Desconversar

E se depois de um ano conversassemos assim:
-No primeiro dia dos últimos que passamos disseste para não ter medo... um mês sem medo... repetias. O tempo não é assim tão linear, sabes?
-Pois é, sei. Mas há muita coisa que tu não sabes. E há perguntas que não se fazem, assim como há respostas que não se querem ouvir.
-E há promessas que não se fazem quando temos medo de acreditar nelas.
Um mês tem sempre um primeiro dia...como aquele em que pediste mais dias...Contudo os dias também não são lineares e quando não se sabe o que se sente, ou simplesmente não se quer saber, os dias tornam-se circulares. Como novelos de lã. E a lã é muito quente.
- Tão quente quanto exagerada...espessa...exagerada como...como...
- Como eu?
- Não coloques palavras na minha boca.
-Na tua boca não. No novelo de lã quente e exagerado. Coitado, é apenas um novelo. Não o queiras desenrolar.
-Pára com as tuas filosofias. Não sabes nada. Tu não sabes nada. Volta à realidade e pára de divagar. Pés no chão...
-Eu? Eu sei o que sei.Tudo o resto é aprendizagem.E eu gosto de aprender. Pés no chão? Qual é o chão que tu queres pisar?
-Eu não quero pisar nada. Pisar é uma palavra exagerada.
-Exagerada como o novelo de lã? As imagens que tu controis!!!Sinceramente!
-És tu que controis imagens...
-Acusas-me de algo?
-Sim!
-Do que?
-Deixa. É conversa para outra altura.
-Não. Agora! Que o agora também não é linear.