domingo, 17 de janeiro de 2010

Marguerite Duras



Marguerite Duras nasceu em Gia Dinh, na Indochina (agora Vietnam), em 1914, onde passou a infância e a adolescência. A autora irá ficar profundamente marcada pela paisagem e pela vida da antiga colónia francesa, frequentemente referidas na sua obra literária.
O seu pai morreu quando tinha quatro anos de idade, e a sua mãe, uma professora, lutou arduamente para criar três filhos sozinha. Durante a adolescência, Marguerite Duras teve um caso com um homem chinês rico e retorna mais tarde a este período nos seus livros (nomeadamente O Amante e O Amante da China do Norte). Aos 17 anos viajou para França, onde estudou Direito e Ciência Política no Sorbonne, formando-se em 1935.
Durante a II Guerra Mundial, Marguerite Duras participou da Resistência Francesa, filiando-se também no partido comunista.
Duras publica os seu primeiros livros em 1943 e 1944. A partir de 1959 começa também a escrever argumentos para o cinema, dos quais "Hiroshima meu amor" é sem dúvida o mais conhecido e marcante. Em 1950, com "Uma barrangem contra o Pacífico", Duras esteve muito próxima de ganhar o Prémio Goncourt. É no entanto e apenas 30 anos depois que a injustiça lhe é reparada, ganhando o prémio por unanimidade com o romance "O Amante".
É uma autora muito fértil, com uma obra literária vastíssima, desde os romances aos argumentos cinematográficos. Afirma-se sempre com um estilo de beleza inconfundível, num tom duro e denso, por vezes até um pouco inacessível, mas sempre numa expressão profundamente genuína e humana das paixões, grandezas e misérias da vida.
Marguerite Duras é por excelência uma escritora da condição humana, mas contudo não procura utilizar a escrita como forma de redenção e/ou salvação; antes, a escrita é uma exigência urgente, um valor supremo em que reside, uma vontade bruta de falar de si. As suas obras estão repletas de descrições belíssimas e soberbamente envolvidas na ambiência exótica da paisagem oriental, não sem deixarem reconhecer uma intensidade angustiada e desesperada, oriunda de uma constante luta da autora com as questões do amor e da morte.
Durante a década de 1980, Marguerite Duras apaixona-se por Yann Andréa Steinner, um homem 38 anos mais novo. Duras viverá com Yann até à sua morte em 1996, mas não sem antes atravessar um duro período em que permaneceu junto do seu marida Robert Antelme, depois de este ter sobrevivido milagrosamente a uma captura pela Gestapo. Este período serviu de base para uma colecção de histórias curtas, intitulada "A Dor" (de 1985), um grito literário sobre a pressão em que viveu.
Um ciclo à volta da vida e obra da autora d' "O Amante" e uma retrospectiva dos seus filmes começam esta semana em Lisboa. È uma iniciativa concertada entre o Instituto Franco-Português (IFP) e a Cinemateca Portuguesa em Lisboa (com uma extensão já a decorrer na Casa das Artes de Famalicão) de revisitação da obra de Marguerite Duras (1914-1996).
O IFP até 28 de Janeiro reúne meia dúzia de filmes realizados com base na sua escrita ou à volta da sua vida. O programa abre, às 19h, com o documentário de Solveig Nordlund, onde a realizadora diz ter conseguido registar uma presença de Duras "diferente do que ela era oficialmente".
Na Cinemateca, uma retrospectiva alargada da obra cinematográfica de Duras vai começar na sexta-feira, com o mítico "India Song" (1975), e prolongar-se até Março.

2 comentários:

Alexandre Correia disse...

Olá Bé,

Ao ler este seu texto lembrei-me d' "O Amante". Para além de todo o romance e das emoções, Marguerite Duras descreve de forma muito envolvente o ambiente que caracterizava essa época (se não me falha a memória passou nos anos 30 do século passado...) em Saigão, a velha capital colonial, refrescada por esse rio imenso que é o Mékong. Nunca estive no Vietname, mas acredito que um dia hei-de lá ir. Mas não propriamente pela inspiração dessa história admirável que, de resto, já há muitos anos recordei, precisamente ao navegar no Mékong, no célebre Triângulo Dourado, onde são as águas deste rio que estabelecem a fronteira entre a Tailândia, Myanmar (ex-Birmânia) e o Laos. Deslizava pela rio ao fim da tarde, quando a noite começou a cair e a bruma levantou sobre a floresta. Inesquecível. E você lembrou-me disso. Obrigado!

Beijo,

Alexandre

disse...

Olá Alexandre,

Feliz por ajudar na recordação.
Marguerite Duras é das minhas autoras preferidas, em parte pela forma como descreve a sua vida e experiências transformando-as em arte. A sua infância e adolescência na então colónia francesa da Indochina serviram de inspiração a várias das suas obras, mas a minha favorita é mesmo O Amante, que lhe valeu o Prémio Goncourt em 1984.
As palavras de Duras são claras e brutas, frias e quentes, profundamente humanas, que me permitem sentir muito de perto o que escreve.
Abraços.