terça-feira, 19 de março de 2013

War Witch

Logo no início de "War Witch" vemos a protagonistaKomona (Rachel Mwanza) perder sua humanidade. A menina do Congo, de apenas 13 anos de idade, acabara de ser recrutada involuntariamente pelo grupo guerrilheiro do líder Grand Tigre Royal, e sua porta de entrada para esta nova vida deve ser selada com sangue, um nascimento as avessas, que corta qualquer laço da mesma com mundo ao seu redor.
O filme canadiano do diretor Kim Nguyen é uma ficção, mas isso não o faz menos real. O tema mórbido (mas relevante) instantaneamente nos remete aos horrores de países como Serra Leoa ou Ruanda, e comove muito, pois oferece uma fração mínima do sentimento destas crianças soldados, que nada mais têm a fazer do que entregar suas curtas vidas à causas distorcidas e desumanizadas.
Durante quase todo o decorrer de "War Witch", Komona surge calada. A única interação mais enfática com o público vem de um voice-over da personagem, que conversa com seu filho que ainda está por vir, explicando, de uma criança para outra, os motivos e ações que os moldaram.

O tom documental adotado torna o filme extremamente realista. Um dos maiores méritos técnicos do filme é a fotografia, que se revela muito eficiente em ambientes de pouca luminosidade. Como o enredo exige uma iluminação precária, Nguyen usa sabiamente carros, fogueiras e lâmpadas oscilantes como focos de luz, produzindo um efeito visualmente atrativo. Simples ideias com resultados criativos.
O roteiro é teoricamente simples. Porém o peso dramático das descrições é inquestionável - o texto auspicioso oferece uma densidade visceral. No entanto, apesar de um inconformismo perturbador dominar a maior parte da história, temos também momentos de humor e felicidade com o fugaz relacionamento de Komona e o negro albino chamado apenas de "Mágico" (Serge Kanyinda). Basicamente um sonho de dois escravos. 

O impacto de "War Witch" é algo difícil de ser esquecido. O filme projecta uma realidade distante e na maioria das vezes renegada pelos meios de comunicação em massa, que se preocupam em vender notícias e não propagá-las. 

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