segunda-feira, 24 de maio de 2010

Realizador iraniano Jafar Panahi libertado sob caução


Após três meses detido numa prisão iraniana, o realizador Jafar Panahi foi hoje libertado sob caução. A libertação acontece depois de vários protestos contra o Governo de Teerão - que marcaram também o Festival de Cannes -, que deteve Panahi depois de o realizador ter anunciado que pretendia realizar um filme sobre as eleições presidenciais no seu país. O executivo do Presidente Mahmoud Ahmadinejad argumentou que o filme tinha como objectivo atacar o regime iraniano.
Tahereh Saeedi, mulher de Panahi, confirmou em declarações à AFP que o realizador já não está sob a custódia das autoridades iranianas e "encontra-se bem", apesar da greve de fome que tinha iniciado na semana passada para exigir a sua libertação. "Levámo-lo ao médico, que lhe prescreveu um regime alimentar" especial, contou Saeedi.
O realizador foi libertado da prisão de Evin, na capital iraniana, mediante o pagamento de uma caução de cerca de 160 mil euros. Um comunicado do gabinete do procurador de Teerão, Abbas Jafari Dolatabadi, adiantou que "após o fim do inquérito, o processo do acusado, com as acusações que pendem sobre si, foi transmitido ao tribunal revolucionário", que o julgará em data a anunciar. Segundo Dolatabadi, que não adianta as acusações atribuídas a Panahi, o realizador foi detido "não por razões políticas mas porque cometeu um delito", sem especificar qual.
Panahi, de 49 anos, um dos cineastas da nova vaga iraniana com maior reconhecimento internacional e premiado com o Leão de Ouro em Veneza por "O Círculo" em 2000, foi detido no passado dia 1 de Março na sua casa em Teerão. O Ministério da Cultura iraniano afirmou ter agido contra uma tentativa por Panahi de "preparar um filme contra o regime com base em acontecimentos pós-eleitorais", numa referência às manifestações que se seguiram à reeleição contestada de Ahmadinejad, em Junho de 2009. O realizador negou sempre as acusações.
Após a detenção, que impediu a sua presença no festival de cinema de Cannes, onde deveria integrar o júri, surgiram várias vozes de protesto internacionais a exigir a sua libertação.
No início deste mês foi lançada uma petição nos Estados Unidos, que reuniu o apoio de nomes do cinema como Steven Spielberg, Martin Scorsese, Robert de Niro e Francis Ford Coppola. No Festival de Cannes, a cadeira que deveria ocupar no júri permaneceu vazia, apenas com uma placa com o seu nome, em sinal de protesto. A actriz francesa Juliette Binoche levantou a placa quando subiu ao palco para receber o prémio pela sua interpretação num filme do realizador iraniano Abbas Kiarostami, mentor de Panahi.
o regime de Ahmadinejad apelidou de "propaganda" as manifestações de apoio a Panahi.

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