Complexo: Universo Paralelo funciona como um lado B de Tropa de Elite (2007). Desenha-se, de resto, quase nos seus antípodas, do outro lado da barricada. Os irmãos Patrocínio vão ao fundo da favela em busca da essência dos problemas. E descobrem-na. A questão primordial do Complexo não é a violência mas sim a miséria. Ou, como é dito nas palavras nas palavras do MC Playboy, rapper residente e personagem chave: "Em vez de investirem em prisão, devem investir em educação, é uma jogada inteligente". Há uma tentativa de focar todas as perspectivas da favela, mas sempre do lado de dentro (nunca temos o olhos do polícia). Dá a ideia de uma comunidade que vive miseravelmente em harmonia; Que tem os seus espaços de diversão e os seus dramas diários de luta pela sobrevivência. Foca as pessoas simples que ali vivem. Mas não se abstém de ir até aos traficantes, em plenas vigias e até lhes dá uma oportunidade de se explicarem. "Ninguém escolhe ser traficante", é coisa que todos afirmam. Um mérito que vem dos acasos do destino é que este filme foi feito no timing perfeito, apanhando parte da invasão policial. Ouve-se um morador dizer: "dos 17 mortos apenas sete eram traficantes". E ficamos assustados com a complexidade do caso, duvidando de que lado combatem os maus. Contudo o verdadeiro murro no estômago não vem da violência desses danos colaterais, mas da incrível e triste história de Dona Célia. A mulher cuja miséria acompanhamos ao longo do filme. Passou fome e morreu-lhe um filho. E acreditem, nem o tráfego de droga nem a violência policial têm nada a ver com o assunto. Apenas a crueldade de uma sociedade que não sabe cuidar dos seus.
Sem comentários:
Enviar um comentário