Imagine as maiores estrelas da música, após a aposentadoria, reunidas numa mesma casa, reservada apenas a grandes artistas. A premissa é improvável, devido à batalha de egos e à situação financeira confortável destas personalidades, mas o potencial cinematográfico da ideia é grande. Dustin Hoffman, em sua estreia na direção de longas-metragens, prefere não explorar todas as possibilidades da história, e sim oferecer um filme leve, despretensioso, baseado no equilíbrio entre drama e comédia.

Já o drama é gerado por Maggie Smith e Tom Courtenay, interpretando um casal desfeito há décadas. Os dois se apaixonaram, se separaram e agora se reencontram nesta casa. Durante pelo menos 30 minutos, eles se perseguem, esbarram-se nos corredores, olham com remorso um para o outro. É curioso pensar que o cinema contemporâneo está repleto de tramas sobre a convivência comunitária e artística de idosos, geralmente assombradas pela proximidade da morte. No entanto, em O Quarteto, a morte parece distante, improvável. O drama nasce unicamente das feridas amorosas do casal.
Infelizmente, este romance é a parte mais fraca do filme, porque aparece sem contexto, e é superado com uma facilidade espantosa. Numa cena, Reginald (Courtenay) pensa em abandonar a casa para não ter que olhar para Jean (Smith), mas alguns minutos mais tarde eles já conversam pacificamente. Nada é muito realista nesta interação. Além disso, a atuação de ambos é tensa, rígida, deixando pouco espaço à compaixão do espectador.

Apesar destas reservas, a parte cômica, muito mais regular e constante do que a dramática, consegue conferir ao conjunto uma atmosfera lúdica. Hoffman pode não ter conseguido criar uma obra memorável e inovadora, mas certamente orquestrou bem o tom fluido da produção. Com a presença de bons atores coadjuvantes e diálogos afiados, típicos do cínico humor britânico, O Quarteto é uma obra simples, previsível e um tanto irregular, mas ainda assim bastante agradável.