quarta-feira, 13 de março de 2013

Kon-Tiki


Tiki: povo milenar que habita a Polinésia. Kon-Tiki: expedição Norueguesa, datada de 1947, com a intenção de provar que a Polinésia havia sido povoado por descendentes dos Peruanos e não por Asiáticos, como até então se acreditava. Como eles fizeram: liderados pelo aventureiro escandinavo, Thor Heyerdahl (no filme, Pal Sverre Valheim Hagen), propuseram-se a repetir o feito dos nativos, utilizando uma jangada similar há de 1500 anos atrás para atravessar os 8.000 km que separam ambos continentes. 
Curiosamente, talvez até pela produção conjunta que envolve também a Inglaterra, a primeira impressão que tive sobre Kon-Tiki, é de uma obra que foge do estilo narrativo do recente cinema escandinavo e assim se aproxima mais da maneira tradicional americana e britânica de se contar uma história com fundo verídico. Tem uma fotografia vistosa, valorizando a natureza. Nesse sentido, pode-se até dizer que o trabalho de Ronnig e Sandberg aproxima-se de As Aventuras de Pi (2012), do taiwanês Ang Lee. Entretanto, essa afirmação não se aplica somente ao quesito visual, existe o mesmo dilema “homem versus natureza”, mas sem as aspirações religiosas do trabalho de Lee e com temáticas totalmente diferentes.
Prezando por edificar ao máximo o conteúdo do caráter humano da história, transpondo as barreiras pessoais do protagonista de forma corriqueira, as problemáticas do filme podem soar esvaziadas. O formato episódico da narrativa também diminui um pouco a dificuldade e o impacto da brava jornada imposta pelo destemido Thor. No entanto, se Kon-Tiki tem suas ressalvas de teor negativo, não chegando a ser uma obra-prima, também passa longe do embuste. As seqüências mais agitadas são tensas, elaboradas com afinco, principalmente nas que envolvem animais aquáticos, como baleias e tubarões. A narrativa, apesar da restrição já citada, transcorre sem contratempos, alternando um tom contemplativo com as problemáticas de confrontamento com a natureza. No que toca as adversidades entre a pequena tripulação da bucólica jangada, mostrada de forma rasa, sempre procurando trazer os personagens como heróis, é o que pode criar uma leve antipatia pela obra.
Com poucos conflitos, a trama mostra os sete tripulantes, exceto o personagem Herman (Anders Baasmo Christiansen), da nau Kon-Tiki como sujeitos nobres e destemidos. Particularmente, esse tom de homenagem exagerada incomoda e faz dos personagens simples alegorias unidimensionais. Verdade também que o protagonista,Pal Sverre Valheim Hage, limitado e caricato, não cativa como deveria. Sua interpretação, carregada no maniqueísmo, o que talvez até seja uma característica do verdadeiro Thor, afasta o espectador invés de atrair. Pode ser que esse também tenha sido um artifício dos diretores para atestar a devoção e determinação do protagonista, muito embora acredite que essa opção faça de Thor apenas um herói arrogante. Contudo, com mais acertos do que erros, Kon-Tiki é uma obra com seus atrativos, principalmente os já supracitados (fotografia, direção de arte) e no ponto de vista dos votantes do Globo de Ouro 2013, merece estar entre os filmes que concorrem ao prêmio de melhor filme estrangeiro.  

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