sábado, 5 de novembro de 2011

Contágio

“Contágio” é um filme sobre um vírus fulminante que aparece do nada e se torna numa pandemia global enquanto o diabo esfrega um olho, os médicos coçam a cabeça, o pânico toma conta da população e a sociedade começa a desintegrar-se. É o tema perfeito para um filme catástrofe à moda antiga ou um grande filme de terror apocalíptico - mas Soderbergh, que aqui regressa às grandes produções depois de alguns filmes mais experimentais (o díptico “Che” ou “Confissões de uma Namorada de Serviço”) é conhecido por fazer tudo menos o que se espera e o seu apocalipse é de uma serenidade atordoante e metódica que desorienta o espectador ao recusar todas as suas âncoras habituais, até no modo como utiliza o seu elenco de vedetas. Mas, contraditoriamente, o que aqui acontece está longe de ser o grande filme assustador que poderia ser - o realizador americano transforma-o em algo de desapaixonado, cerebral e distante, exactamente como um vírus disposto a tudo para sobreviver. Os seus actores, a sua narrativa, a sua emoção, fica tudo pelo caminho deste projéctil admiravelmente formalista mas que, como convém aos vírus, se admira à distância sem nunca nos queremos engajar com ele.

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