terça-feira, 30 de abril de 2013

Hyde Park on Hudson


Em Um Final de Semana em Hyde ParkBill Murray vive Franklin Delano Roosevelt, o 32o. presidente dos Estados Unidos. O filme mostra a visita do Rei George VI (Samuel West) e da Rainha Elizabeth (Olivia Colman) aos EUA em 1939. Os regentes britânicos foram ao país pedir apoio contra as forças nazis na iminente Segunda Guerra Mundial. Paralelamente ao encontro político, conhecemos Margaret Suckley (Laura Linney), prima de quinto grau do presidente, chamada pela superprotetora mãe do líder para "tirar sua mente do trabalho por um instante". Há, portanto, duas histórias correndo paralelamente em Hyde Park on Hudson: a visita dos ingleses é, de longe, a melhor delas. Bem-humorada e cheia de uma impensável ternura. Basicamente, se o Rei George VI tivesse conhecido FDR antes, O Discurso do Rei não existiria, tamanha a influência que o norte-americano (que, como o inglês, tinha uma deficiência física) teve na auto-estima do monarca. Esses segmentos e os momentos em que a Rainha Elizabeth, transtornada e assustada com os modos do outro lado do Atlântico, tenta entender significados e intenções, são excelentes. Todo o desconforto visível dos britânicos culmina no grande vilão da história: o cachorro-quente. É anunciado que haverá um picnic tipicamente americano e que a iguaria será servida. Imediatamente espalha-se o pânico entre os ingleses. O que significa servir "hot-dogs"? Como comê-los? Seria uma espécie de gozo? Engraçadíssimo. Mas aí o filme foca-se e mal nas cenas de Margaret, a amante apaixonada. Ela acredita que está num romance mágico... e a narração em off dá força a esses momentos, que, com a louvável exceção do primeiro encontro (com a masturbação mais romântica do ano no cinema), são absolutamente desinteressantes. Até a fotografia do filme é mais inspirada quando há o choque de culturas. O diretor Roger Michell errou em dar evidência à história de amor (um tanto melancólica) quando tinha um material tão bom a ser explorado exclusivamente. Impossível entender a razão de alguém ter acreditado que a história da Monica Lewinsky dos anos 1940 teria mais impacto do que o encontro que ajudou a mudar os rumos da guerra. Talvez o cineasta tenha ficado com receio de seu filme sair parecido demais com O Discurso do Rei. Mesmo assim, continua absurdo esse desequilíbrio. Bill Murray (que está brilhante) tem muito mais espaço para trabalhar na esfera política do que no açucarado romance. E não se deviam tirar oportunidades de brilhar a Bill Murray.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Dans la maison


Bem recebido pela crítica e com diversas nomeações e premiações nas costas, Dans la maison, novo filme do já veterano diretor francês François Ozon, é uma das agradáveis surpresas desta “new season”. Baseado na peça The Boy in the Last Row de Juan Mayorg, Dans la maison desperta no espectador os mais diferentes sentidos, muito talvez pela abordagem pessoal imposta por Ozon, que cria na película uma sensação de extrema proximidade com o público. Tudo é muito rente, e a audiência acaba tornando-se testemunha próxima das constantes reviravoltas ao longo do filme. Fabrice Luchini e Kristin Scott Thomas funcionam muito bem como o casal principal. Temos ainda Emmanuelle Seigner, Denis Ménochet e Bastien Ughetto formando um coeso núcleo principal. Quem mais acaba destoando é Ernst Umhauer (Claude Garcia). Um filme íntimo, tenso e imprevisível, Dans la maison é um emaranhado entre ficção e realidade que faz refletir o espectador. Como já disse o consagrado diretor Michael Haneke, “É dever da arte fazer perguntas, não fornecer respostas” e isso François Ozon, cumpre com sucesso.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Ferrugem e Osso


Nos últimos anos, Jacques Audiard tem sido um dos principais intérpretes de um modelo de realismo, rugoso e assombrado, que tem larga escola no cinema francês. Nos seus melhores filmes, como De Tanto Bater o Meu Coração Parou ou Um Profeta, imediatamente anteriores a este que agora estreia, a vitalidade da inscrição dentro desse modelo era acompanhada por uma quase agressiva recusa de qualquer sentimentalismo, através de personagens (e actores) sempre em fuga e em desafio (à câmara, por exemplo), como se a questão também fosse, para Audiard, o encontro de um ponto-limite, a descoberta do momento em que se torna impossível continuar a seguir as suas personagens. Sentimos alguma falta disso em Ferrugem e Osso, filme em que estas qualidades nos parecem mitigadas pela imposição de uma psicologia sentimental trazida pelo facto de, desta vez, Audiard trabalhar o retrato de um casal. Pouco ortodoxo, mas um casal. E ao contrário das outras vezes, o objectivo não é encontrar o limite e a impossibilidade, mas o seu exacto oposto: o filme termina no exacto momento em que o casal se torna possível. O casal é formado por Marion Cotillard e Mathias Schoenaerts. Ela treina orcas num zoomarine qualquer, ele é um kickboxer meio abrutalhado (o tipo de personagem que podia ser interpretado por um jovem Gérard Depardieu). Conhecem-se numa discoteca onde ele trabalha como porteiro, no princípio do filme, numa bela cena nocturna feita de sedução “a contrario”. Depois há um acidente no zoomarine, e a rapariga perde as pernas, amputadas abaixo do joelho. É aí que o filme verdadeiramente começa. Como história de recomposição, de “regresso à vida”. As melhores cenas são aquelas em que Schoenarts, nos seus modos pragmáticos e lacónicos, arranca Cotillard da masmorra mental em que o acidente a enfiou - as cenas na praia, a redescoberta do mar e do sol. Ou, ainda ao sol do sul de França, aquele breve momento em que Cotillard, no terraço, reaprende os movimentos, como que vindos do fundo de si mesma, que usava para orientar a orca, e que são como os movimentos de uma dança na discoteca. É bonito, isso, como é bonito quase tudo o que tem a ver com essa pulsão vital a manifestar-se depois do infortúnio, num registo que é em simultâneo seco e exaltado, dois termos difíceis de conciliar. Não obstante, nenhuma das personagens é tão interessante como as dos outros filmes de Audiard que citámos ao princípio, e a maneira como o filme se conduz, a partir de certa altura, exclusivamente em torno da relação entre elas, não parece resolvida de forma tão entusiasmante como o princípio prometia - entra uma espécie de indiferença, falha de intensidade, que lembra mais os últimos Téchinés (o que não é um elogio) do que o melhor de Audiard. É ainda um filme que vale a pena ver - pelos actores, ou pelo inteligente uso do CGI (a falta de pernas de Cotillard) num registo absolutamente realista - mas no fim de contas algo decepcionante.

terça-feira, 16 de abril de 2013

GALERIA 111 ACOLHE EXPOSIÇAO DE PEDRO VAZ



Laurissilva” é o título da primeira exposição individual de Pedro Vaz na Galeria 111, em Lisboa. Com esta mostra o artista apresenta o seu mais recente trabalho  sobre a paisagem, ”paisagem primitiva ou espaço virgem”, a sua principal fonte de inspiração e um tema que tem vindo a desenvolver ao longo da sua produção artística.
Neste contexto germina uma transformação, uma particularização do objecto de estudo. O interesse pela paisagem natural pressupõe, presentemente, uma procura pelos lugares concretos e pela vivência e experiência do sítio e da sua essência.
A inauguração aconteceu já no dia 16 de Março, e prolongar-se-á até ao dia 27 de Abril, podendo ser visitada de terça a sábado das 10h às 19h.

sábado, 13 de abril de 2013

PEDRA, PAPEL E TESOURA


Esta exposição dá seguimento a uma linha de trabalho desenvolvida por Belén Uriel  durante os últimos anos e que reflete sobre como a natureza de certas construções materiais ( produtos  da sociedade global -  mercado), nas suas capacidades  simbólicas e discursivas, permitem impor modelos ou hábitos sociais e, como a nossa "resistência" às mesmas, deriva de uma constante aspiração e necessidade de as redefinir.
A intenção da artista foi criar um conjunto de peças simbólicas, sujeitas a uma natureza cenográfica que pelas suas características formais e a relação que estabelecem entre elas, ficam dotadas de um carácter ambíguo, uma condição temporal transitória, entre uma possível situação de construção ou, pelo contrário, de desmontagem do cenário (ou situação). Fazem referência a estruturas de suporte ou fixação de (outros) elementos que estão ausentes, e que só existindo em comum (unidos/montados), definiriam a sua função. Este estado indeterminado quer acentuar o carácter e condição de fabricação/ construção de processos sociais com intenção de instaurar novos modelos de ação.
Belén Uriel (Madrid, 1974) vive e trabalha entre Lisboa e Londres. Formada no Chelsea College of Art and Design, Londres recebeu recentemente a bolsa de criação artistica do MUSAC , León e a bolsa de investigação em arte do Montehermoso, Vitoria. Das suas mais recentes exposições individuais destacam-se Manual, Galeria Presença, Porto, 2012, Useful household objects under 10$, Montehermoso, Vitoria, 2012; Ni blanco, ni negro, Appleton Square, Lisboa, 2011; The largest selection of dreams, Espacio Liquido Gallery, Gijón, Espanha, 2011.
 A exposição vai estar patente de 17 Março a 19 de Maio.
 Entrada Livre
Pavilhão Branco do Museu da Cidade

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Obras de Andy Warhol no centro comercial Colombo


"Andy Warhol Icons - Psaier and the Factory Artworks" é o nome da exposição que é hoje inaugurada, às 18:00, no âmbito do projeto "A Arte Chegou ao Colombo", reunindo um total de 32 obras dos dois artistas.
Desde a lata de sopa Campbell's, que Andy Warhol (1928-1987) transformou em obra de arte, aos retratos da atriz Marilyn Monroe ou do cantor Mick Jagger, as obras reunidas nesta exposição são originais provenientes de uma única coleção estrangeira, disse à agência Lusa fonte da organização.
De acordo com a mesma fonte, as peças vêm da Atlantica Centro de Arte, galeria situada na Corunha, em Espanha, propriedade do colecionador espanhol Salvador Corroto.
Fotografias, serigrafias, desenhos e colagens, e muitos cartazes criados pelo pai da Pop Art, Andy Warhol, vão ficar reunidos numa estrutura criada pelo Atelier de Arquitetura Likearchitects na praça do centro comercial, podendo ser vistos diariamente pelo público entre as 10:00 e as 22:00, até 11 de julho.
A curadoria da exposição é da responsabilidade do crítico e historiador de arte italiano Maurizio Vanni e Guta Moura Guedes, diretora da ExperimentaDesign, associou-se a este projeto que tem como objetivo "levar a arte ao encontro do público".

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Adriana Calcanhotto dá 10 concertos com voz e violão


A cantora brasileira Adriana Calcanhotto inicia, na sexta-feira, uma série de dez concertos em Portugal, somente acompanhada de violão, reencontrando-se com o público português que conheceu em 2000, quando se estreou em Lisboa.
É na capital, na Culturgest, que a artista inicia a digressão, seguindo para Torres Novas, no sábado, e retornando a Lisboa, no domingo.
Depois, o périplo segue, na próxima semana, pelo Porto, Leiria, Castelo Branco e Torres Vedras.
A 24 de abril, ruma aos Açores, para dois concertos em Ponta Delgada e Angra do Heroísmo, terminando a digressão no dia 27, na Guarda.
Apesar de ter lançado recentemente o terceiro álbum com o alterego Adriana Partimpim, vocacionado para crianças, Adriana Calcanhotto não deverá incluir esse repertório nesta digressão.
O mais recente de Calcanhotto data já de 2011, "O micróbio do samba", e já tinha sido tocado ao vivo em Portugal, quando foi lançado.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Oz: Mágico e Poderoso

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É uma tarefa bastante complicada, e um tanto ingrata, querer fazer um filme que se proponha (ainda que não abertamente, devido a questões contratuais) a ser um prelúdio de O Mágico de Oz, de Victor Fleming. Clássico indiscutível da história do cinema, o longa de 1939 quebrou barreiras ao se tornar o grande exemplo de como a cor pode ter um papel indispensável na narrativa cinematográfica. E quando eu digo que se trata de um prelúdio do filme, e não do livro que o inspirou, é porque é visível a tentativa do diretor Sam Raimi (da trilogia Homem Aranha) de fazer ligações com o material em que se baseia – algo visto já no início da projeção, quando o cineasta utiliza-se de uma imagem quadrada (4×3) e em preto e branco, contrastando depois com o colorido (e a tela maior) do mundo de Oz. Entretanto, o fato de Oz – Mágico e Poderoso fazer ligações com o longa original acarreta inevitáveis comparações entre os dois; comparações essas que, nesse caso, não são nada favoráveis. Propondo-se a contar como o tal mágico chegou até a terra encantada de Oz, o roteiro, escrito pelo pouco expressivo Mitchell Kapner em parceria com David Lindsay-Abaire, acompanha o mágico charlatão e mulherengo Oscar Diggs (James Franco, mais canastrão do que nunca) enquanto esse ilude pequenas plateias em um circo itinerante que passa pelo Kansas no início do século passado. Quando foge as pressas depois de ser perseguido pelo marido de uma de suas amantes, Oscar embarca num balão e rapidamente levanto voo, sem perceber que um tornado se aproxima. Preso em meio à tempestade e viajando em alta velocidade, o protagonista acaba ir parar num reino distante que, estranhamente, leva o seu nome. Lá ele se envolve com a bela Theodora (Mila Kunis), uma bruxa que lhe explica tudo sobre a lenda do salvador daquela terra, que desceria dos céus, libertaria o reino do domínio de uma bruxa do mal e, como consequência, herdaria o trono. Não demora muito para que a inocente bruxa caia sob seus encantos do falso mágico, enquanto este se encanta apenas com o tesouro que é relegado ao salvador, sem se importar com o fato de que ele talvez não seja tal a pessoa. Tratando-se de uma homenagem a um filme antigo, é justificável (ainda que não louvável) que o texto procure explicar muitos dos acontecimentos através de diálogos bastante expositivos. Nem por isso o roteiro deixa de ser esquemático ao extremo, chegando ao ponto de duvidar da inteligência do espectador ao inserir perguntas somente para reponde-las. E é louvável que a dupla de roteiristas evite o uso de batalhas sem sentido em meio a sua trama – algo comum em fantasias recentes como Alice no País das Maravilhas e Branca de Neve e o Caçador –, optando por uma solução bastante interessante e condizendo com o material em que se baseia. Mesmo assim, não deixa de ser um “equívoco” narrativo que tal confronto tenha sido anunciado e preparado durante boa parte da projeção (com direito até a discurso motivacional pré-batalha) para que depois ele simplesmente não aconteça. E por mais que mereça créditos por fazer uso de um humor físico e bastante infantil (algo raro hoje em dia e um dos méritos do longa de 1939), a direção de Sam Raimi se mostra falha ao preocupar-se mais com o visual do longa do que com a história sendo contada. Sendo assim, vê-se intermináveis travellings que passeiam pela floresta apenas para ilustrar maravilha dos efeitos especiais empregados e a quantidade de detalhes em cada planta ou animal feito digitalmente (aqui não existem pessoas vestidas de animais). Ainda que tais planos tenham a função de apontar o olhar maravilhado do protagonista em relação àquele mundo, a não existência de uma interação entre o personagem e o espaço (como é o caso da árvore que bate na mão de Dorothy quando ela tenta arrancar uma maça de seus galhos, por exemplo) acaba soando gratuita e desnecessária. Por fim, a própria inserção dos seguidores do herói (um macaco falante e a tal boneca de porcelana) nada mais é do que uma tentativa um tanto manipuladora de arrancar emoções do público, visto que os dois só estão ali por que são bonitinhos (de novo surge uma comparação inevitável com o original, onde cada um dos novos amigos de Dorothy tinha um motivo específico e pessoal para embarcar na jornada com ela). No final, Oz – Mágico e Poderoso pode até agradar a criançada com seu visual colorido, humor leve e “bichinhos fofos”. Mas para um filme que se propõe a ser um elo com um verdadeiro ícone da sétima arte, ele não só não foi bem sucedido em sua proposta como, bem provavelmente, será logo esquecido pelo público e pelos amantes e estudiosos de cinema. O primeiro continua sendo um clássico, enquanto este é (no máximo) apenas entretenimento.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Força Ralph


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Os Walt Disney Animation Studios regressam este ano à co-produção dos filmes de animação da Disney, após a estreia de Tangled – Entrelaçados, em 2010. Wreck-It Ralph – Força Ralph é a sua nova aposta, que vem beber muitos dos elementos dos clássicos da Pixar, por quem, inteligentemente, se deixa influenciar. A história faz-nos lembrar algumas das premissas dos filmes desta produtora, como Monstros e Campanhia e Toy Story, ao apresentar-nos como personagens figuras que percepcionamos como inanimadas, sem vida. Ao mesmo tempo, Força Ralph aposta na atracção de um público mais velho, dos pais das crianças, que podem, tão bem ou até melhor, saborear as aventuras do vilão Ralph.
A história gira em torno do vilão do jogo “Fix-It Felix Jr.”, um jogo de arcada que nos evoca velhos tempos, décadas passadas, quando a aquisição individual de uma consola não era generalizada e os salões de jogos eram verdadeiros pontos de encontro. Ralph é o vilão, renegado dentro da comunidade do jogo em que destrói casas, vivendo na lixeira, enquanto a maior parte dos seus parceiros de trabalho vive em festa e alegre convívio. Determinado em mudar a opinião dos colegas, e após uma divertidíssima passagem pelos “Vilões Anónimos” , Ralph aventura-se pelo mundo dos outros jogos de arcada, em busca de uma medalha que prove o seu valor.
Vivendo várias aventuras e desventuras, ao lado de Felix, Vanellope e Calhoun, Ralph vai-se apercebendo de que não precisa de mudar quem é, desde que tenha amigos a seu lado capazes de o reconhecer como indispensável. A amizade com Vanellope, uma falha no sistema do jogo “Sugar Rush”que sonha em completar uma das corridas que o caracterizam, constitui a coluna vertebral deste filme tão prazeroso. A colaboração destes dois é engraçada, muitas das vezes, mas também consegue ser emotiva e de partir o coração, especialmente na última parte do filme. Força Ralph é uma ode à amizade, como não poderia deixar de ser, mas versa igualmente sobre a importância de sabermos quem somos e de nos aceitarmos como tal, independentemente do que os outros – os colegas de Ralph, as inimigas de Vanellope ou os soldados que colaboram com Calhoun – possam dizer.
É um filme que os mais pequenos vão sem dúvida apreciar, mas que só os adultos conseguirão desfrutar plenamente. Sem se preocupar se as crianças entendem o significado de “glitch” ou se percebem a maior parte das referências a videojogos de outras gerações, a Disney entrega esta sincera homenagem às décadas de 80 e 90. Q*bert, Sonic, Pac-Man, Super Mario, etc., são protagonistas de outros tempos, substituídos por esplendorosos gráficos 3D – e por desafios mais violentos, como a determinada altura, hilariantemente, Ralph tem a oportunidade de constatar –, mas nunca esquecidos. Este é um filme de animação que, sem qualquer vergonha, é dirigido aos amantes mais crescidos dos videojogos. Assim, na maior parte das vezes, os pais é que vão rir mais do que os filhos.
Tecnicamente, o filme é deslumbrante, especialmente na forma como retrata a diferença na qualidade de imagem dos diferentes jogos pelos quais o protagonista passa. Note-se a curiosa divergência na forma como se mexem os elementos do jogo “Fix-it Felix, Jr.”, em contraposição com a agilidade que caracteriza os movimentos em “Hero’s Duty”. Para culminar, a extravagância colorida e brilhante do“Sugar Rush”, em que basicamente tudo é comestível, incluindo os soldados, feitos de Oreo! Este retrato de mundos imaginários é beneficiado pela captura 3D, usada na medida e nas alturas certas.
Esta é, pois, uma aposta mais do que ganha por parte da Disney. Retirando muito da influência dos filmes da Pixar, a Disney oferece-nos uma película cheia daquilo que, ano após ano, faz os espectadores voltarem às salas de cinema para verem filmes de animação: uma história com coração, capaz de tocar sensibilidades de todas as idades, apesar de superficialmente destinada para as crianças; um trabalho técnico de deixar qualquer um de queixo caído; e o bom humor de sempre. Aliados estes elementos à bonita homenagem aos jogos de outrora, este é um filme a não perder, por miúdos e graúdos!

terça-feira, 2 de abril de 2013

O regresso às origens de Carla Bruni

Muito se disse já do novo álbum da cantora que nasceu com apelido Tsdeschi e hoje responde oficialmente como Carla Bruni-Sarkozy mesmo antes das suas canções terem sido tornadas públicas. Já se falou do Le Pingouin que pode aludir à figura do atual presidente francês (que derrotou o marido da cantora, o ex-presidente Sarkozy nas últimas presidenciais), ou nem por isso. Já se levantou a hipótese de Mon Raymond ser dedicatória ao marido... Fez notícia o momento, em plena entrevista, se levantou e saiu quando as perguntas saíram da música para avançar para questões ligadas a Sarkozy... E que tal, agora, ouvirmos mesmo o disco? Sob o título Little French Songs o quarto álbum da ex-modelo e ex-primeira dama francesa é novamente assinado com o seu nome artístico de sempre: Carla Bruni. E depois de uma experiência em língua inglesa em No Promises em 2007, do menos inspirado Comme Si De Rien N'Etait (editado em 2008, poucos meses depois do seu casamento) e de um silêncio musical que manteve desde então, eis que parece querer reencontrar no alinhamento do novo disco a voz, a sonoridade e a simplicidade de arranjos que fez das canções da inesperada e surpreendente estreia de Quelq'un M'A Dit um dos acontecimentos maiores da música em língua francesa depois da viragem do milénio. Estamos por isso num terreno que conhece e onde nos deu o seu melhor disco, a voz e a companhia próxima da guitarra sendo o núcleo de um conjunto de pequenas trovas de alma autobiográfica (notem-se ecos de um encontro com Keith Richards ou todo um rol de recordações que escutamos em Dolce Francia), observadora ou confessional que acolhem arranjos simples que sabem que ao juntar pouco fazem muito por canções que transportam musicalmente ecos de heranças que tomam Françoise Hardy como possível referência maior num quadro que todavia abre horizontes a outras influências (entre elas as tonalidades mais estivais que habitam Chez Keith et Anita ou uma certa placidez pastoral herdada de ecos folk dos sessentas). Sem causar a surpresa do álbum de estreia (acendendo contudo mais preconceitos pelo facto da cantora hoje ser ex-Primeira Dama, como se esse fosse aqui um valor musicalmente marcante) Little French Songs é todavia o sucessor natural de Quelq'un m'a Dit que nenhum dos seus outros discos quis ser.