quinta-feira, 19 de agosto de 2010

DUálogo

-Pronto não te chateio mais com o questionar do sentido das palavras...já sei que não gostas.
-Não é que não goste,tu é que não sabes o que responder e depois optas pelas interrogações à volta de uma palavra.
-Antes não saber o que responder que responder o que não se sabe.
-Acusas-me de algo?
-Sim.

-Do quê?
-Deixa, é conversa para outra altura...
-Não! Agora. O agora também não é linear.
-Vejo que estás a aprender algo comigo.
-Sim, aprendo muito. Aprendo até aquilo que tu te impões a ti própria. Eis a diferença entre nós: eu gosto tanto de ti que aprendo quase tudo.
-Se calhar devias aprender também o quase. Mas aqui a culpa é minha...quando o quase é quase, eu recuo e deixo de te ensinar e aprender contigo.
-Quando é que o quase é quase?
-Quando se sobe o Chiado à chuva para ver o que é invisível...por exemplo.
-Não estou a entender.
-Quando se disparam promessas e confissões e apenas se ouve uma confirmação silenciosa.
-Não te escondas em metáforas.Simplifica o discurso.
-Quando se controlam impulsos e o controle está do lado de lá...na distracção forçada de quem nos ouve.
-Começas a irritar-me. Fala! Não penses como escreves..não sou folha de papel e a caneta que utilizas...
-Também gostas de metáforas, estou a perceber!!! Então mais uma: quando culpamos os outros dos nossos medos e receios e esses outros não agem. Reagem apenas.
-Onde queres chegar? Começo a fartar-me e a zangar-me com tudo isto. Não brinques comigo.
-E tu não fales assim porque sabes bem que me assustas de vez em quando. Quase que tenho medo que fiques zangado comigo...Vês...Quase!!!
-Zango-me e quase que termino por aqui se não falares do primeiro quase.
-O primeiro?
-Sim, não te faças de desentendida...qual o quase que devo aprender mas que tu não me ensinas porque recuas?
-AH! Esse quase...quase que me esquecia.
-Não tens piada. Não agora! Explica-te.
-Há respostas que não se querem ouvir...
-E há perguntas que não se fazem...
-Mas foste tu que me questionaste.

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