domingo, 23 de maio de 2010

Apichatpong Weerasethakul leva a Palma de Ouro para a Tailândia


Apichatpong Weerasethakul, 40 anos, bem se pode sentir “noutro mundo”, em Cannes, vindo da selva tailandesa. Mas pode estar certo que "Uncle Boonmee Who can Recall his Past Lives", a Palma de Ouro da 63ª edição do Festival de Cannes, é que elevou a condição dos espectadores deste festival. Houve quem aqui falasse em “sessão de hipnose” para descrever o que se pode passar na sala entre o espectador e este filme em que um homem que está a morrer, "Uncle Boonmee", se senta à mesa, na selva tailandesa, com os seus mortos e as outras vidas que ele viveu numa outra vida.
Terá algo a ver com isso, sim. É experiência de descoberta para o espectador, que descobre sensações, energias e imaginação novas perante aquilo que é tão antigo: ver um filme. Mas é dessa aliança entre o antigo e o novo que se faz o cinema de Apichatpong Weerasethakul (Joe para os que lhe são próximos ou para quem não quer tentar pronunciar o nome), que em 2004 recebera em Cannes o Prémio do Júri por "Tropical Malady".
"Uncle Boonmee" foi comprado para Portugal pela Midas Filmes.
Não se julgava que um júri como este, em que as figuras mais tutelares, o seu presidente, Tim Burton, e o cineasta espanhol Victor Erice, vindas de mundos aparentemente tão opostos, pudesse chegar a "Uncle Bonmee..."
Para a história da cerimónia fica ainda o momento em que Javier Bardem agradeceu à sua “amiga, companheira e amor”, Penélope Cruz. Ou, mais emocionante, aquele em que Juliette Binoche, depois de agradecer a todos os homens que a amaram e a suportaram, depois do “what a joy, what a joy, what a joy” que foi trabalhar com Kiarostami, levantou a placa com o nome Jafar Panahi. O cineasta iraniano, apoiante da oposição ao regime de Mahmoud Ahmadinejad, tinha sido convidado para integrar o júri, mas foi preso em Março pelas autoridades do seu país. Já durante o festival conseguiu passar uma mensagem a anunciar o início de uma greve de fome na sequência de maus tratos na prisão iraniana de Evin. A sua ausência foi presença constante em Cannes. “Um homem cuja falta é ser artista” no Irão, “um país que precisa de nós”, disse Binoche.

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