segunda-feira, 15 de junho de 2009

Tenho saudades (Parte II)

E mesmo assim, continuo com saudades tuas. Não faz sentido algum ter saudades tuas. Mas como odeio esta expressão eu tenho saudades tuas mesmo que não encontre um sentido para tal. Até porque ouvir-te dizer nada de jeito é bom. Sabe bem. É bom rir sinceramente. Rir com uma sincera gargalhada porque se está feliz de ouvir nada de jeito. Porque se está feliz somente porque se está a escutar. Sem muitas exigencias pelas palavras. Apenas escutar. Hoje em dia as pessoas escutam-se muito poucas umas às outras. Todas querem falar ao mesmo tempo. Por vezes não dizem nada. Apenas têm necessidade de falar e ver a pessoa ao lado acenar com a cabeça como se estivesse a partilhar daquilo que ela diz. Partilhar. Penso que reside aqui o enigma. As pessoas querem partilhar mas são egoistas para escutar. Até porque acenar com a cabeça não quer dizer que estejam a ouvir. Esboçam apenas movimentos mas o pensamento está já a divagar para outro lugar. Já estão à espera de contar algo na primeira pessoa. “Eu isto, eu aquilo, eu sei, eu gosto mais…” e não mais se lembram do que ouviram sem escutar. E depois espantam-se quando ouvem “Não te lembras do que te disse?” Eu própria me espanto montes de vezes. Eu própria não escuto com muita atenção. Eu própria prefiro falar do que escutar. Por vezes não digo nada mas prefiro falar que escutar. Porque escutar dá muito mais trabalho que falar. Escutar exige paciencia e atençao. Eu na maioria das vezes começo logo a falar para não ter que aturar a conversa dos outros. E quando aturo aceno mesmo que esteja a ouvir ou não. Comporto-me como todas as outras pessoas. Sei que tenho de aprender a escutar. Não a tudo e a todos até porque dois ouvidos não são mil mas tenho de aprender a escutar algumas pessoas. Para evitar ouvir aquela pergunta estúpida “não ouviste nada do que eu te disse pois não?” Estúpida porque quando se faz esta pergunta já se sabe que se vai ouvir um Não. E eu respondo muitas vezes não mesmo quando a conversa não me aborrece. É porque para além de assumir que escuto mal, ainda sou despistada. Despistada não é a palavra correcta. Digamos que, como a minha mãe diz, sou cabeça no ar. Desde pequena que me dizem que sou cabeça no ar. Mas cabeça no ar sempre fez sentido para mim. Pior se fosse cabeça na terra, cabeça na água, cabeça num outro sitio qualquer que não tivesse ar. E por ser cabeça no ar, escuto pior ainda. Qualquer palavra dita pela outra pessoa me leva para outros lugares que não o real. Digamos que gosto de viajar com as palavras. Eu não faço por mal. Mas nunca sei dizer que não a um convite de uma palavra. Só faço por mal quando aceno com a cabeça mesmo sem saber o que estão a dizer. Aceno sempre de cabeça no ar.

2 comentários:

lumadian disse...

Acontece praticamente quase todos os dias a todos nós.

Alexandre Correia disse...

Não há melhor amigo que aquele que realmente é capaz de ouvir-nos. Mais do que falar, todos precisamos frequentemente que alguém nos oiça. Noutros tempos, essa necessidade era normalmente preenchida ajoelhado num recanto de uma igreja, ao abrigo dos olhares e ouvidos indiscretos, sob a cortina de um confessionário. Hoje, acho que é no divâ de um psicólogo que muita gente se confessa. Quem pode, claro, e quem não tem a quem se confessar. Gostei de ler estes textos. Descubra os meus em asviagensdealex.blogspot.com; estou a contar vagarosamente uma grande viagem que acabei de fazer em Angola. Diga-me se gosta e conte a outros apaixonados por África e por viagens.

Alexandre Correia