“A Dama de Ferro” constrói-se como uma “fantasia” quase teatral sobre a vida de uma mulher que nunca quis relegar-se ao papel de esposa, mãe e dona de casa numa sociedade onde a condição social a condenava a isso, que não queria morrer ao lava-louças com a chávena de chã na mão. E é “fantasia” porque a estrutura do filme poderia ser a de uma peça de teatro desenrolando-se em quadros, num vai e vem contínuo entre presente e passado ancorado na Thatcher idosa de hoje, reformada e doente, prisioneira da sua mansão e das suas memórias, usando o poder e a política como reflexo e espelho dos jogos sociais específicos de um tempo e de um local, explicando como a ambição pessoal do “serviço público” patriótico acabou por transformar a Inglaterra do século XX de modos perfeitamente inesperados. O filme, aliás, é bem explícito nessa defesa, mais do que da política, de Margaret como mulher que se tornou inspiradora quase à sua revelia, que nunca esperou chegar a primeira-ministra e que sabia que nunca seria vista como “um deles”.
É aí que “A Dama de Ferro” ganha aos pontos: nem biografia convencional nem olhar político sobre uma figura política, é um filme de mulheres sobre uma mulher que conseguiu fazer a diferença que sempre quis fazer e que dá por si a perguntar se valeu realmente a pena. E com outra actriz a interpretar Thatcher, o filme de Phyllida Lloyd daria com certeza menos que falar, mas sim, continuaria a ser um bom filme.
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