domingo, 14 de fevereiro de 2010

Precious


De vez em quando, lá estreia um filme que impressiona pela simples brutalidade do seu realismo. “Precious” é, indubitavelmente, um desses filmes. Não é um grande filme, mas é intrigante: um melodrama clássico ao qual foi removida a tendência lacrimejante.
“Precious” conta-nos a história de uma iletrada jovem de dezasseis anos, obesa e terrivelmente maltratada pela mãe, que tenta encontrar um novo rumo para a sua vida numa escola alternativa que lhe oferece uma segunda oportunidade. Violada pelo pai, transformada em escrava pela mãe e com um par de filhos incestuosos para alimentar, Precious vive uma existência penosa, inaceitável e perfeitamente insustentável. Insultada e desmoralizada pela mãe, Precious encontra num mundo de sonho fantasista a única escapatória a uma realidade podre, cruel e sem qualquer espécie de sentido. E é precisamente quando ela se encontra na sua pior fase, que a professora da nova escola assume um particular interesse por ela e vai fazer de tudo para a retirar daquele autêntico pesadelo. O percurso melodramático de Precious é convencional e previsível, mas, e felizmente inverte-se nos últimos vinte minutos, mostrando uma "Precious" afastada de um final feliz de praxe cinematográfica com o desfecho:"e todos viveram felizes para sempre". A vida não é um conto de fadas e Precious não é uma princesa encantada.
Gabourey Sidibe (Precious) rasga as malhas do anonimato com uma composição firme, idónea e poderosa. Paula Patton e Mariah Carey (uma surpresa agradável), entre outros, ajudam a adensar a emotividade da história. Mas é Mo’Nique quem reclama para si todas as luzes da ribalta. Neste filme, a actriz está simplesmente deslumbrante. Agora percebo porque Mo’Nique tem levado todos os prémios para casa. E com toda a justiça, diga-se.
O filme está longe de ser perfeito mas a sinceridade é inegável. É um filme tão convicto do valor da história que conta que não recua perante nada para ser amado. Goste-se ou não, isso dá-lhe uma personalidade que poucos filmes americanos recentes têm tido.

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