A adaptação de 'Comboio Nocturno para Lisboa' de Pascal Mercier não era à
partida uma tarefa muito fácil para nenhum realizador. E quem já leu
este romance pode certicar esta afirmação. Não há livros impossíveis de
levar ao ecrã, só que este, 'Comboio Noturno para Lisboa' é
essencialmente um profundo ensaio filósofico e existencial, em que a
viagem a Lisboa torna-se apenas o pretexto do seu 'cinzento'
protagonista para inspirar o seu pensamento e mudar de vida. Para um
homem com duas Palmas de Ouro e um Óscar de Melhor Filme Estrangeiro do
Oscar, como Bille August ('Pelle, o Conquistador'), também se esperava
mais. Mesmo com as naturais dificuldades da adaptação literária; e
sabendo que não é por acaso que o realizador tenha feito apenas dois
filmes na última década: 'Return to Sender', e 'Goodbye Bafana', filmes
que na verdade desapareceram sem deixar rasto, mesmo sendo um deles um
biopic sobre Nelson Mandela. De qualquer modo esta produção alemã-suiça
e que conta ainda com 10% da portuguesa Cinemate, consegui reunir um
grupo de estrelas internacionais e portuguesas: Jeremy Irons, Bruno
Ganz, Mélanie Laurent, Christopher Lee, Lena Olin, Martina Gedeck, Jack
Huston, August Diehll e os portugueses Nicolau Breyner, Marco de
Almeida, Adriano Luz, José Wallenstein e Beatriz Batarda. A grande
curiosidade (pelo menos para nós portugueses) era o facto de ter sido
quase na totalidade filmado em Lisboa Quanto ao filme conta a história
de Raimund Gregorius (Jeremy Irons) um talentoso, mas maçador professor
de meia-idade. Depois de um encontro casual com uma misteriosa mulher,
num dia chuvoso da cidade de Berna onde ensina e leciona, Raimund
descobre um livro do escritor e medico português, Amadeu de Prado, uma
figura perseguida pelo regime de Salazar. É com este pretexto que enceta
uma surpreendente viagem de comboio até Lisboa, para descobrir o
destino de tão fascinante personalidade. A jornada de autodescoberta de
Raimund e o que está à volta dela, é na verdade uma história apaixonante
e bela, ainda mais apoiada no cenário, cor e na luz da lindíssima
Lisboa, que é felizmente a grande protagonista de 'Comboio Noturno para
Lisboa. O filme não é mau, mas é monótono e enrrolado: repetem-se muitos
planos da cidade e das viagens de cacilheiro; a história é reduzida ao
mínimo do drama; procura fazer um relato e uma história dos movimentos
da oposição e da polícia política de Salazar, mas nem sempre da forma
mais correcta e verossímel, pelo menos para nós portugueses.
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