sexta-feira, 22 de março de 2024

O assassino


O Assassino de David Fincher é um thriller de vingança que aborda a vida de um matador profissional.  Depois de ter falhado uma missão sofre consequências pessoais dolorosas e decide perseguir os culpados e vingar-se. Trata-se de uma historia simples e banal mas nas mãos de Fincher tudo se transforma em qualidade.  O filme é super bem estruturado, nada sobra e nada falta. Mickael Fassbender é quem dà corpo ao Assassino- papel meticuloso e moderado onde o silêncio das expressões faciais foi trabalhado ao pormenor, dando os seus resultados. Fincher constrói uma ode à violência sem sequer pratica-la. As ações seguem sempre o mesmo ritmo equilibrado e suavizado, mesmo quando de luta se trata. A arte de Fincher prova mais uma vez que para se alcançar o primor é preciso mais do que uma sequencia de boas imagens. 

quinta-feira, 21 de março de 2024

Donzela

 

Millie Bobby Brown, a protagonista de Stranger Things, dà vida à personagem principal deste filme. Mais um papel, a seguir ao Enola Holmes, onde a atriz é alguém indefeso que explode de um momento para o outro para mostrar a sua força e tudo resolver. O padrão repete-se e creio que Millie Bobby Brown està refém deste tipo de personagens. Nao coloco em causa o seu talento, nem duvido do mesmo, mas já vai sendo hora de Millie arriscar em aceitar outro tipo de papeis. O filme em si é fraco: uma jovem que aceita casar-se com um belo príncipe, num enredo que envolve a família dela e a do próprio príncipe, numa armadilha para a atirarem a uma caverna onde vive um dragão cuspidor de fogo. Argumento fraquinho, enredo fraquinho e cenários bastante artificiais para empolgar quem quer que seja. O único destaque positivo será o de Robin Wright que interpreta a rainha mà de forma exemplar. Ah, e a possibilidade de ver algumas belas paisagens de Portugal já que meia dúzia de cenas do filme foram gravadas em terras lusas.



quarta-feira, 20 de março de 2024

A oeste nada de novo

 

A oeste nada de novo é uma adaptação alemã do clássico de Erich Maria Remarque, baseado nas suas memórias nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial e que, em 1930, já tinha sido adaptado ao cinema pela primeira vez. Esta é a historia de cinco amigos inspirados pelo discurso patriota e nacionalista de um professor que decidem alistar-se no exercito para se juntarem à ofensiva a oeste e combaterem na fronteira francesa. E assim começa o pesadelo destes cinco amigos que aterram nas trincheiras completamente iludidos com ideias pré-concebidas e opostas à realidade. A falta de condições, a violência, a crueldade e o perigo constante säo sentidos desde o primeiro minuto e o pânico instala-se. E a noção de guerra é rapidamente compreendida. Estamos perante um retrato cru e destemido da barbárie e desumanização da guerra. Não há propriamente uma história a não ser relatar as amarguras que se passavam nas trincheiras sujas e enlameadas, onde sobreviver era a única missäo. É um filme de guerra. É um filme realista, sem enfeites nem dramatizações. O drama da guerra fala por si.

 

segunda-feira, 11 de março de 2024

Linda veut du poulet !

  

Linda veut du poulet! é um filme de animação de Chiara Malta e Sébastien Laudenbach e foi vencedor do prémio Cristal para a melhor longa-metragem no festival de Annecy. Este filme conta a história familiar de Paulette e Linda. Paulette, jovem mãe e péssima cozinheira compromete-se a preparar uma das receitas preferidas de Linda, sua filha, num dia de greve geral em França. Cómico e comovente, num rodopiar de cores gráficas mais importantes que o próprio traço do desenho, o filme centra-se na busca desesperada  de uma galinha por parte de Paulette para poder cozinhar a tal receita que a filha lhe pede. Esta aventura vai muito além de uma simples tarefa culinária- Linda, injustamente castigada por ter roubado um anel, que não roubou, quer como recompensa que a mãe lhe prepare uma receita do seu falecido pai. E a busca incessante por uma galinha em dia de greve vai unir amigos, família e todo um bairro. Apesar do constante espírito infantil, o filme não se priva de abordar outras temáticas, como o luto, as greves, os bairros sociais e as relações familiares. 

sábado, 2 de março de 2024

Été 85

 Été 85, filme do cineasta francês François Ozon, é uma historia que entrelaça amor, tragédia e morte, num coming out dramàtico de dois jovens adolescentes, no inicio dos anos 80. O filme é baseado no livro Dance on My Grave, de Aidan Chambers. Retrato de um intenso e apaixonante primeiro amor, Été 85, é uma viagem através da descoberta pessoal: pelas lentes de François Ozon passeamos por entre cenários nostálgicos, ambientes luminosos, quentes e pormenorizados, numa verdadeira ode à imagem. É portanto natural uma certa ampliação das emoções que nos chega através das imagens, de todo o pormenor visual. É explorada (de uma forma bastante honesta) toda a problemática com a obsessão,  o trauma, a desilusão e o fim da juventude idealizada. É honestamente aborrecido quando o realizador tenta preencher de forma repetitiva toda a narração com temáticas filosóficas- sobre morte, existencialismo e afins... para além de repetitivo, as temáticas carecem ainda de alguma pobreza, na forma como säo abordadas. Felizmente, Été 85 respira profundamente através da conexão entre os dois personagens que formam o jovem casal. Respira ainda naquela tentativa singela de Ozon em idealizar o amor- aquele brilho lírico, aquela saturação ao trabalhar a imagem e aquela nostalgia vibrante de todos os cenários, säo realmente interessantes.