domingo, 3 de maio de 2009

E por ser dia da mãe...

Tudo sobre minha mãe. Projecção cinematográfica no Centro Cultural Francês. Almodôvar na cidade da Praia. Tudo sobre mi madre. O rótulo perfeito para um fim de tarde numa cidade sem cinema. Uma cidade sem cinema e eu sem cinema fazia quase um mês. Tive saudades das salas e sessões de cinema lisboetas. Quando soube desta projecção felicitei-me por ter lido um dos papéis expostos no corredor do Centro Cultural Francês. Dificilmente saberia desta projecção caso não lesse o dito papel. Na cidade da Praia a informação não é transmitida. É encontrada. Caso não se encontre tornamo-nos fácil e inocentemente desinformados.
Passei a tarde no Plateau. Como a escola ia começar dentro de dias as vendedoras de rua espalharam pelos passeios cadernos com linhas, cadernos quadriculados, cadernos de desenho e cadernos pautados. Cadernos A4, cadernos A5. Canetas. Lápis. Borrachas. Mochilas. Do mais barato ao mais caro. Do pior ao melhor. As vendedoras de rua competiam com o comércio organizado das papelarias abarrotadas da cidade. Os passeios do Plateau só eram facilmente transitáveis ao cair da noite. Quando as vendedoras desapareciam. Até lá, os transeuntes dividiam a estrada com os carros que passavam ou então saltitavam entre os passeios e os artigos espalhados pelo chão. Eu optei por saltitar.
A minha mãe ligava-me de Portugal. Desta vez não me ligava ao cair da noite. Antecipação. Queria que regressasse logo a Portugal. Dizia-me que já bastava de dias africanos. Antecipação novamente. A Serra da Estrela tinha mais dias em tempo de férias para me oferecer. Argumentava. A minha alma é serrana mas a minha imaginação é africana. Expliquei à minha mãe que atravessava um momento mais fantasioso que espirituoso. Ia ficar. A minha atitude obrigou-me a ouvir durante largos minutos manifestações maternais contra a minha decisão. Desliguei o telemóvel. Aquela discussão aborreceu-me. E a minha mãe devia estar com o coração apertado depois de ouvir-me dizer que ficava. Mãe é uma viagem para a vida inteira, pensei. Lembrei-me também de uma frase angolana que uma colega me tinha ensinado e que eu achei lindíssima. “ Ter um filho é como arrancar o coração do peito e deixa-lo andar sozinho por aí.” Coitada da minha mãe. Eu como filha continuei a andar sozinha por lá.
Tudo sobre mi madre. Eu e uma mãe afro em cinema sobre uma mãe espanhola. E a minha mãe Judite com o coração nas mãos em Portugal. Tantas mães para um dia tão simples quanto este. Afastei todos os pensamentos e limitei-me a rever o filme que se projectava em tela pequena na sala – café do Centro Cultural Francês. Poucas pessoas assistiam. Eu assisti. Não sei se quem assistia chegou mesmo a assistir.



(Porque só escutamos o que queremos e o que é real é apenas aquilo em que acreditamos... um texto com muitas mães. A minha é a Judite.)

4 comentários:

ⓡⓞⓣⓘⓥ disse...

Mãe há só uma!
;)

lumadian disse...

Beijinhos à DªJudite.

Ângela Jorge disse...

Uma Mãe preocupada, como tantas as outras....

Né disse...

espero pelo meu dia la na Praia...
bo ta lembra?

:)