Blue Jasmine
De algum modo, "Blue Jasmine" é o “filme Occupy” de Allen, com a sua
heroína a ser uma “tia” de Park Avenue cujo marido se revela ser um
vigarista à Bernie Madoff, vivendo à grande e à francesa com o dinheiro
dos outros. Jasmine é um membro do “um por cento” cuja perda brutal de
status social a leva a ter de regressar aos “99 por cento” onde começou a
vida, mudando-se para São Francisco para morar com a meia-irmã caixa de
mercearia e procurar emprego. A ideia de desenhar o retrato de uma tia
perdida entre o povo não é, admissivelmente, coisa nova nem inspirada,
mas a introdução de um comentário “social” é coisa invulgar no cinema do
nova-iorquino - e é aqui que entra Cate Blanchett, que insufla em
Jasmine toda a personalidade de uma mulher que se deixou seduzir pelos
confortos do mundo e torna o “boneco” da tia perdida entre o povo numa
pessoa de corpo inteiro. É uma performance atenta e vibrante, toda em
nuances, que nunca escamoteia o lado desagradável, egoísta, absorvido de
Jasmine mas também não evita o seu lado humano, emprestando-lhe uma
complexidade que não encontramos nas outras personagens (apesar dos bons
esforços de Sally Hawkins ou Bobby Cannavale, por exemplo), e
confirmando como Allen continua a ser capaz de arrancar interpretações
de estadão.
Não é, repetimos, o “melhor Allen” desde Match Point -
dramaturgicamente, sente-se às vezes que o cineasta continua encostado à
bananeira e mantém a fórmula a carburar sem esforço, o que até se
percebe vindo de alguém que já nada tem a provar. Mas, enquanto carta
razoavelmente fora do baralho sobreposta a essa fórmula, é um dos mais
interessantes.
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