segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Lincoln


Lincoln não é um grande filme sobre um grande personagem. É um filme comum e humilde, centrado nos últimos quatro meses de vida do 16º presidente dos Estados Unidos, que entrou para a história, entre outros motivos, por ter sido o articulador da emenda constitucional que acabou com a escravidão naquele país e, de tabela, pôs fim à Guerra Civil que matou mais de 750 mil americanos – para se ter uma ideia, o número de baixas somadas em todas as guerras enfrentadas pelo país contra inimigos externos não chega nem perto disso.
A produção fez uma ambientação elogiável tanto do momento político quanto da América do século 19 – a direção de arte é impecável. Com uma vitória esmagadora nas eleições de 1864, Lincoln estava no auge de sua popularidade quando resolveu mexer num vespeiro: propor uma emenda à Constituição que poria fim à escravidão. Spielberg concentra o filme nos bastidores deste embate político que mudou a história americana e revela o lado idealista do presidente, mas também o pragmatismo que o levou a comprar votos de oposicionistas oferecendo-lhes empregos públicos de prestígio.
Neste ponto o filme tem o mérito de humanizar a figura de Lincoln, exibindo uma realidade pouco comum em filmes que tratam de grandes nomes da história. Vemos isso nas atitudes do presidente e no jogo de interesses dentro da câmara. Paralelamente, conhecemos um pouco do dia a dia do homem Lincoln, sua relação com a mulher (Sally Field) e com os filhos, o mais velho interpretado por Joseph Gordon-Levitt.
O Spielberg que conhecemos – para o bem ou para o mal - está bem diferente neste filme. Há excessos de personagens e muito blablablá político em salas escuras imersas em fumaça de charutos. Isso a certa altura cansa o espectador. Mas o diretor fugiu do sentimentalismo exacerbado e evitou seus excessos de close-up. Contudo, Lincoln tem conversa em demasia, é conciso demais para abarcar o grande número de personagens e situações e termina por não levar à tela a grandiosidade do momento retratado. As boas interpretações – entre as quais merecem ser destacadas também as de Tommy Lee Jones e de James Spader – mantêm a força do filme.

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