segunda-feira, 3 de março de 2014

Vencedores da cerimónia de entrega dos Óscares em 2014


Melhor Filme - '12 Anos Escravo'
Melhor Realizador - Alfonso Cuarón (Gravidade)
Melhor Ator - Matthew McConaughey (O Clube de Dallas)
Melhor Atriz - Cate Blanchett (Blue Jasmine)
Melhor Ator Secundário - Jared Leto (O Clube de Dallas)
Melhor Atriz Secundária - Lupita Nyong'o (12 Anos Escravo)
Melhor Argumento Adaptado - John Ridley (12 Anos Escravo)
Melhor Argumento Original - Spike Jonze (Her - Uma História de Amor)
Melhor Filme em Língua Estrangeira - 'A Grande Beleza' (Itália)
Melhor Fotografia - Gravidade
Melhor Montagem - Gravidade
Melhor Banda Sonora Original - Gravidade
Melhor Caracterização - O Clube de Dallas
Melhor Guarda Roupa - O Grande Gatsby
Melhor Direção Artística - O Grande Gatsby
Melhores Efeitos Visuais - Gravidade
Melhor Mistura de Som - Gravidade
Melhor Montagem de Som - Gravidade
Melhor Longa Metragem de Animação - 'Frozen'
Melhor Curta Metragem de Animação - 'Mr Hublot'
Melhor Curta Metragem de Imagem Real - 'Helium'
Melhor Curta Metragem Documental - 'The Lady in Number 6'
Melhor Documentário (Longa Metragem) - '20 Feet From Stardom'

domingo, 2 de março de 2014

Filomena


O novo filme de Stephen Frears é baseado na história verídica de uma mulher irlandesa a quem a Igreja Católica, nos anos 1950, tirou o filho ilegítimo para o vender para adopção; cinco décadas depois, com a ajuda de um jornalista, Philomena Lee, é esse o seu nome, continua a procurá-lo.
Eis Judi Dench e eis Steve Coogan. Filomena é um filme sobre este “casal” improvável: um jornalista cínico, que não acredita em “histórias de interesse humano” (Coogan), e uma mulher (Dench) que se mantém fiel à sua crença - e a sua crença é acreditar. O argumento trabalha com precisão de relojoaria esse confronto, esse equilíbrio, o timing da comédia, a espessura drama, doseando-os de forma científica. É isso que comanda a duração de cada plano, e isso sobrepõe-se à história. Tal como não sobra espaço para as personagens existirem: só os actores cabem no filme, eles e a consciência do jogo - estão menos a representar personagens e uma história em concreto do que a servirem uma mecânica, um género. Mas há algo aqui da ordem da ausência, um princípio de impessoalidade. Talvez Frears, à partida mais perto do cinismo do jornalista que despreza as “histórias de interesse humano”, precisasse dessa protecção para se abeirar do material. Mas assim desvia para o espectador o dilema da crença.

sábado, 1 de março de 2014

Lore


Essencialmente a história de uma adolescente que a experiência da guerra força a crescer demasiado depressa, Lore é uma espécie de conto de fadas distorcido onde o Capuchinho Vermelho atravessa um país em convulsões para chegar a casa da avózinha, só que este Capuchinho tem muito de lobo mau e que a personagem que achávamos ser o lobo mau pode afinal ser o caçador protector. Erguida a chefe da família com o desaparecimento dos pais, a adolescente Lore tem de guiar os quatro irmãos e irmãs mais novos pelo meio da guerra até à segurança, encontrando pelo caminho um jovem mais velho que assume espontaneamente o papel de protector masculino. O seu percurso pelas estradas enlameadas e pelas aldeias empobrecidas de um país derrotado é uma entrada brutal na idade adulta e um adeus definitivo a uma inocência que, tarde demais, Lore compreenderá ser irrecuperável (simbolizada no veado de porcelana que transporta como símbolo da salvação possível).
Simplesmente, estamos na Alemanha vencida da II Guerra Mundial, logo após o suicídio de Hitler. Lore é a filha de um oficial das SS, educada nas Juventudes Hitlerianas. Thomas, o jovem que assume a protecção dos cinco irmãos, viaja com documentos de judeu. E a viagem de Lore em direcção à segurança é também a descoberta do mundo fora da “bolha” do Reich de Mil Anos, um lento abrir os olhos para uma realidade não mediada pelo filtro de uma educação ideológica. Cada passo deste percurso iniciático confronta-a com as consequências “no mundo real” da ideologia em que foi criada, com a necessidade de, pela primeira vez, escolher o seu lado, tomar o seu partido: ser Lore, a adolescente em crescimento, ou Hannelore, a filha do nazi. Ao forçar-nos a acompanhar o ponto de vista de Lore nesta “via sacra” da Floresta Negra ao Mar Báltico, Cate Shortland propõe uma leitura, de grande sensibilidade mas também calculadamente desafiadora, sobre as questões fulcrais da passagem à idade adulta. Uma leitura que se abre à experiência humana sem maniqueísmos fáceis nem soluções de compromisso, que se ancora por inteiro numa ideia de limiar, fronteira entre dois estados, como se o solo estivesse em constante e imprevisível movimento debaixo dos pés de Lore. A câmara móvel de Adam Arkapaw e a atenção de Shortland aos mínimos detalhes dos seus jovens actores (e Saskia Rosendahl é extraordinária no papel principal) transformam Lore numa inversão de Alice no País das Maravilhas e partilham o mesmo modo lateral e distante de olhar para a experiência da guerra de filmes como Os Fugitivos de André Téchiné ou Esperança e Glória de John Boorman.