domingo, 2 de março de 2014

Filomena


O novo filme de Stephen Frears é baseado na história verídica de uma mulher irlandesa a quem a Igreja Católica, nos anos 1950, tirou o filho ilegítimo para o vender para adopção; cinco décadas depois, com a ajuda de um jornalista, Philomena Lee, é esse o seu nome, continua a procurá-lo.
Eis Judi Dench e eis Steve Coogan. Filomena é um filme sobre este “casal” improvável: um jornalista cínico, que não acredita em “histórias de interesse humano” (Coogan), e uma mulher (Dench) que se mantém fiel à sua crença - e a sua crença é acreditar. O argumento trabalha com precisão de relojoaria esse confronto, esse equilíbrio, o timing da comédia, a espessura drama, doseando-os de forma científica. É isso que comanda a duração de cada plano, e isso sobrepõe-se à história. Tal como não sobra espaço para as personagens existirem: só os actores cabem no filme, eles e a consciência do jogo - estão menos a representar personagens e uma história em concreto do que a servirem uma mecânica, um género. Mas há algo aqui da ordem da ausência, um princípio de impessoalidade. Talvez Frears, à partida mais perto do cinismo do jornalista que despreza as “histórias de interesse humano”, precisasse dessa protecção para se abeirar do material. Mas assim desvia para o espectador o dilema da crença.

Sem comentários: