"Reparei numa quantidade invulgar de chineses no campo de desporto. Apesar de pertencerem à mesma família racial, são distinguíveis dos tibetanos. Os tibetanos não têm os olhos rasgados;têm um rosto simpático, traços finos e faces avermelhadas. Os ricos trajes chineses cederam lugar aos fatos europeus, e muitos chineses, nesta matéria mais progressistas que os tibetanos, usam óculos. A maioria dos chineses em Lhasa são comerciantes. Gostam de viver no Tibete e muitos fixam-se permanentemente em Lhasa. Uma das razões para isto é que muitos deles são apaixonados fumadores de ópio e no Tibete não existe uma proibição explícita de consumo de ópio. (...)
Também há nepaleses em Lhasa, ricamente vestidos e bem constituídos fisicamente.Graças a um velho tratado estão isentos de impostos. Os melhores negócios da rua Barkhor pertencem-lhes. São peritos em comércio, com um sexto sentido para um bom negócio. A maioria deixa as famílias em casa e de tempos em tempos regressam, ao contrário dos chineses que são propensos a casar com mulheres tibetanas, dando maridos exemplares. (...)
Em termos numéricos, os muçulmanos representam uma parte considerável da população de Lhasa. Têm uma mesquita própria e usam de total liberdade para praticar a sua religião. (...) Em Lhasa vêem-se ladhakis, butaneses, mongóis, sikkimeses, kasaks e representantes de todas as tribos vizinhas, entre os quais se encontram hui-huis- chineses muçulmanos da província de Kuku-Nor. Esta gente é proprietária dos matadouros situados num quarteirão especial nos arredores do Lingkhor. Os budistas olham para eles de soslaio porquem matam animais, mas permitem-lhes ter o seu próprio santuário."
Heinrich Harrer, Sete Anos no Tibete
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