quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Layla M.

Layla M. é um filme holandês que conta a história de uma jovem marroquina muçulmana que nasceu e vive em Amesterdão. Layla M. é uma adolescente orgulhosa da sua descendência muçulmana e desgostosa do racismo e do medo ocidental pela cultura árabe. É a típica personagem que se sente estrangeira no país onde nasceu e que passa o tempo a informar-se sobre a situação dos povos islâmicos pelo mundo. Daí ao radicalismo, extremismo e ódio latente pelo Ocidente é um salto, obviamente. E este é o objetivo do filme: retratar jovens que acabam por aderir a movimentos de extremismo islâmico. Layla M. dá cara a todos estes jovens. O dia a dia dela é marcado pelo estudo do Alcorão de forma errônea, pela participação em manifestações que incitam à violência e ao ódio e pela sua aproximação a líderes políticos do Estado Islâmico. Daí a fugir de casa, a casar-se com outro extremista islâmico e a rumar à Síria é outro salto, obviamente. Apesar de Layla M. não cair no famoso cliché de ser apresentada como uma terrorista sem limites e até ser uma personagem complexa, com vários traços na sua personalidade, creio que o filme balança para projetar apenas o perigo e devaneios do extremismo islâmico. E nada mais. As atitudes corretas e ponderadas de personagens árabes são curtas e discretas e o racismo a que estas são submetidas é de uma nuance pouco vincada. Por outro lado, atitudes incorretas e radicais são numerosas e dominadoras. É certo que a realizadora não cria monstros ao retratar extremistas islâmicos e o seu objetivo passa por apontar o dedo ao terrorismo. Contudo, creio que o filme não favorece a compreensão de que o Islão é muito mais que radicalismo,  terrorismo e coisas afim. (Há apenas uma filmagem bonita que embeleza a cultura árabe ao longo de hora e tal de filme: A dança entre Layla M. e o marido num pequeno quarto de hotel.)  Não basta colocar a família de Layla M. e mais duas ou três personagens como opositoras a tudo o que seja radical. Exigia-se mais. Sabemos que nem todo o Islão é terrorista e nem todos os heróis são do mundo Ocidente.  Mas há que sabê-lo e compreendê-lo mais. Muito mais. 

Sem comentários: