A mostra, de um artista inédito em Portugal, é uma espécie de álbum de recordações da visita de Alfredo Jaar a um campo de refugiados vietnamitas, em Hong Kong, em 1991, onde conheceu a pequena Nguyen Thi Thuy.
Em homenagem às crianças nascidas nos campos de refugiados, e de entre as 1.378 fotografias tiradas durante a sua estada, decidiu publicar apenas o retrato desta menina, repetido cem vezes.
Nascido em 1956 em Santiago do Chile, Alfredo Jaar gosta de fazer perguntas incómodas sobre o mundo complexo em que vivemos, como no caso de Rwanda Project (1994-2000), em que usava imagens de tutsis massacrados que colocava dentro de uma caixa.
Sobre esse trabalho, o filósofo francês Jacques Rancière chegou a comentar: «A imagem estava escondida, mas a caixa trazia escrito o nome e a história da pessoa».
«Jaar mostrava desta forma que aquele milhão de vítimas era um milhão de indivíduos, que não estávamos perante uma massa indistinta predestinada à vala comum, mas diante de corpos com a mesma humanidade do que nós», salientou o pensador francês.
Noutro projecto, intitulado Rushes (1986), onde havia uma imagem de um jovem mineiro brasileiro, Jaar comentava: «Gosto da maneira como ele olha o fotógrafo, me olha, vos olha».
Para Cem vezes Nguyen (1994), Alfredo Jaar fotografou Nguyen Thi Thuy cinco vezes, com cinco segundos de intervalo entre cada imagem.
O resultado é uma situação triangular entre o autor, o objecto do trabalho - a menina vietnamita - e o público, sendo o fotógrafo mediador desta transmissão da realidade.
Esta exposição resulta de uma parceria entre o Museu Berardo e o evento PhotoEspanha 2011, que decorre entre 1 de Junho e 24 de julho em Madrid, este ano com comissariado geral de Gerardo Mosquera, sucessor do português Sérgio Mah.
A PhotoEspanha mostrará novamente obras de alguns dos melhores artistas do mundo - reunidos sob o tema Interfaces: retrato e comunicação - como Cindy Sherman, Thomas Ruff, Ron Galella, Alfredo Jaar, Hans-Peter Feldmann, Dayanita Singh, Kan Xuan e Nancy Burson.
2 comentários:
Olá Bé,
Porque será que as exposições privilegiam as fotos mais dramáticas, mais tristes, mais feias, considerando o quadro, não a fotografia em si, claro? Talvez pelo mesmo motivo que a imprensa, de uma forma geral, somente noticie as más notícias, passe a redundância. As boas, são boas. Ninguém precisa de conhecê-las. Nem de ver fotos lindas, de paisagens belas e de gente feliz, sem feridas nem barrigas inchadas de fome. Sobretudo nos tempos deprimidos que estamos a atravessar, acredito que todos nos iríamos sentir um pouco melhor se nos dessem essa perspectiva do lado bom da vida. Concorda?
Beijo,
Alexandre
Olá Alexandre,
Todo o trabalho de Alfredo Jaar tem sempre esta necessidade de expor as injustiças e sofrimento aos quais as pessoas são submetidas por todo o mundo. Como ele há outros. Muitos até, concordo. Mas ainda se conseguem visualizar trabalhos com 'paisagens belas e gente feliz'. Felizmente!
Abraço.
Enviar um comentário