domingo, 29 de dezembro de 2019

Esquecido

 Esquecido é mais um desses filmes de gestao de carreira para Tom Cruise. Aqui, ele é um mecânico futurista encarregue de manter uma instalação energética numa Terra pós-apocalíptica, protegendo a maquinaria necessária para sustentar o êxodo humano para uma colónia espacial. Era simples e basico se assim fosse. Mas não é bem assim. Depois de meia hora de filme, o realizador mostra-nos que quer mais e a reviravolta é assegurada. Pena essa reviravolta ser uma copia de outros filmes já vistos. Contudo é de louvar a cenografia e um roteiro simplista que gira em torno de três personagens, conseguindo alimentar-se a si mesmo. Esquecido é mais interessante do que aparenta mas fica mesmo assim aquém do esperado.

sábado, 28 de dezembro de 2019

Alice Através do Espelho

Em 2010, Alice no País das Maravilhas foi um grande sucesso de bilheteira mas a reação dos críticos e de parte do público não foi muito positiva: reclamou-se de uma narrativa confusa e do excesso de efeitos especiais em detrimento dos sentimentos e do aspecto psicanalítico da obra original. Seis anos depois, o diretor Tim Burton não quis continuar no projeto, sendo substituído por um cineasta de estilo mais convencional: James Bobin, autor dos dois últimos Muppets.
E assim nasce Alice Através do Espelho, numa espécie de tentativa de concerto da estrutura inicial. Pura idiotice (isto para quem, como eu, gostava da Alice original do Tim Burton). As motivações no segundo filme são bastante fracas. Tudo vale para levar a protagonista de volta ao País das Maravilhas, ao reencontrando com o gato, o coelho, e a conhecer um novo vilão, o Tempo.Tudo supérfluo, tudo forçado. As incoerências relacionadas com a personagem Tempo são flagrantes. Entre o elenco, Sacha Baron Cohen limita-se a combinar sotaques e tiques de suas personas anteriores, assim como Borat e Ali G. Anne Hathaway mantém a composição questionável da Rainha Branca meio etérea, com os braços sempre no ar. Salva-se Johnny Depp que domina os trejeitos do Chapeleiro com destreza, Helena Bonham Carter, com a sua mestria em diálogos, e Mia Wasikowska com a força e ternura necessárias para trabalhar a sua personagem. E mesmo assim, as personagens pouco evoluíram desde Alice no País das Maravilhas.
James Bobin, na direção, é mil vezes mais  extravagante e saturante que Tim Burton. Alice Através do Espelho aproveita pouquíssimo da história de Lewis Carroll além da premissa básica da menina que atravessa o espelho e redescobre o País das Maravilhas. O humor é discreto, a originalidade não é exatamente o ponto forte do filme e a narrativa é ainda mais confusa do que antes. 

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Frozen- Uma Aventura Congelante


Quando chega o momento de apresentar uma nova princesa num estúdio que nos habituou às melhores e mais encantadoras princesas, a tarefa não deve ser nada fácil. Mas a Disney já nos habituou a trabalhos de excelência e quando esse momento chegou...os criativos inspiraram-se num clássico infantil da literatura dinamarquesa de Hans Christian Andersen e fizeram nascer Frozen- Uma Aventura Congelante. E que belo nascimento!
A história é a de Elsa, a princesa de Arendelle, que possui o poder de Criocinese: criar neve e gelo parece ser uma divertida brincadeira para ela e para a sua irmã mais nova, Anna, até ao dia em que acidentalmente ela magoa a sua irmãzinha, que quase morre congelada. Depois deste dia, os seus pais condenam-na a uma reclusão completa para que seus poderes sejam controlados antes que se tornem uma maldição. No dia de sua coroação, porém, nem tudo acontece como foi programado e todo o reino de Arendelle acaba debaixo de neve.
Os elementos clássicos de uma animação Disney estão todos aqui - inúmeros musicais que ajudam a contar a história, personagens principais e secundários que emocionam e arrancam sorrisos, roteiro soberbamente bem escrito e um visual impecável, como já é de se esperar. Os flocos gelados, as florestas e todos os reflexos e transparências do gelo criam um visual 3D lindo e também passível de ser apreciado em cinema normal.
Mas por muito divertido que seja, o filme não é impecável. Toda a parte de fantasia poderia ser melhor trabalhada. Os trolls, personagens que aparecem a meio da historia, desaparecem logo a seguir, sem muito se explicar o porquê de serem tão especiais. O poder de Elsa também é pouco explorado. Não há uma explicação sobre como surgiu e porque só ela o detém. Mas bom, detalhes. Até porque a união da historia classica com o cinema moderno é deliciosa.

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Everest

 Baseado em factos reais, o filme acompanha a viagem de um grupo de alpinistas que tenta escalar o monte Evereste, mas acaba obrigado a lidar com uma série de dificuldades impostas por uma tempestade. Dirigido pelo islandês Baltasar Kormákur, o filme apresenta um rigor técnico notável. Mas também apresenta um guião pouco emocionante e uma péssima conversão para o 3D.
Entendo que o guião tenha tentado escapar a um possível melodrama cliché, mas o resultado foi um exagero tamanho, ao ponto de ser difícil para o espetador relacionar-se com a própria história.
Ficamos com a sensação de estar a ver algo bastante interessante mas que poderia ser bem melhor. 
O filme conta com um elenco poderoso:  Jason Clarke, Jake Gyllenhaal, Josh Brolin, Robin Wright, John Hawkes, Emily Watson, Michael Kelly, Keira Knightley e Sam Worthington- mas que atua perante um guião muito pouco desenvolvido.

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Forever – The Best show about the King of Pop

le Mardi 26 Novembre 2019
L'Acclameur
Niort 

O musical é uma homenagem à carreira e à vida de Michael Jackson e é o único apoiado pela família do músico. Por muito que as musicas cantadas e tocadas ao vivo, assim como as coreografias, sejam recriações quase perfeita, não há nada que substitua a energia e presença do Mickael Jackson. Recriações de originais são sempre um belo contributo com todas as suas belas intenções... mas para mim, é preferível ouvirmos e vermos o verdadeiro artista no Youtube, por exemplo.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Au nom de la Terre


Em França, a cada dois dias, um agricultor comete suicídio. Esta observação avassaladora mostra o mal-estar de uma profissão desacreditada, apesar da sua utilidade. Transfigurada por novas restrições de produção, oprimida pela necessidade de modernização constante para atender às crescentes demandas dos padrões europeus, às vezes distantes da realidade, a nobre profissão de camponês está sujeita a um contexto agrícola cada vez mais difícil. As quintas, na maioria das vezes familiares, são testemunhas de grandes crises de gerações, quando parece óbvio que a visão da profissão deve mudar em profundidade se quiser sobreviver.
É esse mal-estar camponês que retrata o diretor da regiäo de Poitevin, Édouard Bergeon. Já em 2012, ele apresentou o documentário Os Filhos da Terra, no qual acompanhou Sébastien Itard, agricultor, produtor de leite no Lot, cuja trajetória lhe fez lembrar a do seu pai. 

Au nom de la Terre, permitiu ao diretor traçar o percurso do seu falecido pai. Com base na sua própria história familiar, Édouard mostra-nos um contexto agrícola difícil, ao mesmo tempo em que clarifica que os agricultores não estão protegidos contra riscos, sejam eles climáticos ou económicos. Quando a colheita está dependente do clima e as necessidades produtivas batem à porta, as pancadas fortes causam um sofrimento tão visceral que a família permanece como o único ponto de equilíbrio.
Para interpretar e representá-lo quando ele ainda estava destinado a uma carreira agrícola, o cineasta escolheu o jovem ator Anthony Bajon, premiado pelo Urso de Prata por Melhor Ator por seu papel em A Oração. Aqui, ele apresenta uma performance profunda e comovente, deslizando silenciosamente entre um estudante do ensino secundário que trabalha na quinta de família como um homem.  A par dele, encontramos também o conhecido ator Guillaume Canet, igualmente numa performance profunda e comovente, interpretando com sinceridade um agricultor que não conseguirá lidar com as dificuldades da classe agrícola.   
Este é um filme autobiográfico chocante, que faz soar o alarme, mostrando como é fácil perder terreno. Au nom de la Terre, procura revelar as histórias reais de famílias que se escondem atrás de números financeiros avassaladores, mas que, finalmente, não têm o suficiente impacto na opinião pública. Exercendo um trabalho físico complicado, os agricultores precisam quiçá  de um apoio em larga escala. Protegê-los dos riscos que podem arruinar meses de trabalho em poucas horas, pode trazer-lhes um pouco da serenidade que lhes falta: uma questão nacional, longe de estar resolvida.

sábado, 9 de novembro de 2019

Tina - A Verdadeira História de Tina Turner


Os fãs da Tina Turner com certeza que adoram este velho filme de 1993. E para eles o filme não será nenhuma surpresa. Mas talvez para alguém que não conheça a história de vida dela, este filme pode ser surpreendente e com cenas bastante pesadas para os mais sensíveis.
De destacar a impressionante atuação de Angela Bassett (Tina) e de Laurence Fishburne (Ike Turner), ambos indicados ao Oscar de melhor atriz e melhor ator. De destacar também a excelente dobragem feita, dado que a voz que ouvimos nas canções é de Tina Turner e não de Angela Basset.
Gostando-se ou não de Tina Turner, o filme é uma obra de peso.

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

domingo, 13 de outubro de 2019

Le chat du Rabbin


Após o seu bem sucedido 'Gainsbourg, vie heroïque', Joann Sfar apresenta-nos Le chat du Rabbin, uma espécie de viagem ao passado e ao seu primeiro grande amor: a banda desenhada. E eis que assim conhecemos o espírito rebelde de um gato falante que vive na Argélia cosmopolita da década de 1920. Rebelde, persistente e perspicaz,  o gato é o ponto de ligação entre uma simples historia de banda desenhada e a sua mensagem político- social, abrangendo um publico bastante amplo e diverso. O gato tem aqui o papel de perturbar o homem, de questiona-lo, critica-lo, de expor os medos e superstições humanas.  O gato é por si só a consciência humana. 
é claro que há sempre algo de burlesco e excêntrico nas histórias de gatos falantes, e a escolha do 3D é demasiado arriscada para planos tão invertidos e sem profundidade real. Mas Sfar quis ser fiel à imagem dos quadradinhos de banda desenhada. Daì a 'ausência de volume' das imagens. 
Por fim, o autor mantém a maioria dos pontos fortes e fracos de sua obra original, permanecendo as mesmas ambiguidades, inclusive o público em questão: com a sua mensagem de extrema clareza, o gato do rabino poderia falar perfeitamente com as crianças... isto se a natureza erótica e às vezes violenta nao falasse mais alto.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

ENCHENTE


de 25 a 26 de Setembro 2019
Le Moulin du Roc


Coreografia : Luìsa Saraiva
Colaboração de Céline Bellut, Angela Diaz Quintela, Johann Geidie, Ching-Mei Huang, Francisco Pinho, Alejandro Russo, Max Wallmeier.
Luzes e cenografia : Jan Ellen
Música : Julius Gabriel
Costumes : Inès Mariana Moitas
Produção : Melchior Hoffman
Design : Dayana Lucas
Fotografia : © Jose Caldeira



sábado, 6 de julho de 2019

Exposition: Les Grands Enfants




De 9 de Julho a 31 de Agosto 2019
Das 14h às 19h
Le Pilori
1 place du Pilori 79000 Niort
Entrada Gratuita

quarta-feira, 19 de junho de 2019

The White Crow

Ralph Fiennes escolheu a história verdadeira do bailarino russo Rudolf Nureyev para o seu mais recente filme realizado. Poderia ter sido uma ótima parceria entre o cinema russo, inglês e francês se os russos não abandonassem o projeto antes do fim (por razões políticas, claro). Dirigido então por uma equipa inteiramente inglesa, o filme é um trabalho cinematográfico baseado na biografia de Nureyev escrita por Julie Kavanagh. 
As imagens são lindas e o filme desdobra-se diante dos nossos olhos como uma dança que vai e volta, como um espetáculo de dança protagonizado pelo próprio Nureyev. Mas o cinema tem os seus limites quando as filmagens são cíclicas e cheias de analepses que variam em três tempos: passado profundo, passado recente e presente. Perdemo-nos rapidamente numa mistura de tempos apresentados e o filme sofre de uma certa desordem mesmo na forma como foi filmado. Contudo, a ideia de misturar a juventude do protagonista com o seu presente, não foi de todo uma aposta falhada, já que é interessante o efeito espelho que essa proposta nos oferece.
O filme brinda-nos com planos maravilhosos, cores magníficas e um cenário bastante competente. À parte de  Ralph Fiennes (que também brilha como ator) e Adele Exarchopoulos, todo elenco é praticamente desconhecido. Portanto a imersão no enredo torna-se ainda mais intensa. O papel principal do dançarino russo é dado a Oleg Ivenko, um também bailarino que será um desconhecido no mundo do cinema. A sua performance é incrível tanto como bailarino como ator expressivo e emocional. Além do mais, as semelhanças com Nureyev são perturbadoras.
Assistimos à vida alienada de um personagem igualmente sofrido, que deambula entre bissexualidade, oportunismo e sacrifício, num período de guerra fria que o levará a pedir exílio à França. A probabilidade de se sair da sala de cinema com vontade de ver um ballet é enorme. Portanto, fica aqui provado o sucesso de Ralph Fiennes ao querer transmitir a paixão animal que o protagonista sentia pelos palcos.

terça-feira, 18 de junho de 2019

Revolutionary Road

Revolutionary Road é um filme sobre a degradação do 'American Dream' dos anos 50 e que vive das belas interpretações de Kate Winslett e Leonardo di Caprio. O filme é deles. As suas presenças são a base de tudo, não fosse Sam Mendes o realizador, exímio como diretor de atores que explora (como sempre) o seu cinema com o tal toque de encenação teatral. 
O olhar crítico sobre a época em questão é de uma inteligência evidente, embora haja a necessidade da fidelidade ao romance original de Richard Yates. Contudo, Sam Mendes não vai mais longe. É só e apenas isto: um filme competente e muito bem ilustrado pelo brilhantismo dos actores. 

sábado, 15 de junho de 2019

Elisa y Marcela

Elisa y Marcela é um filme baseado numa história real ocorrida em Espanha no ano de 1901: duas mulheres mantêm uma relação amorosa numa época em que pessoas com relacionamentos homossexuais eram perseguidas e acusadas de prática de crime. O filme é a preto e branco, numa espécie de documentário sério e real, mas cabe ali muita imaginação para preencher episódios que não se sabem e se perderam com o tempo. Isabel Coixet é a responsável pela direção e roteiro deste filme original da Netflix. 
Dado que as duas protagonistas vivem um romance escondido e proibido para a época, uma delas decide assumir a identidade de um primo falecido, vestir-se como  um homem e viver socialmente como um homem, para assim poderem casar. E surpreendentemente conseguem-no fazer já que um padre de uma pequena paróquia de Espanha acredita nesta mentira.  Na privacidade da sua casa as duas mulheres divertem-se de maneira sensual, como um verdadeiro casal. O sexo lésbico surge de forma natural, simples e vulgar. Contudo os efeitos, sobreposições e expressividade (teatral) são um tanto ou quanto exagerados, quiça para romper com a ideia de 'leveza' do sexo entre duas mulheres. 
Sendo a união de Elisa e Marcela o primeiro casamento gay da Espanha, falta ao filme algo mais para dignificar tal acontecimento histórico. A visão social e as dificuldades de aceitação deste matrimónio são partes do roteiro pouco exploradas. E esse 'pouco' é sempre (e majestosamente) visível num contexto de cinema mudo- é certo que as imagens falam por si mas para se denunciar preconceitos e mudar mentalidades é preciso mais. Porque a intenção do filme é clara: mostrar que após tantas décadas passadas os casais homossexuais ainda têm de lutar pelos seus direitos, e a necessidade de instrução social para respeitar e aceitar diferenças ainda tem um longo caminho a percorrer.  Porque o preconceito existe. Ainda. 
Há detalhes da história que se perdem por se dar demasiada importância ao amor entre ambas. Tudo o que é comum a cada uma delas, independentemente de formarem um casal, foi posto de lado. Quem é Elisa sem Marcela? E Marcela sem Elisa? O desiquilíbrio narrativo é evidente. Porem, Elisa y Marcela é um filme bonito em relação ao que se propõe a apresentar.  



domingo, 9 de junho de 2019

Le musée de l'Inquisition à Carcassonne

Aceda aqui ao site. 

(É um museu interessante, dado a temática do mesmo, mas exageradamente caro para o pouco que apresenta. Os objetos expostos estão espaçados em demasia e os manequins existentes, numa tentativa de recriar o ambiente da época, parecem tirados de uma loja de roupa da baixa da cidade e vestidos com trapos em saldo. Para a abordagem ser verdadeiramente interessante, o museu merece uma renovação, tanto no edifício em si como nos objetos expostos . A evitar, dado que a visita é tudo menos pedagógica).

sábado, 1 de junho de 2019

La vie d'une autre

Juliette Binoche é a protagonista de "La Vie d'une Autre", que inexplicavelmente acorda de um dia para o outro sem se lembrar dos últimos quinze anos da vida dela. Inexplicavelmente para ela e para nós, o público, que ficamos sem nunca perceber o porquê de tal lapso de memória. E mesmo sem se saber tal razão, somos encaminhados e embalados por ali dentro, já que é este lapso de memória o ponto fulcral do enredo. Resumindo, Marie, a personagem,  acorda e ao ver-se ao espelho encontra uma mulher de 40 anos e não de 25. Ao sair do quarto depara-se com um filho que não conhece, uma casa de luxo que não conhece, um cargo de diretora empresarial que nunca sequer sonhou e um marido que conhece de um romance de umas férias de verão.
Há uma busca incessante pelo humor para descrever o drama inerente à aflição da personagem. Creio que o objetivo é criar toda a dinâmica de uma história romântica mas o resultado final deambula entre o ridículo e o bem intencionado. Somente.  Até porque o motivo da falha de memória nunca é revelado. E tão pouco existe o desvendar dessa falha de memória de Marie para os seus mais próximos. O filme explora única e exclusivamente a adaptação de Marie às novidades em que vai tropeçando diariamente para daí tirar o máximo de humor possível como se só isso bastasse. Só que não. 
"La Vie d'une Autre" vagueia entre o romance, a comédia e o drama, perdendo-se por ali fora nas suas próprias temáticas sub-exploradas. Vale-lhe uma atriz como Juliette Binoche e um ator como Mathieu Kassovitz que exploram muito bem as suas inquietações e salvam o filme de males maiores.

domingo, 26 de maio de 2019

I'm Mickael

Filme polémico e controverso, I'm Mickael é uma porta aberta à grande discussão da homossexualidade e religião. Será realmente possível ambas coabitarem em harmonia? Ou simplesmente é impossível misturá-las? Perguntas que se fazem e se expõem neste filme baseado em factos reais sobre um jovem gay americano, co- fundador da revista Young Gay America e defensor dos direitos LGTB, que após alguns episódios e reflexões pessoais, decide negar a homossexualidade e abraçar a vida de pastor numa igreja americana
A mudança radical de vida do personagem está muito aquém do merecido, no meu entender. Fica-se com a ingenua ideia de que o personagem é algo perturbado com episódios do seu passado e num momento de grande ansiedade e medo da morte, decide ouvir a fé interior e olhar para  os céus e descobrir Deus. Deus é ao fim ao cabo uma resposta desesperada para alguém que vive num momento de total interrogação. Quero acreditar que a verdade é muito mais profunda que uma simples mente perturbada que de um dia para o outro decide mudar de vida e de crenças. 
James Franco é um perturbado compulsivo radical bastante competente que se destaca entre um roteiro e direção pouco inspirados , que coloca a religião como elemento castrador e pouco libertador e a homossexualidade como principal inimiga de castrações e faltas de liberdade. Só que a dualidade de ambas as temáticas é muito mais ambígua que tudo isto. 




sábado, 25 de maio de 2019

L'Homme Fidèle

A história deste filme é tão simplesmente o reencontro de Abel e Marianne, um ex- casal separado há mais de dez anos que se reencontra após a morte do marido de Marianne. O objectivo de Abel é reconquistar o amor da sua vida que no passado o traiu e trocou pelo então marido morto. Mas agora, existem duas pessoas que marcam o percurso e reencontro dos protagonistas: o filho criança de Marianne e a cunhada da mesma, uma eterna apaixonada por Abel.
Louis Garrel, realizador e actor do filme, não foge aos seus últimos trabalhos como cineasta. A ideia dos triângulos amorosos é até agora a sua marca mais expressiva, pincelada de humor irónico e drama um tanto ou quanto melancólico. Portanto, nada muda. Garrel é o homem fiel como ator e realizador.
Planos simples e cenários simples que atribuem leveza ao filme. Este transborda qualidade no seu ritmo natural e compassado ao contar uma história bonita que vive da agitação sentimental das personagens.

sexta-feira, 24 de maio de 2019

Green Book

Green Book insere-se no grupo de filmes onde o racismo é tema primordial como marca do passado ainda bem exposta ao presente. Conta a história, baseada em factos verídicos, da relação entre um motorista branco e italo-americano e o célebre pianista Don Shirley, que precisava de alguém que o conduzisse numa digressão pelo sul dos EUA. E a narrativa é gradual: dois indivíduos que nada têm em comum e onde os opostos se atraem ao ponto de culminar numa bela amizade. Shirley é o negro rico e privilegiado que não é aceite pelos brancos (a não ser quando toca piano), nem é reconhecido como negro pelo excessivo privilégio que tem de ser uma 'figura pública'. O motorista é um emigrante italiano que batalha todos os dias para colocar dinheiro em casa e ferve em pouca água (à boa maneira latina). 
Green Book, o título do filme, era  um guia para viajantes negros no Sul dos EUA, indicando os sítios a evitar e aqueles mais seguros que toleram a presença de pessoas de raça negra. Para fazer jus ao título, o filme fica um bocadinho aquém, já que esta é uma versão muito suave da segregação vigente nos EUA, nos anos 60. Contudo, não podemos esquecer que o verdadeiro intuito do filme é honrar a amizade entre dois homens de raças diferentes e não relatar a verdadeira divisão entre negros e brancos. É um hino à fraternidade. Não é um documentário sobre segregação. O filme foi o vencedor do Óscar de 2019 e beneficiou das óptimas interpretações de Viggo Mortensen e Mahershala Ali. 

sexta-feira, 26 de abril de 2019

O Farol das Orcas

Esta é a história de uma mãe, que viaja de Madrid até à Patagônia argentina, para conhecer um biólogo marinho em quem deposita toda a sua fé para obter alguma ajuda na relação do seu filho autista com o mundo. Fé que nasce quando percebe que a criança, que mal fala, mal se expressa e mal interage com o que o rodeia, mostra algum interesse e emoções ao ver um documentário deste biólogo com orcas.  Beto o biólogo, é um homem solitário, rude e amargurado, que vê o mundo transformar-se com a chegada destes dois. O filme é inspirado numa história real, embora não lhe seja totalmente fiel. 
Repleto de belas imagens e ótima fotografia, este filme é um primo afastado de qualquer documentário da BBC Vida Selvagem. Somos constantemente invadidos pela grandiosidade da natureza. E isso sabe-nos bem. E faz muito bem ao filme que inspirado numa história real foge por vezes da simplicidade da mesma para se amarrar ao drama e romantismo forçados do cinema. Isto para dizer que era dispensável a mãe da criança e o biólogo apaixonarem-se. Tão dispensável como o foi na vida real onde nada disso aconteceu. De resto, O Farol das Orcas, é um filme competente e bonito, que mostra as possíveis relações entre seres humanos e animais. 

sábado, 9 de março de 2019

O rapaz que prendeu o vento

Esta é uma história verdadeira. A história de William Kakwamba, um rapaz do Malawi, que constrói um moinho de vento rudimentar com muito poucos recursos, para ajudar a aldeia e a família a escaparem à fome. Baseado no livro homónimo escrito pelo próprio  Kakwamba, o filme marca a estreia na realização de Chiwetel Ejiofor. A história é por si só cheia de paixão e emoção, dadas as circunstâncias reais e os contornos da própria narração. Mas Ejiofor orienta o seu trabalho para um sentimento dramático já há muito experimentado no cinema. No entanto, é de destacar a fotografia e montagem, que de quase perfeita, faz-nos como que sentir o cheiro de África. Realce também para a prestação dos atores que mereciam um filme mais profundo nas questões políticas e ambientais abordadas. 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Pular a Cerca

Pular a Cerca  é uma produção da Dreamworks baseada na história de um grupo de animais que vive a meias paredes com o mundo urbano e que aos poucos vai invadindo a floresta. A temática é atual e pertinente. Ao longo da história somos testemunhas e cúmplices da devastação da natureza e do habitat dos animais em detrimento de construções humanas a um ritmo cada vez mais acelerado. O filme , esse, perde um pouco do fio à meada quando a temática explorada é muitas vezes secundarizada e ultrapassada pela versão sentimentalista e infantil de mostrar o egoísmo versus entreajuda dos protagonistas. Fica uma sensação de 'podia ter-se feito muito mais dada a riqueza do tema'. 
Contudo e visualmente não há nada a apontar. Desenhos incríveis e ótimas fotografias. Mas isso não é novidade e esperamos sempre mais e melhor da Dreamworks. 

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

No Portal da Eternidade

Julian Schnabel conta-nos como, porventura, foram os últimos dias de Van Gogh, apostando em filmar de câmera na mão para realçar o tom crú e angustiante do seu filme. Os seus movimentos variam entre a subtileza e a brusquidez, consoante for o humor de Van Gogh.  Assim oé também a banda sonora, ora azeda ora doce. O objectivo é tentar reproduzir os momentos de histerismo e desarrumação interior do pintor.  
Willem Dafoe é um brilhante Van Gogh e é sem surpresas um dos nomeados aos Óscares 2019. E é ele também quem nos prende ao filme quando este por vezes estagna. 
O filme não pretende arrancar sorrisos ou lágrimas (ainda bem). Pretende sim, e humildemente, mostrar a pessoa que foi Van Gogh. A pessoa e não somente o artista. Trata-se de humanizar Van Gogh. De mostrar o homem e não só o legado cultural que deixou. 

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

MONSTRES

Chorégraphie : DeLaVallet Bidiefono
Textes : Rébecca Chaillon et Armel Malonga
Dramaturgie : Aurelia Ivan
Collaboratrice artistique : Carine Piazzi
Danseurs : DeLaVallet Bidiefono, Destin Bidiefono, Fiston Bidiefono, Aïpeur Foundou, Ella Ganga, Mari Bède Koubemba, Cognès Mayoukou, Lousinhia Simon
Musiciens : Francis Lassus, Armel Malonga, Raphaël Otchakowski
Performeuse : Rébecca Chaillon
Crédit photos : Christophe Péan



5/2/2019 - 20h30
Le Moulin du Roc
Niort

quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

The Breadwinner

Estamos no ano de 2001 em pleno Afeganistão. O país é controlado pelo regime Talibã e vive uma guerra civil em que a maior parte da população vive condicionada e sob pressão, dadas as restrições de liberdade. É neste cenário que vive Parvana, a filha de um professor e de uma escritora, que há muito foram impedidos de exercer as suas profissões. A educação é proibida e a miséria espreita a cada esquina da cidade de Cabul. As mulheres não podem sair à rua sem um acompanhante masculino. E é esta missiva que Nora Twomey (direção) e Angelina Jolie (produção) se comprometem a evidenciar. Estamos então perante um filme com perspectivas feministas que atinge contornos realistas e pessimistas, para poder 'gritar' ao mundo que existem regimes opressores no Médio Oriente e que os massacres e atentados contra a liberdade e os direitos humanos são uma constante.  
A história é uma adaptação do livro homônimo de Deborah Ellis e conta as desaventuras da menina Parvana que após a prisão injustificada de seu pai se vê obrigada a vestir-se de menino e a comportar-se como tal, para poder sair à rua e arranjar trabalhos que possam sustentar a mãe, a irmã e o seu irmão bebé. 
O argumento é duro, frio e atroz.  Tal como o livro. E a par deste é narrado um conto imaginado por Parvana, que demonstra a capacidade e a instrução da menina, por ter pais letrados. O conto, também ele algo duro e atroz,  surge quando Parvana precisa de acalmar e embalar o seu irmão mais novo ou quando precisa de acalmar a sua amiga em situações de ansiedade e medo. No meu entender, o conto seria desnecessário, ou então mereceria um encurtamento, para não atropelar o ritmo da história principal.
A animação é de traços e de cores fortes e pretende sempre evidenciar o medo e a repressão vividos pelos personagens. Contudo, o castanho é a cor dominante e escolhida para pintar cidades, desertos e as próprias personagens. Entendo a escolha mas chega ao ponto em que se torna cansativo todo aquele cenário marron. 
O mais importante neste The Breadwinner é a lição de que se pode fazer animação com assuntos sérios e temáticas adultas ao alcance de qualquer olhar infantil. É mostrar que a educação também faz parte quando apelamos às crianças para que reflitam sobre os problemas do mundo e da sociedade. Porque nem só de fantasia deveria ser feito o universo infantil. 

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Maryline


Guillaume Gallienne apresenta-nos a sua segunda longa-metragem, depois do sucesso proclamado nos Césares 2013 com A Mamã, os Rapazes e Eu. Este filme é uma reflexão sobre o mundo do  “espectáculo”,  através da evolução 
de uma jovem actriz: vinda de uma pequena aldeia acaba por escolher Paris para fugir à monotonia e lançar-se no mundo do cinema. 
Maryline é a imagem comum de uma protagonista idealista, ingénua e verdadeira, que acaba por ver o seu percurso dificultado pela mesquinhez, concorrência e deslealdade existentes em ambientes de bastidores.  Amarguras enterradas no álcool, Maryline é salva aqui e ali por colegas de trabalho humildes (fora da área do espetáculo), por gente simples e  pela descoberta do teatro. E é pelo teatro que a protagonista vinga como actriz e mulher mais realizada. Dramatismo e histerismos à parte, o filme é um banho singelo de realidade, mesmo que tenha nascido de uma a ideia comum e demasiado semelhante a tudo o que se fez até agora.  



quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Happy End


 Happy End de Michael Haneke, é o sucessor do admirável  Amor (2012), e repete as presenças de Jean-Louis Trintignant e de Isabelle Huppert
Ao contrário do título, a história de feliz não tem absolutamente nada. Assistimos ao lento desabamento em tempo quase real de uma família rica de Calais, com as suas crises pessoais, conflitos familiares e obstáculos profissionais. Existe um patriarca viúvo que perdeu a alegria de viver e aspira pela morte, chegando mesmo a tentar o suicídio, uma filha enamorada de um inglês e às turras com um filho desequilibrado, a tentar assumir o controle dos negócios de família e um filho cirurgião obrigado a tomar conta de uma filha que pouco conhece, após a hospitalização da mãe da mesma.  Em torno desta família gira o mundo real: sindicatos em greve, inspetores do trabalho e emigrantes africanos. 
Haneke é exímio mais uma vez no cruzar de pequenas histórias que formam um todo e na forma rude, fria e real como as filma. É fácil envolvermo-nos no que vemos com aquela sensação de murro no estomago e azia na boca. Não tão fácil quanto em Amor já que este Happy End é filme mais recatado, mais tímido e confortável. Ainda assim, é fácil o envolvimento. 
Excepção feita a algumas pontas mal entrelaçadas e explicadas, Happy End é mais um filme de Haneke de grande qualidade. Sem surpresas. O ator mantém o registo (de enorme talento) a que já nos habituou.