sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Estudo revela doenças nas múmias do Museu de Arqueologia

Mais de um ano depois de feitas radiografias e TAC às três múmias egípcias da colecção do Museu Nacional de Arqueologia (MNA), em Lisboa, foram divulgados os primeiros resultados. Após estes exames de tomografia, feitos sem se abrirem os sarcófagos e que permitiram reconstituir, a três dimensões, todo o corpo mumificado, foi diagnosticado a uma das múmias, com cerca de 2300 anos, um cancro na próstata com extensões ósseas. Numa outra foi detectada uma lesão extensa com origem numa distensão.
Em Agosto de 2010 numa reportagem publicada no P2 no dia dos exames, um dos investigadores, o egiptólogo Luís de Araújo, do Instituto Oriental da Faculdade de Letras de Lisboa, afirmava que tinham de "estar preparados para tudo". E sabia-se que poderiam conseguir saber que tipos de doenças tinham em vida e até, eventualmente, a causa de morte.
Confirmou-se. Este estudo mostra "o primeiro caso de cancro na próstata achado numa múmia egípcia que se encontra enfaixada, e sem terem sido usados métodos destrutivos", revelou ontem à Lusa o médico radiologista Carlos Prates, coordenador da equipa clínica do estudo "Lisbon Mummy Project". "É um caso único, sendo provavelmente o segundo mais antigo conhecido. Há um achado referente à mesma hipótese nuns ossos muito degradados encontrados na Sibéria, cujas análises presumem que as razões de morte tenham sido cancro na próstata, mas não há radiografia, nem imagens, e dão a idade de 2700 anos; a múmia de Lisboa tem à volta de 2300 anos", acrescentou o investigador. "Não há nenhum diagnóstico de cancro na próstata numa múmia egípcia, nem de patologia maligna numa múmia que não foi aberta para ser investigada, como era prática no século XIX, até à invenção do raio X".
Esta múmia, do período ptolemaico (305-30 antes de Cristo), foi designada cientificamente por "M1" no estudo "Lisbon Mummy Project", que contou com participações de outras entidades: da empresa Imagens Médicas Integradas (IMI) que disponibilizou as instalações e a equipa de investigação liderada por Carlos Prates, contando com os médicos radiologistas Sandra Sousa e Carlos Oliveira; da Siemens, que patrocinou o projecto e disponibilizou uma estação de trabalho de pós-processamento avançado da informação digital; e do MNA, cujo director, Luís Raposo, coordena uma equipa que integra Luís de Araújo e ainda o arqueólogo Álvaro Figueiredo, do University College de Londres. Houve ainda a colaboração da Fundação Gulbenkian, que patrocinou a vinda a Portugal da arqueóloga egípcia Salima Sikran que acompanha o estudo. "Uma das outras múmias [M2] pertence a um sacerdote, Pabasa de seu nome, e revelou uma lesão extensa com origem numa distensão, que lhe terá provocado entorses frequentes. "Terão sido dolorosas e, nessas fases, deveria coxear", disse ainda o investigador.
O "Lisbon Mummy Project" teve início em 2007 e os resultados finais deste trabalho "serão divulgados em breve, mas só depois da publicação numa revista científica". E só depois dessa publicação é que se podem revelar todos os pormenores desta investigação multidisciplinar, que também se estendeu a animais mumificados.

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