sábado, 15 de junho de 2013

Nome de Código: Paulette

“Paulette”, nome da personagem central, explora através da comédia o encurtamento da distância entre dois mundos que, por natureza, costumavam estar bastante afastados: o da classe média decadente, especialmente quando seus luminares descem ao ponto de ter viver com uma reforma insuficiente, e o dos pequenos criminosos (ou não tão pequenos) dos bairros sociais. Como em tantos filmes, o problema das personagens deixa de ser de ordem moral para ser uma questão de sobrevivência psicológica (mais que económica) diante de uma opressão maior – e vinda de um sistema, ele próprio, muito pouco preocupado com moralidade.   Com um ponto de partida semelhante ao da séria norte-americana “Erva”, segue o percurso de uma senhora já idosa (Bernadette Lafont) que decide vender drogas para sobreviver. Jerôme Enrico torna essa ponte verossímil ao criar, não uma bondosa velhota que resultaria pouco credível, mas uma particularmente desagradável – solitária, rude, cruel e sem meias-palavras na hora de culpar os estrangeiros por tudo aquilo que perdeu. O filme, aliás, vale-se muito de um magnífico desempenho de Lafont – que lança a sua “avozinha ganza” para um seleto clube das velhotas mais terríveis do cinema.   O argumento consegue caraterizar de forma sólida e realista o mundo dos jovens desocupados e pequenos traficantes – inclusive na forma violenta como reagem e como tomam atitudes típicas de criminosos. Por outro lado, Jerôme Enrico, tem uma mão um tanto pesada para a comédia e fracassa em alguns momentos ao não alcançar a leveza pretendida, terminando por padecer de um defeito particularmente importante para uma comédia: não tem grande piada.    De qualquer forma, a comédia francesa, dentro de seu estilo muito particular, normalmente rende mais qualquer coisa do que gargalhadas. Neste caso, funciona melhor enquanto retrato social do que como comédia.  

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