domingo, 14 de outubro de 2012

Up - Altamente


Este filme da Pixar, assinado por dois veteranos da casa, Pete Docter e Bob Petersen, não é tão surpreendente como "Wall E", que tinha aquela inesperadíssima espécie de profundidade "teórica" (o analógico e o digital), uma cobertura suave mas acutilantemente "política", e sobretudo aqueles primeiros quarenta e cinco minutos com "música do ruído" no lugar dos diálogos. Mas tem, e torna-o logo claro, semelhante capacidade para enganchar o espectador, pequeno ou grande, jovem ou adulto.
É "para todos" sem que isso implique - como no segredo da Disney - qualquer infantilismo. Pelo contrário, e não nos ocorre melhor elogio a "Up", é mais adulto - e emocionalmente mais sincero, mais genuíno e mais maduro - do que muita coisa que por aí anda, em "live action", a ser vendida aos adultos. É o que lhe permite, por exemplo, começar o filme praticamente com uma morte. Um dos protagonistas é um velhote recém-enviuvado, e uma notável sequência introdutória apanha-o ainda em criança, acompanha-o pelos anos do casamento (há um plano extraordinário e totalmente inesperado, com Ellie, a mulher, no hospital, e sem palavras percebemos que o casal não pode ter filhos) e deposita-o no que afinal será o tempo da "acção". Meia-dúzia de minutos e o que parecia que ia ser a história afinal não é. O procedimento surpreende por várias razões, mas a principal é a delicadeza com que introduz e trata esses temas, o envelhecimento e a morte, tão pouco vistos em filmes deste género. O velhote recebe depois a visita de um escuteiro, um miúdo rechonchudo e desajeitado mas dotado de intermináveis entusiasmo e boa-vontade. Por motivos demasiado complicados de explicar, ver-se-ão a bordo de uma casa voadora (o estratagema dos balões coloridos fornece uma das sequências mais "líricas" do filme, plena de invenção visual) rumo à América do Sul. Encontram animais exóticos, animais comuns (cães de todo o tipo) e um vilão.  Lição de vida, claro, para o velhote como para o miúdo. Talvez embalado por criticas promissoras, devo ter criado expectativas altas de mais para o filme. E este para mim foi uma pequena desilusão. Pequena porque se a primeira parte do filme é muito boa, a partir do momento em que aterram na selva acho que o filme se perde um pouco. Parece que a partir desse ponto foi feito por outras pessoas, um projecto a duas mãos. Não que o filme seja mau. É bom... mas a sua descontinuidade a nivel de qualidade estraga o que parecia poder ser excelente.

Sem comentários: