sábado, 8 de junho de 2013

Exposição faz revelação na obra de Camões

"A grande revelação desta exposição é que mostra duas impressões feitas em Goa, do mesmo ano e do mesmo impressor, de 'Coloquios dos simples', de Garcia de Orta, em que há duas versões diferentes da ode de Camões", disse Alves Dias, que fez a investigação e organizou a exposição que estará patente a partir de segunda-feira, na sala de referência da Biblioteca Nacional, em Lisboa.
"Identifiquei duas edições ou impressões dos Colóquios de Garcia de Orta, a A e B, feitas no mesmo tipo de material que não existe em Lisboa e só em Goa, ambas do mesmo ano e do mesmo tipógrafo, o alemão Johann de Enden, que havia pouco tempo instalara o seu prelo na Índia portuguesa", explicou o historiador.
Entre as duas edições, Alves Dias assinalou algumas diferenças, nomeadamente erros que, numa edição, existem e na outra foram corrigidos, levando-o a considerar como "2.ª edição ou edição B", aquela em que não são notados os erros. A ode, pedindo a proteção para um livro de um amigo, é o primeiro poema de Luís de Camões que foi publicado, e "integra o conjunto de paratextos dos 'Coloquios dos simples, e drogas he cousas medicinais da India', de Garcia de Orta".
"Como no século XVI os livros eram publicados em folhas soltas e não encadernados, fez com que, ao longo dos tempos, se fossem misturando folhas de uma e de outra edição, e daí ninguém ter dado conta destas alterações", disse o historiador que, desde janeiro, estudou minuciosamente 22 das 25 edições conhecidas dos "Coloquios", de Garcia de Resende. A 1.ª versão "tem muitas gralhas" e "há, na segunda edição, muitas coisas que foram recompostas", disse Alves Dias que rematou: "Entre uma e outra há textos corrigidos e outros rescritos".
No tocante à ode camoniana, Alves Dias afirmou que, de uma para outra edição, "modifica-se muito a grafia e a pontuação, mas apenas uma palavra é alterada e com ela o sentido". A alteração das palavras é "malícia" por "melícia", "mas ambas podem fazer sentido, porque se fala de um deus guerreiro que curava e que era chefe de guerra, ora era perito em melícia como militar, e em malícia no sentido de curar o mal", explicou o historiador. "A segunda versão diz 'malícia' e a primeira 'melícia', e isto nunca foi visto até hoje", disse o historiador. Na Biblioteca Nacional estarão expostos estes dois exemplares do século XVI, assim como "toda a Lírica de Camões publicada até 1688, as denominadas 'Rimas'".

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