuguesa. Nasci cá."

domingo, 3 de maio de 2009

E por ser dia da mãe...

Tudo sobre minha mãe. Projecção cinematográfica no Centro Cultural Francês. Almodôvar na cidade da Praia. Tudo sobre mi madre. O rótulo perfeito para um fim de tarde numa cidade sem cinema. Uma cidade sem cinema e eu sem cinema fazia quase um mês. Tive saudades das salas e sessões de cinema lisboetas. Quando soube desta projecção felicitei-me por ter lido um dos papéis expostos no corredor do Centro Cultural Francês. Dificilmente saberia desta projecção caso não lesse o dito papel. Na cidade da Praia a informação não é transmitida. É encontrada. Caso não se encontre tornamo-nos fácil e inocentemente desinformados.
Passei a tarde no Plateau. Como a escola ia começar dentro de dias as vendedoras de rua espalharam pelos passeios cadernos com linhas, cadernos quadriculados, cadernos de desenho e cadernos pautados. Cadernos A4, cadernos A5. Canetas. Lápis. Borrachas. Mochilas. Do mais barato ao mais caro. Do pior ao melhor. As vendedoras de rua competiam com o comércio organizado das papelarias abarrotadas da cidade. Os passeios do Plateau só eram facilmente transitáveis ao cair da noite. Quando as vendedoras desapareciam. Até lá, os transeuntes dividiam a estrada com os carros que passavam ou então saltitavam entre os passeios e os artigos espalhados pelo chão. Eu optei por saltitar.
A minha mãe ligava-me de Portugal. Desta vez não me ligava ao cair da noite. Antecipação. Queria que regressasse logo a Portugal. Dizia-me que já bastava de dias africanos. Antecipação novamente. A Serra da Estrela tinha mais dias em tempo de férias para me oferecer. Argumentava. A minha alma é serrana mas a minha imaginação é africana. Expliquei à minha mãe que atravessava um momento mais fantasioso que espirituoso. Ia ficar. A minha atitude obrigou-me a ouvir durante largos minutos manifestações maternais contra a minha decisão. Desliguei o telemóvel. Aquela discussão aborreceu-me. E a minha mãe devia estar com o coração apertado depois de ouvir-me dizer que ficava. Mãe é uma viagem para a vida inteira, pensei. Lembrei-me também de uma frase angolana que uma colega me tinha ensinado e que eu achei lindíssima. “ Ter um filho é como arrancar o coração do peito e deixa-lo andar sozinho por aí.” Coitada da minha mãe. Eu como filha continuei a andar sozinha por lá.
Tudo sobre mi madre. Eu e uma mãe afro em cinema sobre uma mãe espanhola. E a minha mãe Judite com o coração nas mãos em Portugal. Tantas mães para um dia tão simples quanto este. Afastei todos os pensamentos e limitei-me a rever o filme que se projectava em tela pequena na sala – café do Centro Cultural Francês. Poucas pessoas assistiam. Eu assisti. Não sei se quem assistia chegou mesmo a assistir.



(Porque só escutamos o que queremos e o que é real é apenas aquilo em que acreditamos... um texto com muitas mães. A minha é a Judite.)

Como se transformou um paraíso num campo de concentração?

O paraíso de sempre









O inferno como passado
TARRAFAL “CAMPO DA MORTE LENTA”
A mais brutal expressão da violência repressiva da ditadura salazarista, foi a abertura do Campo de Concentração do Tarrafal, na ilha de Santiago, em Cabo Verde, a milhares de quilómetros de Portugal. O campo do Tarrafal, inaugurado em Outubro de 1936, foi inspirado nos campos de concentração nazis, que Hitler nessa altura começava a montar na Alemanha e depois estendeu, como campos de extermínio, por todos os países ocupados pelo exército nazi.
No Tarrafal não havia câmaras de gás, como nos campos de concentração nazis, mas os presos eram submetidos a um regime de morte lenta - por isso ficou conhecido como o «Campo da Morte Lenta». Os maus tratos e a má alimentação, as doenças sem tratamento e o clima, numa das mais insalubres regiões de Cabo Verde, mataram 32 dos portugueses que para lá foram deportados. Nas primeiras levas de prisioneiros enviados para o Tarrafal encontravam-se muitos dos participantes nas greves do 18 de Janeiro de 1934 e da revolta dos marinheiros de Setembro de 1936, na sua grande maioria comunistas, mas também outros antifascistas, sindicalistas e anarquistas. Entre os presos políticos enviados para o Tarrafal encontrava-se o Secretário-Geral do PCP, Bento Gonçalves, onde viria a ser assassinado.

Alguns testemunhos:

«Na Achada Grande do Tarrafal montou o governo fascista o campo de concentração. Na Achada Grande há pântanos, mosquitos e paludismo. A Achada Grande era a zona mais temida pela gente de Cabo Verde.Na ilha que o mar guardava melhor que o arame farpado e as armas dos carcereiros, o mosquito seria um executor discreto. Sem possibilidade de ferver a água inquinada, sem mosquiteiros, sem medicamentos, com má alimentação, trabalhos forçados, espancamentos, semanas na «frigideira», todas as resistências orgânicas se desmoronavam abrindo caminho fácil ao paludismo e às biliosas.»

«As mortes dos antifascistas no Tarrafal foram premeditadas. Tão claro era objectivo que o director do Campo não o escondeu. Afirmou-o para que todos os presos soubessem a que estavam destinados.“Quem vem para o Tarrafal vem para morrer!”E muitos morreram e lá ficaram no cemitério que tão perto estava do Campo»«A baía do Tarrafal, entre Julho e Novembro, quando o nordeste não sopra, é zona de paludismo. O mosquito anófele alimenta-se com sangue e é nos glóbulos vermelhos que se reproduz e se completa o ciclo evolutivo do plasmódio, causa do paludismo. O mosquito é o transmissor.Ali morreram dezenas de antifascistas, e muitos outros morreram prematuramente já depois de libertados, em consequência directa das violências e maus tratos lá sofridos.»

«O Tarrafal, perante o desenvolvimento da luta do povo português pela liberdade e pela democracia, não chegava para albergar todos os que se levantavam contra o regime. A ditadura criou toda uma rede carcerária por onde passaram, antes e depois do Tarrafal, milhares de presos políticos: a Fortaleza de S. João Baptista, nos Açores, a cadeia do Aljube em Lisboa e o Forte de Caxias, o Forte de Peniche, as cadeias da Rua do Heroísmo, junto à sede da PIDE no Porto - para além da sede da PIDE da Rua António Maria Cardoso, em Lisboa, onde a maioria dos presos eram submetidos a dias seguidos de interrogatórios e tortura e onde alguns foram mesmo torturados até à morte.»«O regime prisional em todas estas prisões salazaristas era de vigilância constante, alimentação deficiente, privação de exercício físico. Os castigos e torturas faziam parte do regular arsenal repressivo fascista.Os contactos com as famílias faziam-se em «parlatórios» com os presos por detrás das janelas de um corredor pelo qual passeava um guarda, para ouvir as conversas.Prisioneiros houve que passaram na prisão cinco, dez, quinze, vinte e mais anos.»

A FRIGIDEIRA
«A frigideira era uma caixa de cimento, construída perto do aquartelamento dos soldados angolanos. Tinha uma forma rectangular. O tecto era uma espessa placa de betão. Uma parede dividia-a interiormente em duas celas quase quadradas. Tinha cada uma delas a sua porta de ferro, perfurada em baixo com cinco orifícios onde mal se podia enfiar um dedo. Por cima, junto ao tecto, havia um postigo gradeado em forma de meia lua com menos de cinquenta centímetros de largura por uns trinta de altura. Estava exposta ao sol de manhã à noite. Lá dentro era um forno. Aquela prisão merecia o nome que os presos lhe davam: a frigideira.»

«O sol batia na porta de ferro e o calor ia-se tornando sempre mais difícil de suportar. Íamos tirando a roupa, mas o suor corria incessantemente. A frigideira teria capacidade para dois ou três presos por cela. Chegámos a ser doze numa área de nove metros quadrados.A luz e o ar entravam com muita dificuldade pelos buracos na porta e em cima pela abertura junto ao tecto. Quatro passos era o percurso de uma parede a outra. Dentro havia uma constante penumbra.»

O POÇO DO CHAMBÃO
«No Campo do Tarrafal, a água que nos estava destinada vinha de um poço, situado a uns setecentos metros. Ali se juntavam mulheres e crianças. Vinham de bem longe com as suas vasilhas. Carregavam-nas à cabeça e seguiam para suas casas. Era esta a água que bebíamos. Estava contaminada com excrementos de cabras e burros lazarentos que ali iam beber todos os dias. Pelo tempo das chuvas, raras mas torrenciais, as enxurradas que desabavam das montanhas arrastavam consigo burros, cães, aves mortas. O poço ficava no caminho das torrentes e com a sua água bebíamos também a outra, a das chuvadas que corriam para o oceano.Ficava o poço a uns duzentos metros do mar que se infiltrava e tornava integralmente salobra a água que bebíamos. Pelas marés vivas mais salgada era ainda»

A BILIOSA EXECUTOR SILENCIOSO
«A biliosa aparecia de repente. Não era pressentida. E a todos nós assustava e nos fazia vigiar ansiosamente a urina. Porque quando se urinava sangue, quando a urina trazia um tom de café, era a biliosa»«Havia sempre paludismo, mas pela época das chuvas era o seu período. Tal como durante todo o ano se podiam dar «biliosas», embora no final de Outubro fossem mais frequentes.A biliosa era a fase final do paludismo crónico. Aparecia sempre naqueles que anteriormente já tinham sido vítimas do paludismo.»

«Naquela manhã entrou o Joaquim Amaro que nos gritou a má nova: O Bento está com uma biliosa!Corremos à caserna. Bento Gonçalves estava já a ser levado para a enfermaria. E com aquele seu ar meio despreocupado, meio sorridente, disse-nos:Mais um, camaradas! Preparem outra mesa!E, na verdade, tudo parecia que teríamos de fazer mais um caixão. Não tardou a cair em coma, com uma cor arroxeada e uma respiração difícil. Bento Gonçalves adoecera com a forma mais grave da biliosa, aquela a que chamamos perniciosa e para a qual não havia esperança. A 11 de Setembro de 1942, o doutor Moreira verificou o óbito.A morte de Bento Gonçalves era uma grande perda para nós.- Mais um que mataram! Dizíamos.»








sexta-feira, 1 de maio de 2009

Ideia impaciente

Doía-me muito a cabeça, não sabia porquê...acordei já assim.
Acordei com a cabeça pesada, cheia de imagens e pensamentos.
Penso que uma ideia fervilhou, fermentou e acabou por nascer. Sim, era ela. Era ela que de noite batia contra mim e fazia latejar a minha cabeça.
As ideias impacientes doiem.