quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

FESTin

A edição deste ano do festival tem várias novidades na sua programação, com destaque para as homenagens ao Festival do Gramado (com a exibição de diversos filmes premiados na última edição do festival brasileiro) e ao cinema de Angola (através de uma parceria com o Instituto Angolano de Cinema Audiovisual e Multimédia).
O festival estreia ainda uma maratona de documentários, uma mostra dedicada ao público infantojuvenil e o I Encontro Internacional de Jornalistas de Cinema. Além das novidades desta 4.ª edição, haverá também o programa habitual do FESTin, que inclui duas sessões competitivas (longas e curtas metragens), uma mostra de cinema brasileiro, uma mostra de inclusão social e oficinas de iniciação ao cinema.
Os filmes oriundos do Brasil vão marcar, uma vez mais, uma forte presença no festival, mas Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe também estarão representados nos cerca de 80 filmes que serão exibidos. A organização lançou ainda uma campanha de financiamento coletivo, com o objetivo de reunir um valor monetário que será depois entregue, juntamente com um troféu, aos vencedores do festival.
O FESTin foi criado em 2010, com o objetivo de celebrar e fortalecer a cultura lusófona através do cinema e do intercâmbio cultural entre os países de língua portuguesa. Em três edições completas e cinco mostras itinerantes, em Portugal e no Brasil, o FESTin conseguiu um público total de cerca de 10 mil espetadores.


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Michelle Obama deu o Óscar de Melhor Filme a 'Argo'



Foi uma das noites de premiação mais dividida. E até mesmo com o acontecimento raro de ter atribuído um Óscar ex-aequo numa das categorias (a de Melhor Montagem de Som, a 00.30 Hora Negra e Skyfall). Feitas as contas finais, A Vida de Pi, de Ang Lee, juntou o maior número de prémios (quatro), um deles para Melhor Realizador. Sem surpresa Argo venceu a categoria de Melhor Filme, arrecadando ainda outros dois prémios (Montagem e Argumento Adaptado). Um outro filme acabou a noite também com três Óscares. Foi Os Miseráveis, um deles para Melhor Atriz Secundária.
As maiores surpresas da noite chegaram com os prémios de Melhor Realizador para Ang Lee e Melhor Atriz para Jennifer Lawrence, em Guia Para Um Final Feliz. Surpresa foi também a presença (a partir da Casa Branca) de Michelle Obama, que entregou o Óscar de Melhor Filme.
A cerimónia, como estava anunciado, celebrou o cinema musical e homenageou James Bond. Adele, que cantou em palco, venceu aqui o primeiro Óscar alguma vez entregue a uma canção para um filme do espião 007 ao triunfar na categoria de Melhor Canção.
Veja aqui, como foi a noite.
04.55 - 'Argo' vence Melhor Filme
A vitória de 'Argo"é a da mediania segura, política e cinematograficamente. E muito absurda, porque Ben Affleck não estava nomeado para Melhor Realizador. E 'Argo' faz também o 'comeback' do ano. Balanço: uma cerimónia de novo longa e irregular demais, e, com algumas exceções, uma premiação entre o mediano e o medíocre.
Alguém quer explicar esta cerimónia? Do triunfo da banalidade à consagração da previsibilidade... Sem tendências, parece que este ano os Óscares tiveram medo: da grandeza de Emmanuelle Riva à precisão de "Lincoln". Um ano para esquecer. 
04.54 - Michelle Obama apresenta a categoria de Melhor Filme
04.48 - Daniel Day-Lewis ganha Óscar de Melhor Ator, em 'Lincoln'. É o primeiro ator a vencer por três vezes esta categoria.
Daniel Day-Lewis merece o Óscar, mas se tivesse havido um empate com Joaquin Phoenix, não teria ficado mal. - 
04.42 - Oscar de Melhor Atriz para Jennifer Lawrence em 'Guia Para Um Final Feliz'
04.34 - Ang Lee ganha Melhor Realizador por 'A Vida de Pi'
Ang Lee ganha o Óscar de Melhor Realizador com o seu único mau filme. Está tudo dito. 
04.26 - Quentin Tarantino ganha Melhor Argumento Original com 'Django Libertado'
Tony Kushner perdedor (Óscar melhor argumento adaptado). Só nesta cerimónia alucinada é que isto que pode acontecer. Mas, ao mesmo tempo, eis um dos Óscares mais merecidos da noite: Tarantino pelo brilhante "Django Libertado". Parabéns! 
Tarantino tem o segundo bónus de consolação da noite em Argumento Original e 'Argo' ganha, absurdamente, em Argumento Adaptado. Dois tiros ao lado. 
04.23 - 'Argo' ganha Melhor Argumento Adaptado
04.16 - 'Skyfall' ganha Melhor Canção
Finalmente um Óscar para uma Bond Song. É justo pela história de 50 anos com belas canções. Pena que chegue com uma que está longe do melhor da tradição 007. 
Segundo Óscar para 007 com a ajuda preciosa da imponente Adele. 
04.10 - 'A Vida de Pi' ganha melhor Banda Sonora
Era talvez a mais banal e mais desinteressante das nomeadas e ganha? Mychael Danna já fez melhor... Thomas Newmann merecia o prémio por 'Skyfall' 
03.48 - Melhor Direção Artística para 'Lincoln'
03.32 - Óscar de Melhor Montagem para 'Argo'
Na TVI chamaram ao montador de "Argo" (vencedor de melhor montagem) um "especialista da montagem"... Que dizer da noção de tempo que reside em cada plano de "Lincoln"? Pois. 
'Argo' ganha primeiro Óscar e não se deve ficar por aqui. Um filme onde a montagem é dispicienda. 
03.22 - Melhor Atriz Secundária para Anne Hathaway em 'Os Miseráveis'
Mais certo do que a morte e os impostos: Óscar de Melhor Actriz Secundária para Anne Hathaway, a actriz certa no filme errado. 
03.14 - Melhor Montagem de Som ex-aequo para '00.30 Hora Negra'e 'Skyfall'
Os empates são raríssimos nos Óscares, mas este valeu a pena: Kathryn Bigelow/007 Skyfall 
03.12 - Melhor Mistura de Som para 'Os Miseráveis'
Como faz muito barulho, 'Os Miseráveis' ganham Óscar de Som. 
03.09 - Entrega dos Óscares técnicos e científicos.
02.50 - Melhor Filme em Língua Estrangeira para 'Amour'
Discurso contido mas tão comovido quanto comovente: eis Michael Haneke a receber o Óscar de melhor filme estrangeiro para um dos maiores títulos dos últimos tempos -Amour, essa obra que levo comigo até o futuro distante. 
'Amor' ganha justamente Óscar do Melhor Filme Estrangeiro e com isto pode ter acabado parte da sua premiação: nas categorias de Filme e Realizador. 
02.44 - 'Searching For Sugar Man' ganha Melhor Longa Documental
02.36 - 'Inocente' ganha Melhor Curta Documental
02.33 - Melhor Curta Metragem de Imagem Real para 'Curfew'
02.19 - Melhor Caracterização para 'Os Miseráveis'
'Anna Karenina' é só pano, natural que ganhe o Óscar de Guarda-Roupa 
02.10 - Melhores Efeitos Visuais para 'A Vida de Pi'.
01.59 - 'Brave Indomável' ganha Melhor Longa Metragem de Animação.
01.58 - Papermen, dos estúdios Disney, ganha Óscar de Melhor Curta-Metragem de Animação.
Compensou a estratégia de colocar o filme no YouTube para toda a gente ver. Boa estratégia. 
O Óscar de Melhor Curta de Animação vai para 'Paperman', um belíssimo filme que junta o melhor de dois mundos: a animação digital e a desenhada à mão. 
01.47 - Christoph Waltz ganha segundo Oscar como Melhor Ator Secundário, desta vez por 'Django Libertado'. Todos os nomeados para melhor ator secundário já tinham ganho pelo menos um Óscar.
Merecido o segundo Óscar para o ator austríaco em colaborações com Tarantino. Cria-se um par incontornável? A ver... Mas dava o prémio a Tommy Lee Jones. 



quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Hobbit


As primeiras imagens de O Hobbit: Uma Viagem Inesperada condensam em si as fraquezas e as forças do regresso do neo-zelandês Peter Jackson ao universo da Terra Média criado pelo escritor J. R. R. Tolkien: um convite para nos recostarmos na poltrona para deixarmos que nos contem uma história. O bom é que Jackson sabe muito bem a história que quer contar e como a quer contar, e nada o desvia nem por um milímetro desse fim. O mau é que, desta vez, já sabemos ao que vamos e O Hobbit percorre-se sem um rasgo, sem uma surpresa, sem qualquer coisa que marque a diferença em relação à trilogia do Senhor dos Anéis que Jackson dirigiu entre 2001 e 2003.
É inegável que o cineasta sabe muito bem o que dar aos fãs: aquilo que eles querem. Ou seja, uma visualização extremamente fiel ao espírito e à letra do universo de Tolkien, levada aqui ao limite de espraiar o romance por três filmes, dos quais este é o primeiro. Nesse aspecto, absolutamente nada a apontar: o rigor técnico e criativo, a justeza das interpretações são os mesmos aplicados ao Senhor dos Anéis, com toda a equipa criativa e quase todo o elenco-chave a regressar.
Só que, antes, sentia-se uma paixão, um trabalho de amor, um tudo-ou-nada para garantir que finalmente a obra de Tolkien chegava ao cinema “como devia ser”. Aqui, nada disso: fica-nos sempre a dúvida sobre se as considerações artísticas de fazer justiça ao Hobbit chegaram primeiro do que as considerações comerciais de assinar outro blockbuster de prestígio (coisa que, há dez anos, estava longe de ser garantida).
E, sobretudo, perdeu-se a sensação de maravilhamento da trilogia original, substituída aqui pelo conforto de reencontrar um universo. Talvez seja essa a grande razão pela qual Jackson apostou na projecção a 48 fotogramas por segundo (mas a cópia mostrada à imprensa não o foi nessa resolução mais elevada): a consciência de que O Hobbit: Uma Viagem Inesperada não iria intrinsecamente trazer nada de novo para lá de uma ilustração (deslumbrantemente inspirada, mas não menos ilustração) de um clássico. Uma história que gostamos que nos contem, mas que não nos deixa a mesma vontade de virar a página que O Senhor dos Anéis nos deixou ao final do primeiro filme.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Decisão de Risco

Tudo começa com uma manobra impraticável que vale o título de herói local à personagem interpretada por Denzel Washington. Os procedimentos de arranque estão correctos, mas o que sucede daí para a frente é de bradar aos céus! Admiro-me como não houve um consultor a informar o estúdio que aquilo é impossível. Reúnam-se com peritos e perguntem-lhes sobre a manobra. Desafio aceite? A própria cena da aterragem denuncia a grave falha técnica. Os muitos anos agarrado à animação e à ficção-científica devem ter a sua quota-parte para um erro tão grave que, ainda por cima, despoleta toda a narrativa. Uma impossibilidade técnica dá-nos a conhecer a moralidade e a dependência, tratadas ao de leve, de um homem na segunda parte do filme. E, valha-me o espanto, para, ainda assim, preferir a primeira parte.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Cinco novos filmes portugueses na 63ª Berlinale


Há dois anos Berlim deixou uma cadeira vazia para o iraniano Jafar Panahi . Foi durante a conferência de apresentação do júri da competição oficial da 61ª edição da Berlinale, na qual o realizador deveria tomar o seu lugar entre os demais jurados. Acusado de exercer atividades de propaganda contra o regime, foi preso pelas autoridades do seu país em 2010 e condenado a uma pena de seis anos de prisão e a 20 anos de interdição de fazer cinema. Estava então sob prisão domiciliária, tendo conseguido pouco depois fazer chegar a Cannes o documentário Isto Não É Um Filme. Mas este ano Jafar Panahi estará "presente" Berlim. Não ainda em pessoa, mas na forma de um novo filme. Co-assinado por Kambuzia Partovi (que já trabalhara com Panahi como argumentista), Pardé (que tem o título internacional Closed Curtain) é um dos títulos que integram a lista dos filmes da seleção oficial da edição deste ano.
Confirmando as palavras do também iraniano Abbas Kiarostami, que em outubro do ano passado dera em primeira mão notícia de um novo filme de Jafar Panahi, Pardé é assim um dos títulos numa competição que, entre outros nomes, junta novos filmes de Gus Van Sant, Steven Soderbergh, Bruno Dumont ou Denis Cotè (ver lista completa em baixo). Também integrando a Seleção Oficial, mas fora de competição o festival verá ainda filmes como Comboio Noturno para Lisboa, de Bille August, uma coprodução com participação portuguesa (parcialmente rodado em Lisboa e com Jeremy Irons como protagonista) e Dark Blood, filme de George Sluizer que corresponde à última obra do ator River Phoenix, que morreu antes de concluídos os trabalhos. Rodado em 1993 (o ator morreu a 31 de outubro desse ano), o filme só no ano passado teve a sua primeira exibição pública, num festival em Utrecht.
O júri internacional que terá a cargo a escolha do vencedor do Urso de Ouro, o principal troféu do festival, é presidido por Wong Kar Wai (de quem o novo The Grandmasters é exibido hoje como filme de abertura) e junta ainda as presenças dos realizadores Andreas Dresen (Alemanha ), Susanne Bier (Dinamarca), Athina Rachel Tsangari (Grécia) e Shirin Neshat (de origem iraniana), a diretorade fotografia Ellen Kuras (EUA) e o ator Tim Robbins (EUA).
Além dos prémios Alfred Bauer e Fipresci que Tabu, de Miguel Gomes arrebatou em 2012, há um ano o filme português Rafa, de João Salaviza, venceu o Urso de Ouro para Melhor Curta Metragem. Portugal tem este ano uma outra curta na seleção oficial. Trata-se de Tabatô, de João Viana, que terá ainda em exibição, na secção Forum, a longa A Batalha de Tabatô. A representação portuguesa nesta edição da Berlinale inclui também Terra de Ninguém, de Salomé Lamas (Forum), Um Fim do Mundo, de Pedro Pinho (Generation 14plus) e Cuba, de Filipa César (Forum Expanded). Há contudo mais um filme português no programa. Trata-se de Gado Bravo, de António Lopes Ribeiro (1934), que surge no quadro de um ciclo retrospetivo - sob o título "The Weimar Touch" - que integra obras de Douglas Sirk, John Ford, Fritz Lang. Jacques Tourneur e Max Ophüls.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Beasts of the Southern Wild


Beasts of the Southern Wild é a história de Hushpuppy (Quvenzhane Wallis), uma menina de seis anos que vive com o pai, Wink (Dwight Henry), em Bathtub, uma pobre comunidade isolada do "mundo real", a fazer lembrar a Nova Orleães pós furacão Katrina. Situada abaixo do nível do mar, esta comunidade  é constantemente fustigada por tempestades, o que leva os seus habitantes a procurarem refúgio temporário no mar, em jangadas improvisadas para o efeito.
É nestas circunstâncias adversas que pai e filha irão estabelecer uma relação conflituosa, com momentos de tensão gerados pela tentativa de Wink de preparar a sua filha para eventualidades que possam surgir no futuro. No fundo, a educação austera exercida pelo pai acaba por ser uma prova do amor fraternal que nutre pela filha, e que os levará a atravessar esta odisseia juntos.
Quvenzhane Wallis. Dois nomes que vão dar que falar no futuro e que ajudam a explicar o sucesso deste Beasts of the Southern Wild. Dois nomes de uma actriz estreante que, com apenas nove anos, consegue apresentar uma maturidade e autenticidade raras, características que muitos actores já veteranos tardam em alcançar (se é que alguma vez o conseguem). Mas é a interacção com o pai, interpretado pelo também estreante Dwight Henry, que torna tudo tão especial. Os dramas vividos, as trocas de olhares, a cumplicidade entre ambos, são momentos de pura magia que levam o espectador a emocionar-se.
Mas nem tudo são rosas no que ao argumento diz respeito. A tentativa do realizador Benh Zeitlin de  englobar diversos temas no filme acaba por ser prejudicial ao desenrolar do mesmo. A tempestade que se abate sobre Bathtub soa mais a um pretexto para alertar sobre as alterações climáticas do que propriamente um mecanismo inerente ao filme. Para além disso, as alusões alegóricas e metafóricas parecem descontextualizadas do que pretende ser uma simples história de amor. 
Beasts of the Southern Wild é uma obra original e actual, predicados cada vez mais raros nos dias que correm. Apesar de alguns aspectos menos conseguidos, nomeadamente a incorporação de elementos que desvirtuam o conceito base, e alguns estereótipos que poderiam ter sido evitados, este filme é recomendado pela sua audácia e história "larger than life". 

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013