terça-feira, 5 de julho de 2011

Alfredo Jaar- A Hundred Times Nguyen

A exposição de fotografia Cem vezes Nguyen, de Alfredo Jaar, criada em homenagem às crianças nascidas nos campos de refugiados vietnamitas, está patente no Museu Colecção Berardo, em Lisboa, desde  27 de Maio até 28 de Agosto.
A mostra, de um artista inédito em Portugal, é uma espécie de álbum de recordações da visita de Alfredo Jaar a um campo de refugiados vietnamitas, em Hong Kong, em 1991, onde conheceu a pequena Nguyen Thi Thuy.
Em homenagem às crianças nascidas nos campos de refugiados, e de entre as 1.378 fotografias tiradas durante a sua estada, decidiu publicar apenas o retrato desta menina, repetido cem vezes.
Nascido em 1956 em Santiago do Chile, Alfredo Jaar gosta de fazer perguntas incómodas sobre o mundo complexo em que vivemos, como no caso de Rwanda Project (1994-2000), em que usava imagens de tutsis massacrados que colocava dentro de uma caixa.
Sobre esse trabalho, o filósofo francês Jacques Rancière chegou a comentar: «A imagem estava escondida, mas a caixa trazia escrito o nome e a história da pessoa».
«Jaar mostrava desta forma que aquele milhão de vítimas era um milhão de indivíduos, que não estávamos perante uma massa indistinta predestinada à vala comum, mas diante de corpos com a mesma humanidade do que nós», salientou o pensador francês.
Noutro projecto, intitulado Rushes (1986), onde havia uma imagem de um jovem mineiro brasileiro, Jaar comentava: «Gosto da maneira como ele olha o fotógrafo, me olha, vos olha».
Para Cem vezes Nguyen (1994), Alfredo Jaar fotografou Nguyen Thi Thuy cinco vezes, com cinco segundos de intervalo entre cada imagem.
O resultado é uma situação triangular entre o autor, o objecto do trabalho - a menina vietnamita - e o público, sendo o fotógrafo mediador desta transmissão da realidade.
Esta exposição resulta de uma parceria entre o Museu Berardo e o evento PhotoEspanha 2011, que decorre entre 1 de Junho e 24 de julho em Madrid, este ano com comissariado geral de Gerardo Mosquera, sucessor do português Sérgio Mah.
A PhotoEspanha mostrará novamente obras de alguns dos melhores artistas do mundo - reunidos sob o tema Interfaces: retrato e comunicação - como Cindy Sherman, Thomas Ruff, Ron Galella, Alfredo Jaar, Hans-Peter Feldmann, Dayanita Singh, Kan Xuan e Nancy Burson.

2 comentários:

Alexandre Correia disse...

Olá Bé,

Porque será que as exposições privilegiam as fotos mais dramáticas, mais tristes, mais feias, considerando o quadro, não a fotografia em si, claro? Talvez pelo mesmo motivo que a imprensa, de uma forma geral, somente noticie as más notícias, passe a redundância. As boas, são boas. Ninguém precisa de conhecê-las. Nem de ver fotos lindas, de paisagens belas e de gente feliz, sem feridas nem barrigas inchadas de fome. Sobretudo nos tempos deprimidos que estamos a atravessar, acredito que todos nos iríamos sentir um pouco melhor se nos dessem essa perspectiva do lado bom da vida. Concorda?

Beijo,

Alexandre

disse...

Olá Alexandre,
Todo o trabalho de Alfredo Jaar tem sempre esta necessidade de expor as injustiças e sofrimento aos quais as pessoas são submetidas por todo o mundo. Como ele há outros. Muitos até, concordo. Mas ainda se conseguem visualizar trabalhos com 'paisagens belas e gente feliz'. Felizmente!
Abraço.