quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Miguel Sousa Tavares e o Acordo Ortográfico


O Acordo Ortográfico é um acto colonial do Brasil sobre Portugal com regras que não são recíprocas, afirmou à Lusa o escritor e jornalista português Miguel Sousa Tavares, que se encontra no Brasil para lançar seu "quase-romance" "No Teu Deserto".

"O Brasil é o único país que recebeu a língua de fora e que impõe uma revisão da língua ao país matriz, como se os Estados Unidos impusessem um acordo ortográfico à Inglaterra", afirmou Sousa Tavares, criticando o facto de não ter havido uma consulta aos profissionais que trabalham com a língua, como os escritores, jornalistas e professores. "Ninguém foi ouvido, o acordo foi imposto tanto no Brasil como em Portugal", critica. O escritor lembrou que um acordo exige reciprocidade, para afirmar em tom crítico que a reforma da ortografia foi "cozinhada entre académicos que queriam se reunir e viajar". "Não encontro escritores brasileiros que defendam o acordo", aponta.

O escritor e jornalista disse que não pretende mudar a sua forma de escrever e adverte que o Acordo Ortográfico vai "condensar e expurgar" muitos dos detalhes da diversidade linguística. Sousa Tavares duvida que os países africanos de Língua Portuguesa cumpram o acordo. "Vão começar a rejeitar o Português se nós os obrigarmos a seguir estritamente uma gramática que não lhes faz sentido nem ao ouvido, nem na escrita"."Acho um projecto idiota, e pode ser prejudicial em muitos países. Querem unificar o português em todo o mundo falante de língua portuguesa. Não vai ser em Portugal nem no Brasil porque temos 500 anos de trabalho e a nossa língua efectiva, mas em Angola apenas dez por cento fala bem português, o resto não fala", argumenta.

Miguel Sousa Tavares é também muito crítico sobre o conceito de lusofonia e a actuação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). "Gastam imenso dinheiro aos contribuintes de Portugal e do Brasil e não é por aí que a lusofonia vai funcionar. Nós nunca faremos uma 'commonwealth' nas relações económicas. Na hora da verdade, o Brasil vai entrar em disputa com Portugal". Para Sousa Tavares, a única forma de construir laços na lusofonia é a aproximação a partir de afinidades entre os povos, o que vai passar pela língua. "Finalmente o que funcionará é a língua. A lusofonia passa muito pelas relações humanas que são mais importantes, elas é que vão determinar", referiu ao destacar que hoje há "muito mais concorrência do que cooperação" no mundo lusófono.

O jornalista, autor de "Equador", um dos maiores sucessos de vendas da literatura portuguesa dos últimos anos, está no Brasil para apresentar seu novo romance e participar na Bienal Internacional do Livro no Rio de Janeiro.

2 comentários:

Alexandre Correia disse...

Olá Bé,

Nem sempre consigo concordar com as posições de Miguel Sousa Tavares, que frequentemente padecem de uma enorme cegueira, que o levam a defender de forma que chega ao agressivo posições extremas sobre matérias onde se pede bom senso e não radicalismo. É o caso, por exemplo, das suas opiniões sobre o combate ao tabagismo, em que o exagero de algumas atitudes levam a que tudo o que diga sobre o assunto seja desvalorizado pela simples constatação de que é um fumador incorrigível, que tem direito de ser, mais que não tem o direito de impor; e é pena que nessas circunstâncias não se valorizem opiniões importantes do discurso dele.
Nesta matéria da lingua portuguesa, nem tenho dúvidas e colocava-me ao lado dele em qualquer manifestação que fosse promovida para dar expressão à sua opinião. Absurdo e insensato, o acordo ortográfico é, muito provavelmente, isso mesmo que ele diz: o reflexo do trabalho de um grupo de académicos que queria viajar. E que não escrevem em português, acrescento eu.

Beijo,

Alex

disse...

Ola Alex,
Eu estou como tu. Nem sempre consigo concordar com o Miguel Sousa Tavares mas em relação ao Acordo Ortográfico coloco-me bem ao lado dele.

Abraços