quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A guerra...

Um toque na porta...dois toques... as batidas começam a ser cada vez mais...
Mais e mais leves à medida que o desânimo lhes rouba a força.
Nada se vê...só a falta de força de quem bate e de quem ouve se sentem.
Abre a porta, deixa a bola entrar...a bola chutada e atirada com toda a força que o desânimo roubou.
A bola é tão pequena...é quase do tamanho da criança que bate na porta aos toques.
Toque de bola, toque na porta...normalmente as bolas das crianças partem vidros.
Mas há quem diga que as bombas antes de rebentarem assobiam...e depois partem vidros, como as bolas.
A criança nunca mais se viu... nem partiu vidro algum.
A porta não se abriu com medo das balas chutadas por homens negros e feios que bebem café em casa dos outros sem serem convidados.
O café era garantia de vida dentro daquela porta que se manteve fechada e não deixou a bola do miúdo entrar.
Ou a bola ou a bala!Alguma delas era preciso afastar. Afastou-se a bala...
A bola do miúdo foi bala para ele...Ouviu-se a bala. Desapareceu o miúdo. E pensar que no Brasil bala é doce.
Ouviu-se um assobio ligeiro. Há também quem diga que parte do assobio só é escutado por quem descobre a sua magia.
Há quem veja magia em vidros partidos e tectos desfeitos. Eu só sinto magia nos cafés bebidos sem convite que adocicavam gargantas feias e garantiam a vida dentro daquela porta.
Bem dizem que o café ajuda a não adormecer. Enquanto os homens negros e feios não adormeciam, as vidas dentro daquela porta não desapareciam. Vidas que não precisavam do café para não adormecer. Mantinham-se bem acordados só com o medo de morrer.
Por vezes o medo era tão grande que as vidas esqueciam-se umas das outras. Algumas esqueciam-se de comer, outras de vestir, outras de fugir e outras até de viver.
Matavam-se cães, galinhas, os vizinhos...menos os primos dos homens negros e feios.
Dentro daquela porta, as vidas um dia tiveram que fugir.
O frio foi a sensação de partir e chegar a outro lugar.
Porque o corpo é sempre o primeiro a reagir.

1 comentário:

jupiteriana disse...

Quem diria que o desabafo ia dar nisto :)