quinta-feira, 23 de abril de 2009

Gabriel Abrantes



Tem 24 anos, pinta, faz filmes, toca piano e canta. É um nome emergente. Acaba de vencer o prémio EDP.
No princípio deste mês, Gabriel Abrantes organizou, em jeito de turismo cultural, uma visita guiada a três exposições (que realizou) em três espaços de Lisboa. No dia 24, vai dar um concerto no Maxime, no âmbito do Festival IndieLisboa 09, onde apresentará também um dos seus filmes. E foi um dos nomeados para o Prémio EDP Novos Artistas. Com tantas actividades e aparições, exige-se a pergunta: "Quem é Gabriel Abrantes?". Ora, Gabriel Abrantes tem 24 anos e é, "tout court", um artista. Feita a apresentação, importa agora contar a história, tecer o contexto. Nasceu nos EUA, filho de mãe angolana e pai zairense e veio para Portugal há dois anos para fazer um filme em Trás-os-Montes. Entretanto, frequentou na cidade de Les Fresnoy (França) um mestrado de arte contemporânea e cinema e estudou na Ecole National des Beau-Arts, em Paris. Em 2007 realizou a sua primeira exposição individual em Portugal, na Galeria 111, antes de mostrar, na edição de 2008 do Festival Indie, duas curtas-metragens: "Olympia I" e "Olympia II". A entrada no contexto português acontecia assim sob duas linguagens e formas de apresentação: a pintura e objectos numa galeria, o filme numa sala de cinema. Gabriel Abrantes saltava de categorias ou plataformas com um à-vontade, dir-se-ia, contemporâneo.

Foi, porém, com "Visionary Iraq", exposição realizada com Benjamin Crotty, em Setembro na Galeria 111 do Porto, que atraiu definitivamente as atenções do meio artístico nacional. Com um vídeo, dividido em três projecções, e respectivos cenários (enquanto instalações ou esculturas), Gabriel Abrantes afirmava a narrativa e a actualidade (política, social) como formas privilegiadas do seu trabalho. O filme contava a aventura de dois irmãos adoptivos (um português e uma angolana) que decidem alistar-se no exército para libertar o Iraque e interrogava a função e o contexto do objecto artístico com uma desconcertante economia de ideias e meios.

Em "Too Many Daddies, Mommies and Babies", a obra (instalação + filme) com que concorreu ao Prémio organizado pela Fundação EDP e que pode ser vista no Museu da Electricidade, em Belém, reencontramos uma ficção com temas actuais: a história de um casal homossexual que desiste de salvar o planeta do aquecimento global para ter um filho.

Para lá de todas as metáforas, Gabriel Abrantes não descobre intenções políticas nos seus trabalhos. "O meu interesse é estrutural. Não tenho uma mensagem directa. Procuro antes outras relações. Por exemplo, lido com uma narrativa sobre um acontecimento actual, que vivemos ainda que de forma distanciada, e ao mesmo tempo dou a ver uma representação desse acontecimento. Um pouco como 'Le Radeau de la Méduse' de Gericault. É isso que me interessa e não qualquer tipo de propaganda derivada de uma agenda política. Crio situações, algumas políticas, mas de forma ambígua".

"Too Many Daddies, Mommies and Babies" traz entretanto uma novidade em relação aos filmes anteriores: a presença de actores profissionais como Ana Moreira (revelada em "Os Mutantes", de Teresa Villaverde) Filipe Vargas, Alexandre David e Ágata Pinho.

Artigo de José Marmeleira


1 comentário:

Né disse...

Inveja desse boy...
Eu continuo a estudar para lá chegar...
:)