sábado, 22 de junho de 2013

O Quarteto

Imagine as maiores estrelas da música, após a aposentadoria, reunidas numa mesma casa, reservada apenas a grandes artistas. A premissa é improvável, devido à batalha de egos e à situação financeira confortável destas personalidades, mas o potencial cinematográfico da ideia é grande. Dustin Hoffman, em sua estreia na direção de longas-metragens, prefere não explorar todas as possibilidades da história, e sim oferecer um filme leve, despretensioso, baseado no equilíbrio entre drama e comédia.

Foto - FILM - Quartet : 197486Do quarteto do título, dois músicos encarregam-se da parte cómica, e dois deles cuidam da parte dramática. Billy Connolly interpreta um senhor libidinoso, que se comunica apenas com tiradas irônicas e piadas de conotação sexual. O ator está visivelmente à vontade com este material, e compõe sem esforços o personagem mais divertido do filme. Pauline Collins fornece sua contribuição no papel de uma mulher ingênua, com crises de amnésia, mas sempre disposta a ajudar. Nenhum dos dois ajuda no desenvolvimento da narrativa (eles não têm conflitos próprios), mas eles atribuem a comicidade desejada a cada cena.

Já o drama é gerado por Maggie Smith e Tom Courtenay, interpretando um casal desfeito há décadas. Os dois se apaixonaram, se separaram e agora se reencontram nesta casa. Durante pelo menos 30 minutos, eles se perseguem, esbarram-se nos corredores, olham com remorso um para o outro. É curioso pensar que o cinema contemporâneo está repleto de tramas sobre a convivência comunitária e artística de idosos, geralmente assombradas pela proximidade da morte. No entanto, em O Quarteto, a morte parece distante, improvável. O drama nasce unicamente das feridas amorosas do casal.

Infelizmente, este romance é a parte mais fraca do filme, porque aparece sem contexto, e é superado com uma facilidade espantosa. Numa cena, Reginald (Courtenay) pensa em abandonar a casa para não ter que olhar para Jean (Smith), mas alguns minutos mais tarde eles já conversam pacificamente. Nada é muito realista nesta interação. Além disso, a atuação de ambos é tensa, rígida, deixando pouco espaço à compaixão do espectador. 

Foto - FILM - Quartet : 197486Já a música funciona apenas como coadjuvante na trama. Hoffman fez questão de colocar músicos reais como figurantes, mas esta preocupação é mais simbólica do que efetiva. Canta-se pouco, toca-se ainda menos. O quarteto principal, que teria se tornado famoso com uma interpretação magistral de Rigoletto, nunca revela seus dotes vocais atuais, durante a velhice. Mesmo os ensaios para o aguardado recital são mostrados sem som, criando grande expectativa para a prestação final dos quatro personagens juntos, no palco. (Neste sentido, a solução criada por Hoffman para a última cena é bastante surpreendente).

Apesar destas reservas, a parte cômica, muito mais regular e constante do que a dramática, consegue conferir ao conjunto uma atmosfera lúdica. Hoffman pode não ter conseguido criar uma obra memorável e inovadora, mas certamente orquestrou bem o tom fluido da produção. Com a presença de bons atores coadjuvantes e diálogos afiados, típicos do cínico humor britânico, O Quarteto é uma obra simples, previsível e um tanto irregular, mas ainda assim bastante agradável.

sábado, 15 de junho de 2013

Nome de Código: Paulette

“Paulette”, nome da personagem central, explora através da comédia o encurtamento da distância entre dois mundos que, por natureza, costumavam estar bastante afastados: o da classe média decadente, especialmente quando seus luminares descem ao ponto de ter viver com uma reforma insuficiente, e o dos pequenos criminosos (ou não tão pequenos) dos bairros sociais. Como em tantos filmes, o problema das personagens deixa de ser de ordem moral para ser uma questão de sobrevivência psicológica (mais que económica) diante de uma opressão maior – e vinda de um sistema, ele próprio, muito pouco preocupado com moralidade.   Com um ponto de partida semelhante ao da séria norte-americana “Erva”, segue o percurso de uma senhora já idosa (Bernadette Lafont) que decide vender drogas para sobreviver. Jerôme Enrico torna essa ponte verossímil ao criar, não uma bondosa velhota que resultaria pouco credível, mas uma particularmente desagradável – solitária, rude, cruel e sem meias-palavras na hora de culpar os estrangeiros por tudo aquilo que perdeu. O filme, aliás, vale-se muito de um magnífico desempenho de Lafont – que lança a sua “avozinha ganza” para um seleto clube das velhotas mais terríveis do cinema.   O argumento consegue caraterizar de forma sólida e realista o mundo dos jovens desocupados e pequenos traficantes – inclusive na forma violenta como reagem e como tomam atitudes típicas de criminosos. Por outro lado, Jerôme Enrico, tem uma mão um tanto pesada para a comédia e fracassa em alguns momentos ao não alcançar a leveza pretendida, terminando por padecer de um defeito particularmente importante para uma comédia: não tem grande piada.    De qualquer forma, a comédia francesa, dentro de seu estilo muito particular, normalmente rende mais qualquer coisa do que gargalhadas. Neste caso, funciona melhor enquanto retrato social do que como comédia.  

terça-feira, 11 de junho de 2013

Júlio Pomar recebe doutoramento 'honoris causa'

O pintor Júlio Pomar, 87 anos, vai receber o doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Lisboa no dia 19 de junho, anunciou hoje a instituição de ensino superior.

De acordo com a entidade, a cerimónia de imposição das insígnias do grau de doutor Honoris Causa decorrerá a partir das 18:00 na Aula Magna da Universidade de Lisboa.
Do programa fazem parte um cortejo académico, uma apresentação pela professora Isabel Sabino, da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa (FBAUL), um elogio pelo escritor António Lobo Antunes, e uma declamação feita pelo ator Luís Miguel Cintra.
Depois da cerimónia decorrerá ainda um concerto pelo fadista Carlos do Carmo.
Pintor e escultor, nascido em Lisboa, em 1926, Júlio Pomar é um dos criadores de referência da arte moderna e contemporânea do país, e continua a pintar no seu ateliê, na capital.
Estudou na escola de artes decorativas António Arroio e nas escolas de Belas Artes de Lisboa e Porto, mudando-se para Paris em 1963.

sábado, 8 de junho de 2013

Exposição faz revelação na obra de Camões

"A grande revelação desta exposição é que mostra duas impressões feitas em Goa, do mesmo ano e do mesmo impressor, de 'Coloquios dos simples', de Garcia de Orta, em que há duas versões diferentes da ode de Camões", disse Alves Dias, que fez a investigação e organizou a exposição que estará patente a partir de segunda-feira, na sala de referência da Biblioteca Nacional, em Lisboa.
"Identifiquei duas edições ou impressões dos Colóquios de Garcia de Orta, a A e B, feitas no mesmo tipo de material que não existe em Lisboa e só em Goa, ambas do mesmo ano e do mesmo tipógrafo, o alemão Johann de Enden, que havia pouco tempo instalara o seu prelo na Índia portuguesa", explicou o historiador.
Entre as duas edições, Alves Dias assinalou algumas diferenças, nomeadamente erros que, numa edição, existem e na outra foram corrigidos, levando-o a considerar como "2.ª edição ou edição B", aquela em que não são notados os erros. A ode, pedindo a proteção para um livro de um amigo, é o primeiro poema de Luís de Camões que foi publicado, e "integra o conjunto de paratextos dos 'Coloquios dos simples, e drogas he cousas medicinais da India', de Garcia de Orta".
"Como no século XVI os livros eram publicados em folhas soltas e não encadernados, fez com que, ao longo dos tempos, se fossem misturando folhas de uma e de outra edição, e daí ninguém ter dado conta destas alterações", disse o historiador que, desde janeiro, estudou minuciosamente 22 das 25 edições conhecidas dos "Coloquios", de Garcia de Resende. A 1.ª versão "tem muitas gralhas" e "há, na segunda edição, muitas coisas que foram recompostas", disse Alves Dias que rematou: "Entre uma e outra há textos corrigidos e outros rescritos".
No tocante à ode camoniana, Alves Dias afirmou que, de uma para outra edição, "modifica-se muito a grafia e a pontuação, mas apenas uma palavra é alterada e com ela o sentido". A alteração das palavras é "malícia" por "melícia", "mas ambas podem fazer sentido, porque se fala de um deus guerreiro que curava e que era chefe de guerra, ora era perito em melícia como militar, e em malícia no sentido de curar o mal", explicou o historiador. "A segunda versão diz 'malícia' e a primeira 'melícia', e isto nunca foi visto até hoje", disse o historiador. Na Biblioteca Nacional estarão expostos estes dois exemplares do século XVI, assim como "toda a Lírica de Camões publicada até 1688, as denominadas 'Rimas'".

sábado, 1 de junho de 2013

FESTAS DE LISBOA 2013



Em Junho, mês dos Santos Populares, Lisboa está em festa, cheia de cor e de uma alegria contagiante. Junte-se à festa e participe naquela que é a maior manifestação da cultura e tradições populares da capital portuguesa. Todos os dias, a todas as horas, quer nos espaços públicos mais emblemáticos da cidade quer nas ruelas dos bairros históricos, há sempre alguma coisa a acontecer: animações de rua, concertos de fado, teatro e espectáculos, arraiais e marchas populares, entre muitas outras iniciativas para todos os tipos de público.

E à noite há bailarico nos bairros populares, aqui, como manda a tradição, não faltam a sardinha assada, o caldo verde, o pão com chouriço, os manjericos, a cerveja, o vinho tinto, muita música e muita animação. Para que viva intensamente as Festas de Lisboa, deixamos algumas sugestões da variada programação
De 1 a 30 as Festas de Lisboa regressam às ruas da cidade com uma programação cultural diversificada e algumas novidades.

Aceda aqui ao programa.