segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Au nom de la Terre


Em França, a cada dois dias, um agricultor comete suicídio. Esta observação avassaladora mostra o mal-estar de uma profissão desacreditada, apesar da sua utilidade. Transfigurada por novas restrições de produção, oprimida pela necessidade de modernização constante para atender às crescentes demandas dos padrões europeus, às vezes distantes da realidade, a nobre profissão de camponês está sujeita a um contexto agrícola cada vez mais difícil. As quintas, na maioria das vezes familiares, são testemunhas de grandes crises de gerações, quando parece óbvio que a visão da profissão deve mudar em profundidade se quiser sobreviver.
É esse mal-estar camponês que retrata o diretor da regiäo de Poitevin, Édouard Bergeon. Já em 2012, ele apresentou o documentário Os Filhos da Terra, no qual acompanhou Sébastien Itard, agricultor, produtor de leite no Lot, cuja trajetória lhe fez lembrar a do seu pai. 

Au nom de la Terre, permitiu ao diretor traçar o percurso do seu falecido pai. Com base na sua própria história familiar, Édouard mostra-nos um contexto agrícola difícil, ao mesmo tempo em que clarifica que os agricultores não estão protegidos contra riscos, sejam eles climáticos ou económicos. Quando a colheita está dependente do clima e as necessidades produtivas batem à porta, as pancadas fortes causam um sofrimento tão visceral que a família permanece como o único ponto de equilíbrio.
Para interpretar e representá-lo quando ele ainda estava destinado a uma carreira agrícola, o cineasta escolheu o jovem ator Anthony Bajon, premiado pelo Urso de Prata por Melhor Ator por seu papel em A Oração. Aqui, ele apresenta uma performance profunda e comovente, deslizando silenciosamente entre um estudante do ensino secundário que trabalha na quinta de família como um homem.  A par dele, encontramos também o conhecido ator Guillaume Canet, igualmente numa performance profunda e comovente, interpretando com sinceridade um agricultor que não conseguirá lidar com as dificuldades da classe agrícola.   
Este é um filme autobiográfico chocante, que faz soar o alarme, mostrando como é fácil perder terreno. Au nom de la Terre, procura revelar as histórias reais de famílias que se escondem atrás de números financeiros avassaladores, mas que, finalmente, não têm o suficiente impacto na opinião pública. Exercendo um trabalho físico complicado, os agricultores precisam quiçá  de um apoio em larga escala. Protegê-los dos riscos que podem arruinar meses de trabalho em poucas horas, pode trazer-lhes um pouco da serenidade que lhes falta: uma questão nacional, longe de estar resolvida.

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